Veja e Época trocariam Dilma por Margaret

Na Inglaterra, o legado da dama de ferro Margaret Thatcher é objeto de grande controvérsia; para muitos analistas, ela, que foi a favor até do apartheid na África do Sul, é vista como a mãe da desigualdade social; no entanto, Veja listou diversas lições que a presidente Dilma deveria aprender com Thatcher; Época afirmou que a bandeira brasileira deveria ser hasteada a meio pau; aqui ela tem mais seguidores do que em seu país natal

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247 - Por incrível que pareça, Margaret Thatcher tem mais seguidores no Brasil do que na Inglaterra. Se  em Londres há até festas programadas para celebrar sua passagem e diversos analistas apontam um legado ambíguo deixado pela dama de ferro, que deflagrou a Guerra nas Malvinas, promoveu políticas que geraram desigualdade social e apoiou a segregação racial na África do Sul (enquanto seu filho fazia negócios com o regime do apartheid), por aqui ela é celebrada na imprensa conservadora.

Veja, por exemplo, lista diversas lições que Dilma deveria aprender com Thatcher. Leia abaixo:

A presidente Dilma Rousseff e a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher - que morreu nesta segunda-feira, em Londres - chegaram ao poder lançando mão de algumas características similares: ambas foram, a seu tempo, implacáveis, centralizadoras e intransigentes. Não assumiram o governo de seus países graças ao carisma ou simpatia - e tampouco pilotaram seus gabinetes de forma pacífica e bem-humorada. Contudo, as semelhanças param por aí. Enquanto a presidente brasileira poderia utilizar seu pulso firme para implementar reformas dolorosas, como fez Thatcher na Grã-Bretanha, Dilma vem aplicando sua intransigência na direção oposta: por meio da política fiscal frouxa, da negligência em relação à inflação e do intervencionismo do estado. 

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A Grã-Bretanha que acolheu Thatcher em seu primeiro mandato no Parlamento, em 1979, era bem diferente do Brasil de hoje. O estado britânico funcionava como um mastodonte burocrático, neutralizado por décadas de ineficiência, pelo protecionismo implementados no pós-guerra e com o estado controlando inúmeras empresas. Apesar de, em muitos casos, o Brasil se enquadrar nesta descrição, o país encontra-se numa posição mais dinâmica devido aos avanços regulatórios e à abertura de mercado ocorridos na década de 1990. No país europeu, a influência de governos de viés socialista ainda castigava o setor privado nos idos de 1970. Empresas eram obrigadas a manter muitos de seus funcionários em regime de férias coletivas devido à impossibilidade de fazer demissões. Ainda assim, o país vivia em greve constante devido à força política dos sindicatos. As grandes fortunas eram tributadas em 83% pelo estado e a poupança do cidadão comum, em 33%. O imposto sobre ganho de capital chegava a 98%. A taxa de desemprego beirava os 10% e a inflação anual ultrapassava 20%.

Thatcher era avessa a políticas caridosas que deixassem a população escrava das benfeitorias do estado - ao contrário de programas assistencialistas, como o Bolsa Família. Ela mesma nasceu em família humilde e teve de submeter-se a inúmeros sacrifícios para não perpetuar a vida de pobreza na qual foi criada. Quando chegou ao poder, 30% das moradias do país (o equivalente a 1,5 milhão de casas) eram do estado. Uma de suas primeiras mudanças foi estimular a população a adquirir as residências. Segundo ela, o controle estatal deveria se restringir à saúde e à segurança pública - e a economia deveria ser regida pelos preceitos do livre-mercado. "Governos não criam riqueza. Quem faz isso são as indústrias e os serviços. É o povo com sua própria bagagem e sua própria capacidade de iniciativa", disse em entrevista à VEJA, em março de 1994. Na Grã-Bretanha pré-Thatcher, o intervencionismo do estado chegava ao ponto de qualquer aumento de preços necessitar de autorização prévia do Ministério das Finanças - modelo que, ironicamente, parece servir de inspiração para a política de retrocesso que vem sendo implementada na Argentina pelo governo de Cristina Kirchner.

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Diante da conjuntura desfavorável, a primeira-ministra recém-empossada poderia utilizar inúmeras ferramentas políticas para garantir popularidade e continuidade do Partido Conservador no comando do Parlamento - e, acima de tudo, firmar sua própria posição no seio do Partido, já que ela mesma era alvo de intenso fogo amigo. Mas Thatcher optou pelo caminho mais tortuoso e impopular por acreditar que era a única solução para tirar a Grã-Bretanha, em definitivo, da crise financeira que a assolava.

Ela enfrentou a inflação com pulso de ferro valendo-se da teoria econômica neoclássica: aumento de juros e corte de gastos públicos. Reduziu o tamanho do estado por meio de cortes sistemáticos de subsídios e eliminação dos controles de preços. Reduziu gastos em todos os programas governamentais, exceto a polícia, a defesa e o sistema de saúde. Diminuiu as alíquotas de imposto sobre fortunas e ganhos de capital, mas, para equilibrar a perda de arrecadação, aumentou os impostos no setor de serviços, que era o único respiro da economia britânica. 

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Em 1981, os efeitos de curto prazo de tal política foram devastadores. O consumo despencou, o desemprego havia aumentado para 12%, o investimento privado caiu 11% e a inflação teimava em subir. O cenário econômico somado ao descontentamento da população fizeram dos primeiros dois anos do governo Thatcher o período mais impopular de sua gestão. No início de 1981, apenas 25% da população aprovava a gestão da Dama de Ferro - e os próprios conservadores duvidavam que Thatcher pudesse aguentar a pressão. O autor norte-americano Richard Aldous conta, na obra Thatcher e Reagan, uma Relação Difícil (Editora Record), que 364 economistas das principais universidades britânicas chegaram a enviar uma carta ao governo condenando as medidas econômicas adotadas pela premiê. No Brasil, ao final do segundo ano de mandato, a economia sob a gestão de Dilma patina, mas a popularidade continua em alta, com a aprovação de seu governo por mais de 60% da população.

Contudo, a partir de 1982, os efeitos recessivos cederam, a inflação recuou para 8,6% e a economia voltou a crescer. A partir de então, o governo levou a cabo um extenso programa de privatização, em que empresas como a Jaguar e a British Petroleum (BP) foram adquiridas por investidores privados. Thatcher optou por não privatizar a saúde pública, mas implementou técnicas de gestão para torná-la mais eficiente. Em 1987, a inflação havia baixado para 4% ao ano e a economia crescia 5%. O desemprego em queda e o aumento dos salários de forma sustentável evidenciavam a recuperação econômica.

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Thatcher ficou no poder de 1979 a 1990, tempo mais do que suficiente para os princípios que defendia (menos governo, menos despesas e independência em relação à União Europeia) se fixassem profundamente no modo de vida britânico - perdurando até os dias de hoje. Isso não significa, contudo, que a ex-premiê fosse unanimidade: foi derrubada do poder em 1990, quando seu próprio partido se voltou contra ela. O gatilho da crise interna do Partido Conservador que levou Thatcher a perder o posto foi sua recusa tenaz em integrar a Grã-Bretanha à zona do euro, prevendo que esta seria uma babel dominada pela Alemanha e sacudida por crises econômicas. Os 22 anos desde então só confirmam seu vaticínio.

O Brasil, por sua vez, dispõe de armas muito mais afiadas para combater males econômicos, pois está longe de viver a recessão que assolava a Grã-Bretanha no momento em que Thatcher assumiu o poder. Porém, é comandado pelas ideias erradas. O mercado interno aquecido, o endividamento público estável e a confiança dos investidores que permanecem no país apesar do intervencionismo petista seriam ferramentas suficientes para que a presidente pudesse implementar medidas impopulares, mas certeiras, como uma verdadeira reforma tributária - e não a colcha de retalhos que vem sendo tecida nos últimos meses, em que impostos de determinados setores sobem, e outros são reduzidos, criando insegurança jurídica para investidores. Em vez de abrir a economia para a concorrência externa como forma de estimular os investimentos privados e a produtividade, vê-se o oposto: protecionismo a setores escolhidos a dedo, como o automotivo, em troca da manutenção do emprego. Medidas impopulares são vetadas, pois atrapalham propósitos eleitoreiros. Dilma é Thatcher às avessas - pior para o Brasil.

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E Época defende que a bandeira brasileira seja hasteada a meio pau. Confira:

Os jornalistas, a morte de Lady Thatcher e o luto dos liberais

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A dama de ferro nunca teve grande prestígio nas redações, mas, por sua obra, mereceria uma demostração explícita de reverência

JOSÉ FUCS

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Presto aqui meu (modesto) tributo a Margaret Thatcher. Hoje de manhã, no início da reunião semanal de pauta de Época, sugeri que fosse observado um minuto de silêncio em homenagem a Lady Thatcher. Deram risada, e a reunião seguiu em frente. Eu mesmo, provavelmente, fiz a proposta mais como uma provocação aos colegas, que conhecem a minha admiração pela dama de ferro e por sua obra. Entre eles, ela não goza de muito prestígio, mas bem que mereceria uma demonstração explícita de reverência.

A morte de Thatcher, aos 87 anos, depois de uma longa agonia vivida por conta de uma doença degenerativa, deveria ser marcada por um período de luto oficial no país. Se a presidente Dilma decretou luto oficial de três dias quando o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez morreu, há um mês, por que o mesmo não deve valer para Lady Thatcher, cujo papel histórico foi muito mais relevante que o do caudilho Chávez? Se Chávez mereceu três dias, talvez, no caso Thatcher, a bandeira brasileira devesse ficar uma semana a meio pau. Ou um mês, quem sabe – se é que o número de dias de luto guarda alguma relação com a importância do falecido (ou da falecida).

Nos anos 1980, quando a Inglaterra havia se tornado refém do ativismo sindical, abalada por greves intermináveis que paralisavam o país, Thatcher enfrentou as barricadas erguidas nas ruas pelos sindicatos. Até os seus pares do Partido Conservador temiam o impacto eleitoral negativo que sua brava atitude poderia provocar. Depois de fechar minas de carvão obsoletas e improdutivas e promover a privatização de serviços públicos, ela colocou o Reino Unido de volta na trilha do capitalismo e da livre iniciativa. Devolveu o país aos dias prósperos que haviam marcado boa parte de sua história. Junto com o ex-presidente americano Ronald Reagan, ressuscitou os ideais do liberalismo mundo afora, que andavam meio por baixo naqueles tempos de Guerra Fria, em que properavam no Ocidente o movimento dos não-alinhados e a social democracia.

Por sua determinação, realizações e por sua contribuição para a causa da liberdade, a morte de Lady Thatcher é irreparável. Suas ideias, porém, não têm data de validade. Ironicamente, Thatcher se foi numa fase de crescente intervenção do Estado na economia global e de aumento de gastos públicos financiados pela viúva em quase todo o planeta, duas políticas contra as quais ela lutou bravamente quando estava no poder. O consolo é que, provavelmente, Lady Thatcher vai rir à toa lá do céu quando chegar a conta dessa farra toda.

Nós, do 247, ficamos com a análise do Diário do Centro do Mundo (leia aqui).

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