Imigrantes clandestinos: Até o Google Street View virou arma de combate contra as espécies invasoras

Cada vez em maior número, espécies invasoras animais e vegetais migram para outros territórios perturbando seus ecossistemas. Uma equipe de pesquisadores utiliza o Google Street View para explorar os novos territórios onde se instalam esses imigrantes ilegais

Cada vez em maior número, espécies invasoras animais e vegetais migram para outros territórios perturbando seus ecossistemas. Uma equipe de pesquisadores utiliza o Google Street View para explorar os novos territórios onde se instalam esses imigrantes ilegais
Cada vez em maior número, espécies invasoras animais e vegetais migram para outros territórios perturbando seus ecossistemas. Uma equipe de pesquisadores utiliza o Google Street View para explorar os novos territórios onde se instalam esses imigrantes ilegais (Foto: Gisele Federicce)


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O guaxinim norte-americano foi levado para a Europa e hoje domina áreas inteiras de bosques mediterrâneos


Por: Equipe Oásis

Colônias di guaxinins, originários da América do Norte, adaptaram-se perfeitamente bem às margens do rio Adda, perto da cidade de Milão; na Irlanda e na Inglaterra o esquilo cinzento americano está pondo em sério risco a sobrevivência do esquilo vermelho europeu; o ratão-do-banhado, grande roedor brasileiro introduzido na Itália na década de 1920 como animal fornecedor de pele para vestuário, hoje está espalhado e fazendo estragos em toda a planície Padana, no norte da Itália. São apenas algumas dentre as milhares de espécies invasoras, animais e vegetais que migraram para territórios às vezes muito distantes dos seus lugares de origem, onde se instalaram e hoje prosperam muitas vezes em detrimento da fauna e flora nativas daquele lugar. Só no Brasil, a lista de invasores tem centenas de nomes.

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O caramujo Achitina, de origem africana, foi trazido ao Brasil e se tornou uma terrível praga

A invasão de espécies não nativas ou estrangeiras, muitas delas levadas a outros países e continentes pela mão do homem, é hoje um problema muito difuso em todo o mundo. Algumas dessas espécies se inseriram sem maiores problemas nos seus novos habitats, este é o caso dos pardais trazidos ao Brasil pelos portugueses, dos búfalos indianos ou do sisal. Mas em muitos casos as espécies invasoras tornaram-se uma séria ameaça para os ecossistemas chegando a provocar a extinção das espécies locais. Um exemplo, em nosso país, é o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, e também o da abelha africana, agressiva e perigosa. Outro exemplo, espalhado já por diversos países e continentes, é o da Thaumetopoea pityocampa mais conhecida como processionária ou lagarta do pinheiro, um inseto originário da Europa mediterrânea, altamente destrutivo, cujas larvas se nutrem de folhas e têm uma grande preferência pelas coníferas. Elas constituem hoje uma das maiores ameaças à sobrevivência das florestas de pinheiros, sobretudo no sul da Europa.

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A temível Thaumetopoea, a lagarta dos pinheiros. Graças à cor branca, seus enormes ninhos podem ser identificados até pelo Google Street View

Street View à caça de lagartas

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Esses insetos se reproduzem em grandes ninhos brancos, com a forma de sacos, visíveis a grande distância. No momento, graças a essa característica, dois pesquisadores franceses do Instituto Nacional de Pesquisas Agronômicas, tentaram usar o programa Street View, do Google, para identificar as zonas infestadas por esse perigoso parasita.

A investigação deu bons resultados: após fazerem alguns testes, esses cientistas controlaram uma zona de mais de 10 mil quilômetros quadrados onde, sabidamente, a processionária tinha se estabelecido. Os resultados foram surpreendentes: os agrônomos, com efeito, puderam constatar que os levantamentos efetuados através do Street View eram 96% mais precisos do que aqueles feitos diretamente no campo. Significa que através do monitor se controla melhor do que caminhando a esmo pelas estradas e sendeiros. Em algumas zonas o mapeamento efetuado pelo Google era menos detalhado, e neles a precisão dos levantamentos baixou de 46%. Um resultado de qualquer modo notável, sobretudo quando confrontado com a economia de custos que foi possível obter.

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O sisal foi trazido ao Brasil e aqui se tornou importante fonte de renda agrícola, sobretudo nas regiões mais secas do Nordeste

Para o mapeamento de outros espécies não tão evidentes quanto a processionária, o programa Street View poderia não se mostrar tão eficaz, mas os cientistas franceses estão otimistas e pretendem recorrer regularmente a essa ferramenta no futuro.

Os exemplos de animais que, ao serem transferidos de uma região a outra colocam em crise a biodiversidade do novo território onde se instalam, destruindo a vegetação ou expulsando outras espécies, são muito numerosos. Nesta galeria mostramos alguns desses casos.

 

1 Um macaquinho terrível

Como pode um macaquinho tão simpático ser um temível invasor? Este primata originário do sudeste asiático e introduzido na Ilha Mauritius em 1600, tornou-se o dono das florestas locais. Veloz e ágil, saltando de um galho a outro, ele simplesmente acaba com os ovos dos pássaros endêmicos, roubas as frutas dos outros animais e, como se fossem enxames de formigas saúva, juntam-se em grandes bandos para invadir e arrasar plantações agrícolas.

 

2 Serpente viajante

A serpente arbórea marrom é uma grande viajante. Astuciosa, destemida, ela se esconde nos porões de aviões e navios, inserindo-se entre as bagagens e as caixas de mercadorias, se mimetiza e espera a hora de aterrissar ou aportar. Foi assim que ela chegou, nos anos 1940, a Guam, a maior ilha da Micronésia, no Pacífico. Escapando a todos os controles, esse reptil subiu em aviões militares e desembarcou no novo território. Originária da Austrália, da Indonésia e da Nova Guiné, essa serpente desde então dizimou espécies inteiras de pássaros e pequenos vertebrados terrestres. Não satisfeita após ter colonizado Guam, ela usou dos mesmos expedientes para chegar, depois, ao Havaí, aos Estados Unidos e inclusive à Espanha. Zoólogos europeus estudam agora meios para evitar que ela invada outras regiões do continente. Foto: © Gordon Rodda, USGS Fort Collins Science Center

 

3 Petisco venenoso

Foi uma péssima ideia levá-lo à Austrália para proteger as plantações de cana de açúcar dos insetos nocivos. O plano inicial era que o Bufo marinus, sapo brasileiro, gordo, voraz e com tamanho de até 15 centímetros se alimentasse dos insetos destruidores de plantações. Mas o Bufo não gostou do sabor dos gafanhotos e lagartas australianas. Voltou seus interesses para outros alimentos e tornou-se ele mesmo uma presa para outros animais nativos. O problema é que esse sapo é tão venenoso que serpentes, lagartos e mamíferos que o comem morrem envenenados. Quem os levou para a Austrália devia pensar antes no que estava fazendo. Deve haver uma razão para que algumas tribos da Amazônia, floresta onde o Bufo tem origem, usem o veneno contido nas suas glândulas para tornar letais as pontas das suas flechas.

 

4 Um inimigo no sofá

Não, não se trata de um equívoco. O gato é realmente um invasor, um dos piores. Predador por definição, caseiro por escolha (nossa), ele é o felino mais conhecido e numeroso do mundo. Foi domesticado há mais de 9 mil anos, e faz parte da lista dos animais invasores mais nocivos. Cosmopolita, o gato só não existia na Austrália e nas ilhas oceânicas vizinhas. Foi o homem quem o levou para lá, como bichinho de companhia, ou arma para controlar a presença de ratos nos navios. Quase onívoro, comedor de lagartos, serpentes, pequenos mamíferos e pássaros de todos os tipos, estima-se que apenas na pacífica ilha de Herekopare, paraíso do birdwatching, o gato tenha levado à extinção 6 espécies de pássaros. A um gato abandonado ou fugido de casa bastam poucas semanas para que retorne à vida selvagem.

 

5 Melhor um casaco de peles artificial

Nada de capotes, estolas e jaquetas feitas com a pele do ratão-do-banhado. Levados para a Itália, casais desses animais muito espertos fugiram e se instalaram nas margens de rios do país. Sem inimigos naturais na terra italiana, esses roedores aquáticos de patas espalmadas escavam profundas galerias nos barrancos dos rios, devoram as raízes de arbustos que servem para manter estáveis as terras ribeirinhas e simplesmente destroem os equipamentos de irrigação.

 

6 Ele fala, mas também perturba

Da África do Sul à Nova Zelândia, das ilhas Fiji à Europa, os mainás hoje estão em toda a parte. Pássaro de penugem negra, com uma pequena mancha branca na cabeça e barbelas amarelas, o mainá comum é originário da Índia e foi levado a vários países para reduzir a população de insetos nas zonas agrícolas. Esse pássaro é sabidamente muito guloso. Só que, fora do seu país natal, sua preferência gastronômica deixou de ser os insetos e passou a ser os frutos. No resto do mundo os mainás se alimentam de pêssegos, abricós, peras, morangos e tudo o mais que contenha boa quantidade de açúcares, arruinando plantações inteiras em vez de as defender. Além disso, como bom invasor, o mainá quer espaço para colonizar e para tanto destrói os ninhos e os ovos dos outros pássaros, reduzindo drasticamente o seu número. De resto, é um pássaro barulhento: canta, grasna, assovia, emite silvos durante toda a noite, perturbando o sono dos humanos. Quando prisioneiros, muitos exemplares conseguem reproduzir a voz humana emitindo palavras como se fossem papagaios.

 

7 Trepadeira de rapina

Um flagelo nos Estados Unidos: o kudzu, planta trepadeira, infesta recobre, sufoca e aprisiona tudo que a circunda. Ela chegou ao Estados Unidos vinda do Extremo Oriente, por ocasião de uma feira botânica realizada no final do século 19. Depois disso, tornou-se a dona de bosques, margens de rios, beiras de estradas, jardins, impedindo a fotossíntese das plantas nas quais se enrola. Com uma raiz que alcança profundidades superiores a 3 metros, sua velocidade de crescimento é incrível: mais de 25 centímetros por dia durante a primavera. Nos países de origem as pessoas comem suas folhas, usam seus ramos secos para a confecção de cestos e, com os estratos de suas raízes a farmacologia produz cosméticos e poções vasodilatadoras. Já chegou à Itália e a alguns pontos do sul da Europa. Foto: Jil M. Swearingen, USDI National Park Service

 

8 Sua sede é insaciável

Quando a vemos, não é mais que uma arvorezinha aparentemente insignificante. Mas, na verdade, é um dos vegetais que mais consomem água no mundo. O tamarix, que infesta os territórios ao longo dos rios do sul dos Estados Unidos e do México, pode absorver muitos litros de água diariamente, deixando a seco as plantas vizinhas, enxugando áreas pantanosas e destruindo pequenas minas de água. Além disso, de suas glândulas localizadas nos ramos e das folhas, esse arbusto de origem asiática e da Europa meridional secreta sais minerais extraídos do terreno, criando desse modo incrustações minerais e calcárias no solo que inibem o crescimento de toda a flora. Foto: Steve Dewey, Utah State University

 

9 Marisco invasores

Esse molusco gruda no casco das embarcações, está presente na água de balastro dos navios, no meio dos carregamentos de peixes e frutos do mar, e também entre as plumas de pássaros marinhos e nas roupas de mergulhadores. Todos os meios são bons para que o marisco zebrado se faça transportar. Trata-se de um marisco pouco apetitoso, originário do Mar Cáspio e do Mar Negro. Capaz de viver tanto em águas salobras quanto em águas doces, esse invertebrado adora fixar-se sobre pontes, instalações hidráulicas e estações de tratamento da água. Num único metro quadrado de uma estação de tratamento norte-americana foram encontrados cerca de 70 mil exemplares, todos amontoados uns sobre os outros. Foto: Randy Westbrooks, U.S. Geological Survey

 

10 Guerras submersas

O rutilo é um peixe natural das águas frias da Europa Central. Agressivo, comilão voraz de outros peixes, ele nunca teria conseguido transpor a barreira dos Alpes sem a ajuda de alguma mão humana. Alguém fez isso, lançando-o nas águas dos grandes lagos do norte da Itália, como o Lago Maggiore e o Lago de Como. Desses lagos, passou para outros menores e acabou chegando também ao Pó, o maior rio do país, e a outros cursos d´água menores. Encontrando boas temperaturas e fartura de alimento, o rutilo, que se reproduz com facilidade e rapidez, não esperou muito para dizimar inteiras espécies locais. Por causa do seu escasso valor comercial, esse peixe, que chega a superar os 45 centímetros de comprimento continua a se dar bem nas águas italianas.

 

11 Uma vespa que virou praga

No início, ela invade as cidades, construindo ninhos sob os tetos, nas reentrâncias dos muros e provocando, com suas picadas dolorosas, problemas e incômodos ao homem. Depois, a vespa comum, originária da África, se dirige aos campos, florestas e bosques, onde compete com os pássaros e com outros insetos pelos recursos açucarados. Formando enxames, voa sobre as plantações e come as frutas. Engorda e vai procurar comida nas latas de lixo e até nos restos de piqueniques. Hoje, essa vespa já chegou à Ásia e à Europa, ao norte da África e à América do Norte. Chegou também, escondida em navios e aviões, à Austrália, à Tasmânia, à Nova Zelândia e à América do Sul. O pior é que ela não produz sequer uma gota de mel.

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