Ana Amélia e Agripino apoiam criminalização da homofobia

Seminário coordenado por Marta Suplicy termina com adesão de senadora do PP e presidente do DEM

Ana Amélia e Agripino apoiam criminalização da homofobia
Ana Amélia e Agripino apoiam criminalização da homofobia (Foto: André Borges /Folhapress)


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247 - Os senadores José Agripino Maia (DEM-RN) e Ana Amélia (PP-RS), líderes de seus partidos, participaram nesta terça-feira 15, em Brasília, do Seminário "Diferentes, mais iguais", organizado pela senadora Marta Suplicy para discutir a criminalização da homofobia (PLC 122). Marta, relatora do projeto, avaliou que a presença deles e o apoio à matéria demonstra que o tema avança no Senado.
Agripino Maia fez um discurso defendendo o direito das pessoas homossexuais e cobrando enfrentamento à impunidade. Segundo ele, o papel do Senado é criar leis que impeçam a impunidade.
A senadora Ana Amélia, após acompanhar o depoimento de Tania Teixeira, mãe do menor T.C., de 16 anos, destacou que a mãe fala "de maneira serena, sem ódio ou rancor, mas como uma mãe que acompanha o drama, a intolerância".
Para a senadora, a pacificação da nossa sociedade, a redução da violência, só vai acontecer com "leis rigorosas e claras, com a certeza de punição". Ana Amélia destacou apoio às ações da senadora Marta.
Essa mesa foi marcada pela emoção dos depoentes e da plateia de ativistas LGBTs.

Adrielle
As primeiras convidadas a falar foram Kelly e Késia Camacho, irmãs de Adrielle Camacho, morta em março do ano passado. A adolescente tinha 16 anos, quando foi assassinada em Itarumã, Goiás. Kesia recontou a história da jovem, que sofreu forte rejeição ao namoro pela família da namorada. Mas, Adrielle acreditou na promessa do "cunhadinho", de ajudá-la a viajar de Cassilandia, Mato Grosso do Sul, para Itarumã, para fugir com a namorada para um local onde pudesse viver o relacionamento. Foi uma armadilha. Ela foi morta a facadas e enterrada em cova rasa.
A polícia qualificou o crime perpetrado contra Adrielle como "homofóbico" porque a família era contra o relacionamento. Kesia descreveu detalhes da angústia na procura pela irmã e o horror de encontrá-la barbaramente assassinada. Kelly, muito emocionada, não consegui falar.

"Não vou pedir um minuto de silêncio. Vou pedir um grito de vida"

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Janaína Lima, travesti, pediu um grito em favor da vida. "Tenho 36 anos. Se consegui chegar aqui, foi para reivindicar direitos e repensar o nosso papel. Para algumas pessoas, sou uma doente. Para outras, sou marginal. Para alguns, sou pecadora. O fato é que o Brasil tem liderado o ranking de travestis assassinados. E os assassinatos são feitos com requintes de crueldade. A pessoa (o travesti) é desfigurada. Por que a pessoa tem que sumir? Eu apanhei, sofri violência psicológica e levei facadas. Agora, quero o direito à vida! Não quero privilégios. Queria uma resposta. O que o Senado está fazendo para mudar esta situação?"
Janaína contou que em, 2010, perdeu "uma grande companheira de luta, em Campinas". "Só uma pessoa foi condenada pelo crime. Mas quem viu como ela ficou, sabe que um só não faria aquilo. A sociedade está com as mãos sujas de sangue", desabafou sobre a impunidade.
"Não vou pedir um minuto de silêncio. Vou pedir um grito de vida. Sou cidadã na hora de votar, sou obrigada a pagar imposto de renda. Mas tenho medo de andar sozinha em qualquer espaço", lamentou.

"Deus me deu um anjo. É um menino educado, sensível e inteligente, mas também é solitário e triste."

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Tânia Teixeira, mãe do menor C. T, de 15 anos, disse que demonstrava ali seu apoio à aprovação do projeto de lei que criminaliza a homofobia (PLC 122). "Não sou uma ativista. Mas, após ouvir os relatos das pessoas que me antecederam, sou grata a Deus, por meu filho estar vivo! As pessoas que agridem não sabem aceitar as diferenças. Deus me deu um anjo. É um menino educado, sensível e inteligente, mas também é solitário e triste. Como mãe, abençoada que sou por ter meu filho vivo, agradeço por estar aqui hoje. A homofobia é praticada todo dia, a todo momento. Tolerar a prática da homofobia é tão ou mais grave que praticá-la. A lei não vai mudar o mundo nem acabar com a homofobia, até que a população se conscientize."

"Fui humilhado agredido moral e fisicamente. Mas o promotor ofereceu acordo a quem me agrediu!"

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O menor T.C. também prestou depoimento à plateia do seminário. "Eu não escolhi ser gay. Nasci assim. Tento ser feliz. Sobreviver ao preconceito. Fui humilhado agredido moral e fisicamente. Mas o promotor ofereceu acordo a quem me agrediu! Ouvi, durante a briga, 'não vale a pena ir à cadeia por causa desse viado'. Acho que, por isso, sobrevivi. Mas, se eu falasse que era gay, quando denunciei, os policiais não me levariam a sério. No meu caso ocorreram vários erros. Não me deram chance – na apuração das agressões – de acrescentar nada ao primeiro relato. Como assim ? Se safam com um acordo? Eu poderia nem estar aqui hoje! Homofobia, violenta, ou agressiva, não pode ser fato alheio ao direito penal. Não percamos a visão do momento social! Não vamos mudar o mundo, ou acabar com a homofobia com uma caneta, mas é preciso olhar para as gerações futuras."

"Não suporto homossexuais!"

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Marlene Xavier, uma das "mães da igualdade", falou da dor da perda de um filho para sempre. Igor Xavier, homossexual assumido, foi brutalmente executado em Minas Gerais, há 10 anos. Em seu depoimento, o acusado pelo assassinato disse: "não suporto homossexuais!".
Passados tantos anos, o crime continua impune e a mãe de Igor, Marlene Xavier, continua sua saga na busca de que se faça justiça.

"São 10 anos que eu não vejo o brilho dos olhos do meu filho, o som da sua risada cristalina"

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O depoimento de Marlene Xavier: "Admiro muito todas as mães de homossexuais que conheço e a senadora Marta pela postura face aos acontecimentos que nos magoam tanto. Não existe a lei pra punir o crime homofóbico. Em 2002, meu filho foi atraído a um apartamento do Centro da cidade de Montes Claros (Minas Gerais). Foi abatido: cinco tiros. Depois, arrastaram o corpo escada abaixo e o colocaram numa 'pick-up'. Foi jogado em estrada vicinal. Crime cometidos por pai e filho. E eles estão em plena liberdade. Deixaram muita dor, saudade pela maneira que o tiraram do nosso convívio. Fizemos de tudo – para tentar a condenação dos acusados. Não me nego a comparecer a nada. São 10 anos que eu não vejo o brilho dos olhos do meu filho, o som da sua risada cristalina. A pessoa alegre que ele era. Há 10 anos, não sinto seu abraço. Foi assim que passei o dia das Mães. Sinto revolta pelo que aconteceu com Igor. Mas, tenho mais filhos homossexuais. Sou premiada porque, ao perceber a orientação sexual dos meus filhos, percebi o caráter deles: pessoas lindas por dentro e por fora. Estão bem, felizes e tranquilos. Em Montes Claros, fizemos passeatas e atos públicos. Promovemos a semana cultural Igor Xavier, para manter a memória do meu filho. Mas, já estou perdendo a esperança que esse julgamento aconteça. E o alento da minha vida é a busca pela justiça. Temos um vídeo contando o caso na internet. A quem puder acessar, assistir o vídeo e assinar o pedido que fazemos às autoridades pelo julgamento do caso, vai nos ajudar muito (http://igorvive.blogspot.com.br/2009/02/carta-de-marlene-xavier-mae-de-igor.html) E vamos batalhar a mudança do código penal! Há hoje tantos recursos aos assassinos que acaba se permitindo a impunidade. Conseguiram apagar a vida do meu filho, mas não deixarei que apaguem sua memória, enquanto eu viver".

Numa das últimas intervenções dessa mesa, a deputada federal Érika kokai (PT-DF) assinalou que é preciso "romper com o medo". "Antes do gatilho e da faca, há um processo de desumanização simbólica. É como se as pessoas não tivessem possibilidade de existir. O país precisa dar um basta à discriminação e à homofobia. Homofobia tem cura: educação e criminalização. Não nascemos homofóbicos. É uma construção – e pode haver uma desconstrução disso."

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O Seminário terminou com uma mesa que discutiu aspectos legais e constitucionais em prol da aprovação do PLC 122. O debate continua no Senado, sem previsão ainda de quando o PLC 122 será colocado em votação. A relatora do projeto, senadora Marta, defende que é preciso apoio da população - não só da parcela gay, mas de toda a sociedade, para o projeto ser aprovado.

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