Colunistas já veem Lula como "presidente emérito"

Bento XVI já é o primeiro "papa emérito" da história e inspira jornalistas de jornais conservadores, como João Bosco Rabello, do Estado de S. Paulo, a definir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como "Sua Eminência, o presidente emérito"; segundo Ricardo Noblat, do Globo, Lula poderia aprender com o papa como se renuncia ao poder (ainda que Bento XVI tenha deixado o pontificado justamente para oprimir seus opositores e permanecer no poder); o fato concreto é que a sombra projetada por Lula incomoda muito

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247 - Desde as 16h desta quinta-feira, Bento XVI é o primeiro "papa emérito" da história – aquele que renunciou sem renunciar. Ainda que seu gesto tenha sido retratado por admiradores como uma demonstração de desapego daquele que passa a ser apenas "mais um peregrino", o fato é que a renúncia de Joseph Ratzinger foi um gesto político extremamente calculado, que oprimiu seus opositores e lhe deu força, na Cúria Romana, para influenciar o próximo conclave, antecipado por ele próprio.

A criação desse figura, a de um "papa emérito", inspirou colunistas de jornais conservadores (ou do Partido da Imprensa Golpista, o chamado PIG) a retratar o ex-presidente Lula como o primeiro "presidente emérito" do Brasil – uma imagem melhor do que a do "presidente-adjunto", como definiu Fernando Henrique Cardoso, numa imagem "ridícula", segundo Lula (leia mais aqui).

O primeiro a fazer a tirada com "sua eminência, o presidente emérito", foi João Bosco Rabello, do Estado de S. Paulo, que aponta Lula como um presidente paralelo. Depois dele, Ricardo Noblat, do Globo, usou seu Twitter para dizer que Lula deveria aprender com Bento XVI como se renuncia ao poder. Ocorre que Ratzinger fez justamente o contrário. Renunciou para preservar e até ampliar seu poder (leia mais aqui). O fato concreto é que a sombra projetada por Lula incomoda – e muito.

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Abaixo, a coluna de João Bosco Rabello, em que Lula é chamado de "presidente emérito":

Sua Eminência, o Presidente Emérito

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Avaliação suprapartidária corrente nos meios políticos traduz o lançamento da candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição como um movimento tático restrito à conveniência do ex-presidente Lula de antecipar o debate eleitoral, porém sem excluí-lo como alternativa em 2014, caso as circunstâncias políticas determinem.

A leitura reforça a percepção comum de que Lula mantém as rédeas da estratégia política do governo, atuando como um presidente paralelo,  ou adjunto como provocou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para não desperdiçar a oportunidade de analogia com Roma, uma espécie de presidente emérito, como sugerem os vaticanólogos aspirar o ex-papa Bento XVI.

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São de Lula todos os movimentos estratégicos do governo, inclusive o que se refere aos momentos em que a presidente da República dissimula seu notório fastio para o exercício da política, submetendo-se ao script do seu criador para se dedicar à preservação das alianças destinadas a fidelizar sua ampla e heterogênea base de sustentação.

A cara de paisagem da presidente diante da decisão pública de Lula de trocar o vice-presidente Michel Temer pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), com o intuito de evitá-lo como concorrente em 2014, é um sinal ostensivo da submissão do Planalto ao comando político do ex-presidente.

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Da mesma forma, a negação pela presidente Dilma do reconhecimento dos êxitos do governo Fernando Henrique, feito no início de seu governo, atende a uma cobrança do PT que jamais engoliu o elogio ao adversário. O momento eleitoral foi a oportunidade para Lula impor a “correção” e deixar o dito pelo não dito.

Seria natural a movimentação do ex-presidente em favor do que chama de projeto de governo popular que propaga desde sua posse, se desenvolvida dentro dos limites que configurassem a liderança da atividade partidária. Mas o ex-presidente jamais se manteve dentro dessa fronteira, fazendo de seu Instituto Lula, uma base de operações que o mantém na cena como a eminência parda , da qual emana o poder real.

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Foi  para prestigiar o Fórum pelo Progresso Social, promovido pelo Instituto Lula, que a presidente Dilma adaptou programação oficial em Paris, em dezembro passado, ocasião em que os ministros que a acompanhavam foram chamados para uma reunião com o ex-presidente.

Não foi a única: muitas outras ocorreram ostensivamente, dentro e fora do Instituto, uma delas com o então ministro da Educação, Fernando Haddad, que Lula fez ministro, depois prefeito de São Paulo, condição em que Haddad assistiu passivamente o padrinho político comandar a primeira reunião de seu secretariado.

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São muitos os exemplos, importando observar que não há a mais remota preocupação em sequer criar pretextos que pudessem justificar partidariamente os encontros. São reuniões administrativas com objetivo claro de estabelecer diretrizes de gestão.

Seria o caso de lembrar a máxima do Conde de La Rochefoucauld, segundo a qual a “hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude”, na medida em que o hipócrita a reconhece ao tentar maquiar suas ações ilegítimas, dando-lhes aparência outra. Lula não está preocupado com liturgias públicas, induzindo a plateia à interpretação de que opera ostensivamente para sinalizar quem manda de fato.

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Com esse comportamento, espanta que julgue ilegítimo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se manifestar como presidente de honra do PSDB. “Eu acho que ele deveria ficar quieto”, disse, sem se dar ao trabalho de debater o mérito das questões levantadas pelo adversário.

É o mesmo viés autoritário que promove episódios lamentáveis como o das agressões à blogueiracubana Yoani Sanchez, parcialmente impedida de cumprir sua agenda no Brasil por manifestantes vinculados ao PT, cujo propósito único era o de inviabilizar sua programação. É a ação para calar a boca, DNA da doutrina do pensamento único, que predomina no mundo petista.

Pode se entender por aí, porque Lula concluiu da leitura do livro de Doris Kearns Goodwin, sobre a presidência de Abraham Lincoln à época da guerra civil norte-americana, que tem a mesma estatura do ex-presidente dos Estados Unidos, promotor da luta contra a escravidão.

“Fiquei impressionado como a imprensa batia no Lincoln em 1860, igualzinho bate em mim, porque é uma gente que não gosta de progressista”, disse, comparando-se ao estadista americano para, em seguida, propor a criação de uma mídia própria, para fazer circular sua versão de mundo.

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