Autoritarismo, negação da política e alta rejeição: os perigos para Bolsonaro

Para o sociólogo Leonardo Rossatto, a incapacidade do líder da extrema-direita em construir palanques estaduais e seu autoritarismo na gestão partidária pode deixá-lo fora do segundo turno; neste domingo, Jair Bolsonaro deve apresentar Janaína Paschoal como vice, após ter sido preterido por diversos partidos

Autoritarismo, negação da política e alta rejeição: os perigos para Bolsonaro
Autoritarismo, negação da política e alta rejeição: os perigos para Bolsonaro (Foto: REUTERS/Paulo Whitaker)


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Por William De Lucca – A possibilidade do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) alcançar a presidência da República tem preocupado a parcela mais progressista da sociedade. Líder das pesquisas quando o ex-presidente Lula (PT) não é citado ou na segunda posição nas que o petista aparece, Bolsonaro tem se consolidado como força política nesta eleição, mas ainda precisa enfrentar seu principal adversário: ele mesmo.

Para o sociólogo e especialista em políticas públicas Leonardo Rossatto, Bolsonaro enfrenta três problemas que tem impedido que ele consiga compor alianças e conseguir um candidato a vice em um partido aliado: a negação da política, o autoritarismo e a alta rejeição.

Neste domingo (22), o PSL realiza sua convenção nacional e deve indicar a jurista Janaína Paschoal, um dos símbolos do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff (PT), como candidata a vice por falta de opção: Bolsonaro foi preterido por PR e PRP na busca de um companheiro de chapa.

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“Ele tenta se vender como ícone da negação da política. Então costurar alianças com partidos políticos que de alguma forma representam o status quo não é exatamente a prioridade dele. Pra fechar uma aliança, Bolsonaro tem que enxergar muitas vantagens nela”, explica Rossatto.

Além disso, a postura autoritária do pré-candidato do PSL já causou quatro mudanças de partido nos últimos anos. Filiado ao PP entre 2005 e 2015, deixou a legenda quando viu que não teria espaço para o seu projeto presidencial, migrando para o PSC, onde ficou entre 2016 e 2018, mas que também lhe negou espaço para candidatura majoritária.

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“Bolsonaro saiu do PSC porque queria impor a sua agenda exclusiva, anunciou a ida para o Patriotas, mas acabou se convencendo a ir pro PSL depois que o Bivar anunciou que sua ida seria ‘sem restrições’. Isso levou à saída do Livres do partido. Então Bolsonaro deve estar exigindo muito dos partidos, tentando usar a máquina enquanto tira a autonomia deles, e isso ninguém vai aceitar, ainda mais em uma eleição com cláusula de desempenho pra Câmara”, diz o sociólogo.

Rossato destaca ainda o programa de governo do candidato do PSL e sua coleção de posições polêmicas, muitas delas discriminatórias, como um impedimento para a construção de alianças.

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“Quando um partido pensa em se aliar com Bolsonaro, tem que pensar que a maioria dos votos vai se tornar inacessível, porque Bolsonaro tem propostas amplamente rejeitadas, uma estrutura de campanha pífia fora das redes sociais e o seu eleitorado tem um perfil específico (muitos nem votam ainda, tem muita gente de igreja já "curralizada") e isso atrapalha um monte se a intenção for eleger o maior número possível de deputados federais”, ressalta.

Campanha ameaçada

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Além dos pontos já apontados, a falta de alianças e de palanques estaduais é mais uma ameaça na candidatura do militar da reserva. O sociólogo explica que Bolsonaro tem postado em um modelo de campanha que levou Trump a vencer as eleições nos Estados Unidos, baseado em redes sociais, mas que tal fenômeno não poderia se aplicar ao Brasil.

“A última pesquisa CNT/MDA mostrou que aproximadamente 60% dos eleitores acessam as redes sociais com alguma frequência. Pode parecer muito, mas é justamente nos 40% de pessoas que não acessam as redes que Bolsonaro tem seu pior desempenho. É justamente nesses 40% que está a maior fatia de indecisos também. A estratégia de Bolsonaro de priorizar as redes praticamente descarta 40% do eleitorado, o que coloca em risco a viabilidade de qualquer campanha política”, lembra Rossatto.

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A campanha convencional no Brasil, em palanques, com alianças, ainda é muito preponderante, especialmente entre as classes mais baixas e apostar só na Internet pode fazer Bolsonaro ficar fora do segundo turno sim, até mesmo pelo perfil de seu eleitorado.

Estas dificuldades podem deixar inclusive o candidato da extrema-direita fora do segundo turno, já que ele pode estar batendo em seu ‘teto’ nas pesquisas. “Essa semana tivemos uma amostra da estratégia que Bolsonaro vai tentar usar para se manter na liderança até outubro: a de desvirtuar de forma cada vez mais absurda as coisas, e um exemplo disso é o discurso em que ele fez defendendo os policiais que mataram os membros do MST em Eldorado dos Carajá”.

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Rossatto cita outro exemplo: a notícia falsa em relação à inclusão dos pedófilos no movimento LGBT. “Essas invenções são única e exclusivamente pra que a pauta da discussão de propostas, onde ele passa vergonha, seja totalmente interditada, enquanto o nome dele aparece por conta da polêmica. Mas esse tipo de coisa, além de ter alcance limitado, causa ainda mais rejeição entre os eleitores indecisos. Com os debates esse movimento de queda deve se consolidar”, finaliza.

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