Mercadante: o golpe foi dado para frear Lava Jato

Em entrevista exclusiva ao 247, o ex-ministro Aloizio Mercadante afirma que fica cada vez mais evidente que o golpe parlamentar de 2016 teve como objetivo central tentar frear a Lava Jato, que se aproxima do PMDB; ele diz ainda que a tese de que o PMDB traiu a presidente Dilma Rousseff em razão de aproximações com PSD e Pros é absurda; "Essa é mais uma dentre tantas outras teses, amplamente difundidas pelos golpistas, para enfraquecer o governo Dilma na época e justificar a articulação golpista.  Eles precisam criar essas teses absurdas para justificar a traição de Michel Temer e seus aliados", diz ele; leia a íntegra

Mercadante: o golpe foi dado para frear Lava Jato
Mercadante: o golpe foi dado para frear Lava Jato (Foto: Sergio Lima/Folhapress)


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247 – Em entrevista exclusiva ao 247, o ex-ministro Aloizio Mercadante afirma que fica cada vez mais evidente que o golpe parlamentar de 2016 teve como objetivo central tentar frear a Lava Jato, que se aproxima do PMDB.

Leia abaixo:

247 – Seus opositores atribuem a sua passagem pela Casa Civil como um dos principais motivos do desgaste da relação do governo Dilma com o PMDB, especialmente por uma suposta articulação com o PSD e com o Pros para enfraquecer o PMDB. O que houve de fato?

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Mercadante – Essa é mais uma dentre tantas outras teses, amplamente difundidas pelos golpistas, para enfraquecer o governo Dilma na época e justificar a articulação golpista.  Eles precisam criar essas teses absurdas para justificar a traição de Michel Temer e seus aliados. O golpe, como eles mesmo assumem, começou a ser articulado no parlamento já em março de 2015. 

O PMDB sempre teve amplo espaço no governo. Ocupava a presidência da Câmara e do Senado, além da própria vice-presidência da República e cinco ministérios. Na última reforma ministerial foram, inclusive, contemplados pela presidenta Dilma com mais um ministério. 

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Agora, estamos falando de um partido extremamente fragmentado, com diversas divergências internas e entre Câmara e Senado. Um partido de difícil negociação e que teve importantes lideranças com atuação e participação direta e desde o início na articulação do golpe. A realidade é essa. Criam teses para tentar justificar o injustificável, a traição à presidenta e o golpe, que se materializou com um impeachment sem crime de responsabilidade. Um golpe na democracia e nos mais de 54 milhões de votos que ela recebeu. 

247 – Se não houve uma tentativa de esvaziar a atuação do PMDB, ao que você atribui o processo de impeachment?

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Mercadante – Hoje, os motivos são amplamente conhecidos. Em primeiro lugar, o golpe foi forjado na tentativa inconfessável ao público de estancar a Operação Lava Jato. 

Temos também a tentativa de retomar a implementação de uma agenda neoliberal tardia, que foi derrotada nas urnas em quatro eleições presidenciais sucessivas. Eles prometeram um choque de retomada da confiança e estão entregando mais recessão e um retrocesso sem precedentes nas políticas de inclusão social e distribuição de renda. Plantaram traição e estão colhendo instabilidade.

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É preciso entender que a crise econômica é, em grande parte, fruto da crise política. São indissociáveis. Eles fizeram o jogo do quanto pior melhor e aprofundaram o cenário da crise econômica.  Tudo isso somado a um cenário já difícil de queda dos preços das commodities e da pior seca dos últimos 80 anos, que com a desvalorização forte e rápida do real e pressão sobre os preços de energia aceleram a inflação em 2015.

Acontece que não se restabelece confiança com um governo ilegítimo e sem credibilidade internacional. Ainda há muita luta pela frente.   A história é implacável e o golpistas pagarão um preço muito alto pela traição e pelo golpe. Confiança se conquista com legitimidade e democracia. 

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247 – E quanto a articulação com PSD e Pros?

Mercadante – Deixa eu te falar uma coisa, a escolha de ministros sempre foi uma atribuição única e exclusiva da presidenta. Nos governos Lula e Dilma, a educação foi uma prioridade estratégica e a escolha dos ministros da educação sempre foi exclusivamente técnica, jamais o MEC foi utilizado para loteamento dos partidos.  A tese de que as nomeações de Cid Gomes, foi uma tentativa de enfraquecer o PMDB não têm qualquer procedência. 

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247 – Por que, então, a nomeação do Cid Gomes no início do segundo mandato?

Mercadante – Como eu te disse, a escolha para MEC sempre foi técnica, a educação era a prioridade das prioridades do governo.  O Cid era um governador reeleito, que fez um excelente trabalho na educação no estado do Ceará, especialmente na alfabetização e na educação básica, com resultados expressivos. O Ceará teve um salto extraordinário em indicadores como o Ideb. Um exemplo claro era o município de Sobral, que está com a educação entre as melhores do país e o melhor desempenho entre todas as cidades do Nordeste. Foi fundamentalmente o Pacto pela Alfabetização na Idade Certa que estávamos implantando a nível nacional, que impulsionou Cid Gomes à condição de Ministro da Educação  

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Além disso, seu grupo político tinha rompido com o PSB, que lançou Eduardo Campos para presidência, para apoiar a Presidenta Dilma e manter a frente popular. Tivemos uma das mais importantes vitórias de todo o Brasil no Ceará, com a eleição, também, do governador Camilo pelo PT. 

O Pros era um partido pequeno sem organicidade, não fazia o menor sentido imaginar que pudessem substituir o PMDB. Isto é uma completa bobagem. Depois do Cid, a presidenta nomeou o Renato Janine, um intelectual e professor, que sequer possuía filiação partidária. 

O MEC sempre foi blindado e preservado de indicações partidárias, premissa que já foi totalmente abandonada pelos golpistas. Hoje, temos um ministro que tem como referência péssimos indicadores educacionais quando foi vice-governador e governador de Pernambuco e que sempre foi contra as políticas de inclusão, como as cotas, o Enem e o ProUni.  O resultado é que em muito pouco tempo já promoveram retrocessos enormes na educação como o fim do Pronatec, do Ciência Sem Fronteiras e do novo sistema de avaliação da educação superior. Sem falar na autoritária reforma do ensino médio e na PEC que compromete o Plano Nacional de Educação e os investimentos em educação pelos próximos vinte anos. 

247 – E o PSD?

Mercadante – O PSD se fortaleceu nas eleições de 2014 e, naquele momento, também decidiu apoiar a candidatura da Presidenta Dilma. Foram muito assediados pela candidatura de Aécio, inclusive com a possibilidade de indicar o candidato a vice, e não o fizeram.  O​ Kassab, apesar de sempre ter sido meu adversário político em São Paulo e ter por muito tempo orbitado no entorno do Serra, era a principal liderança do partido e vinha da experiência de gestão da maior e mais importante cidade do país. Eles não tiveram nenhum ministério no primeiro governo Dilma, por estas duas condições a Presidenta o indicou para o Ministério das Cidades. 

É importante relembrar também que o Affif era vice-governador do estado de São Paulo e rompeu com o Alckmin para nos apoiar, acompanhando o Kassab e o PSD. Foi colocado em um ministério responsável por uma pauta que ele sempre defendeu e apoiou, que é a questão da micro e pequena empresa. 

Com uma eleição extremamente acirrada, como foi a de 2014, e com o PSDB não aceitando a quarta derrota seguida nas urnas, sem falar na interdição completa do parlamento liderado por Eduardo Cunha, além das seguidas pautas bombas no Congresso, precisávamos tentar compor uma base de deputados. Nós vencemos as eleições presidenciais, mas perdemos as eleições parlamentares, e tínhamos um Congresso mais conservador e com forte inclinação à direita.

Agora, eu queria falar de um outro assunto, seria possível?

247 – O espaço está aberto.

Mercadante – Parte da grande imprensa tem, sistematicamente, omitido informações sobre a minha recente aposentadoria. Comecei a trabalhar em 1973 e, como professor, em 1978. Minha aposentadoria inclui todo o tempo de professor da Unicamp. Sou economista, fui deputado federal por dois mandatos, senador da República e ministro de Estado por cinco anos e meio.

Tive uma vida dedicada ao trabalho e à militância política. Já tinha direito a solicitar aposentadoria há mais de dois anos, mas só formalizei quando deixei o governo, ao contrário do outros Ministros e presidentes da República que se aposentaram precocemente e acumularam as remunerações. 

A aposentadoria pelo Senado foi concedida contando todo este histórico de servidor público. Fiz a opção de me aposentar como parlamentar, proporcional ao tempo de contribuição, por dezesseis anos, perdendo o direito como professor doutor de universidade pública, a Unicamp.

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