No final, só restará na Terra um organismo vivo. Minúsculo

Os seres humanos já terão desaparecido há muito tempo. Daqui a dois bilhões de anos, quando a Terra estará sendo “assada” pelo Sol, os últimos que a habitarão serão microrganismos resistentes ao calor, à aridez e à falta de oxigênio

Os seres humanos já terão desaparecido há muito tempo. Daqui a dois bilhões de anos, quando a Terra estará sendo “assada” pelo Sol, os últimos que a habitarão serão microrganismos resistentes ao calor, à aridez e à falta de oxigênio
Os seres humanos já terão desaparecido há muito tempo. Daqui a dois bilhões de anos, quando a Terra estará sendo “assada” pelo Sol, os últimos que a habitarão serão microrganismos resistentes ao calor, à aridez e à falta de oxigênio (Foto: Gisele Federicce)


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Bela imagem de um tardígrado, um dos mais resistentes seres vivos existentes no planeta

 

 

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Por: Luis Pellegrini

 

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Um dia, num futuro ainda distante, nosso planeta se transformará no mais hostil e inóspito dos habitats. E não será um humano que vencerá a corrida da sobrevivência. Será um microrganismo que terá se adaptado às condições mais extremas: a ele tocará o título de “último ser terrestre” digno desse nome.

Um grupo de pesquisadores das Universidades Saint Andrews, Dundee e Edimburgo, na Escócia, utilizou um algoritmo para prever o destino do nosso planeta dentro de alguns milhões de anos. O destino da Terra está naturalmente ligado ao do Sol, que se tornará, ao longo da sua evolução, cada vez mais quente e brilhante. Dentro de dois bilhões de anos, segundo os especialistas, o calor do Sol será tão intenso que os oceanos começarão a evaporar.

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Ilustração artística da Terra nos seus primórdios. Paisagem semelhante deverá ocorrer no final dos tempos de nosso planeta



A abundante evaporação da água oceânica e as consequentes reações com a água das chuvas – que serão constantes e torrenciais - causarão um dramático abaixamento dos níveis de bióxido de carbono na atmosfera, com o consequente desaparecimento das plantas que dependem do CO2 para realizar a fotossíntese. Sem as plantas e com temperaturas cada vez mais elevadas, a Terra será mais e mais árida e destituída de oxigênio. Poderemos dizer adeus aos animais (mas o homem há muito já terá desaparecido da face do planeta): nessa fase a Terra se tornará domínio absoluto dos micróbios.

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Nos terrenos ao redor dos gêiseres do Parque Yellowstone, nos Estados Unidos, vivem colônias de bactérias extremófilas capazes de resistir à água fervente



Os lugares mais hostis à vida na Terra

Alguns desses organismos, chamados extremófilos, já existem hoje. Eles serão os únicos capazes de resistir ao calor, à falta de água e à atmosfera venenosa da Terra do amanhã. Viverão provavelmente amontoados ao redor das últimas poças de água existentes na Terra. Mas à medida que as condições piorarem, até esses últimos heroicos sobreviventes desaparecerão.

Estudos como este também servem para que compreendamos melhor quais formas de vida poderemos encontrar sobre outros planetas. “Suponhamos que encontremos um exoplaneta similar à Terra”, explica Jack O'Malley James, diretor da pesquisa, “é mais provável que na sua superfície (ou abaixo dela) existam formas de vida microbiológicas do que organismos mais complexos”. Também a descoberta de alguns gases na atmosfera pode revelar a presença de vida: “O metano, por exemplo, poderia ser um excelente indicador, mas depende da sua quantidade e se ele é visível na atmosfera daquele planeta”, completa James.

 

Cratera marciana com gelo em seu interior. Nesse ambiente certos microorganismos terrestres poderiam sobreviver

 


Até que temperatura resiste a vida?

Acreditava-se que era de 60 a 50 graus centígrados a temperatura máxima na qual podem viver e prosperar os organismos eucariotas (aqueles cujas células são dotadas de núcleo). Mas descobriu-se que algumas bactérias conseguem sobreviver a mais de 120 graus centígrados...

Os estudos sobre a resistência dos seres vivos a condições extremas não param, e a cada dia novas descobertas se somam às anteriores. Por exemplo, uma equipe de pesquisadores do Ateneu Pierre e Marie Curie, de Paris, conduziu recentemente uma estudo sobre a Alvinella Pompejana, um verme marinho de pequenas dimensões que coloniza os caminhos escuros de fontes hidrotermais submarinas. Os pesquisadores consideravam que esse invertebrado fosse capaz de sobreviver e se reproduzir, sem complicações ou danos, a temperaturas de até 60 graus centígrados. Mas na verdade as coisas não são bem assim. O biólogo Bruce Shilito e seus colegas recolheram alguns exemplares de Alvinella utilizando uma técnica especial que permite manter as amostras na mesma pressão do lugar de origem. Logo depois os expuseram durante longos períodos a temperaturas que oscilavam entre os 50 e os 55 graus, descobrindo que isso já era suficiente para provocar danos irreparáveis aos tecidos. Parece, portanto, que esses animais, embora necessitando de temperaturas bem superiores aos 42 graus centigrados, não conseguem sobreviver se ela se mantiver superior a 50 graus centígrados.

Mas a Alvinella Pompejana não é o mais extremófilo dos seres vivos: o recorde de resistência toca com efeito a uma arqueobactéria isolada numa fonte hidrotermal do Pacífico, a Cepa 121 (Strain 121), cujas células ainda conseguem crescer e se reproduzir a uma temperatura de 121 graus centígrados!

Existem criaturas que não apenas revelam uma resistência incrível na Terra, mas também demonstram possibilidades de vida em outros lugares do universo. Desde bactérias que podem sobreviver dentro de rochas a micróbios super resistentes ao calor, frio e radiação. A vida pode ter formas extremas e resistir a situações extremas. Confira:

 

Colônia de Dunaliella algae desenvolvendo-se nos fios de uma teia de aranha

1. Sem nada para beber

Alguns organismos, como as algas Dunaliella algae descobertas em 2010 numa caverna no deserto chileno de Atacama, podem prosperar mesmo em pouca água. Além de viver nos locais mais secos da Terra, estes micróbios podem crescer em cima de teias de aranha para aproveitar o “orvalho”, a quantidade mínima de umidade relativa do ar que se condensa nas teias de aranha de manhã.

 

Bactérias super resistentes do gênero Aquifex sobrevivem nessas fontes extremamente alcalinas do Parque vulcânico Yellowstone, nos Estados Unidos


2. Mais quente que o inferno

Criaturas chamadas hipertermófilas são espécies que vivem em ambientes extremamente quentes. O gênero Aquifex de bactérias, por exemplo, já foi encontrado vivendo em fontes termais no Yellowstone National Park, EUA, onde as temperaturas podem chegar a 96 graus centígrados.

 

Micróbios do gênero Thermococus, bem como vários outros seres marinhos, adaptaram-se ao calor das fontes termais submarinas


3. Energia zero

Uma espécie extremófila, o micróbio Thermococcus, consegue sobreviver com tão pouca energia que até agora os cientistas acreditavam que a reação química que ele utiliza não era capaz de sustentar a vida. Esses organismos foram encontrados vivendo no fundo do mar, em fontes hidrotermais, onde a água super quente escoa da crosta terrestre perto de Papua Nova Guiné. Além da utilização racional de energia, os micróbios podem sobreviver em temperaturas extremas, escaldantes para a maioria das outras criaturas vivas.

 

Colônia de bactérias Halobacterium halobium


4. Com gosto salgado

A maioria das criaturas não pode suportar altos teores de sódio. Porém, microrganismos “halofílicos”, tolerantes ao sal, podem suportar concentrações de sal que secariam qualquer vida. Um exemplo é a bactéria Halobacterium halobium, que evoluiu para viver em ambientes com 10 vezes mais sal do que a água do mar, como o fundo do lago Owens, na Califórnia.

 

Morada de micróbios psicrófilos


5. A Era do Gelo

Alguns micróbios, chamado psicrófilos, são geralmente encontrados no gelo polar, em geleiras e nas águas de oceanos profundos. Isso porque podem suportar temperaturas tão baixas quanto 15 graus centígrados negativos. Tais criaturas consistem principalmente de bactérias, fungos e algas, e contém enzimas que são adaptadas para funcionar a baixas temperaturas. São descobertos com mais frequência nos oceanos congelados do Ártico e da Antártica, e debaixo de camadas de gelo na Sibéria.

 

Imagem muito ampliada da bactéria Deinococcus radiodurans


6. À prova de radiação

O Guinness Book, livro dos recordes, lista a bactéria Deinococcus radiodurans como a bactéria mais resistente do mundo. Sabe por quê? Ela suporta quantidades de radiação intensas. Por exemplo, 10 Grays (10 Gy) de radiação matariam um ser humano. A barata, bicho famoso pela sua grande resistência às radiações, também só aguenta 1.000 Gy. Mas a D. radiodurans consegue sobreviver a uma dose de radiação 15.000 Gy. Esta espécie, na verdade, é exemplar em muitos aspectos, englobando também a capacidade de sobreviver ao frio, à desidratação, ao vácuo e ao ácido.

 

Ambiente onde existem organismos endolíticos


7. Entre pedras ou terra

Organismos endolíticos são espécies que vivem dentro de rochas ou outros pontos “improváveis” à vida, como nas fendas ou poros entre os grãos de minerais. Estas espécies já foram encontradas a mais de 3 km abaixo da superfície da Terra, e podem viver ainda mais abaixo. A água é escassa a essas profundidades, mas alguns estudos sugerem que os organismos se alimentam de ferro, potássio ou enxofre à sua volta. Embora essa escolha de residência apresente algumas limitações, também oferece proteção contra ventos severos e as radiações do sol.

 

Exemplar de um animal loricífero, gênero Spinoloricus


8 Como respirar sem oxigênio?

Uma criatura recém-descoberta, um animal loricífero identificado como uma espécie não descrita do gênero Spinoloricus, tem organelas especializadas para que possa sobreviver sem oxigênio. São organismos minúsculos (tem menos de 0,5mm de comprimento).

 

Um exemplar de tardígrado: estranho e minúsculo animal, capaz de sobreviver por tempo indeterminado nas rígidas condições do espaço exterior


Tardígrado: um animalzinho capaz de sobreviver no espaço exterior!

 

A quantidade de extremófilos que vivem na Terra é extraordinariamente grande. As habilidades desses seres microscópicos são muitas, mas um deles parece especialmente bem dotado para realizar façanhas: O incrível tardígrado.

Essa estranha criatura que mais parece um pokémon atende pelo simpático apelido de “urso d’água” (devido a suas garras). Ele é um animal microscópico que mede apenas 1 milímetro. Mesmo sendo pequenino assim, o tardígrado possui patas musculosas, um sistema nervoso e digestivo e é capaz de uma incrível façanha: Sobreviver no espaço!

 

Um exemplar do extremófilo Alvinella Pompejana (National Science Foundation )

 

Em 2007, alguns biólogos colocaram alguns extremófilos (organismos capazes de viver em condições extremas) na bagagem dos astronautas com destino à estação espacial e acabaram descobrindo que os tardígrados são capazes de sobreviver no vácuo do espaço, mesmo com todo o bombardeio de raios solares sem uma atmosfera para protegê-lo. Como se isso já não fosse suficiente, outros experimentos feitos aqui mesmo na Terra mostraram que essas criaturas aguentam temperaturas extremas que variam do zero absoluto (-272º) até 150 graus centígrados. Após mapearem o DNA dos tardígrados, os geneticistas não conseguiram definir sua linhagem. Ou seja, ainda não se sabe de onde eles vieram! Isso por si só já foi mais do que o suficiente para alguns cientistas teorizarem que os tardígrados da Terra podem ter vindo, sim, de outros planetas vizinhos, como Marte!

O vídeo abaixo (em inglês) apresenta Mike Shaw, um biólogo que dedica sua vida ao estudo dessas impressionantes criaturinhas. Ele aproveita para explicar o segredo dos tardígrados: Eles são capazes de iniciar um processo conhecido por criptobiose, procedimento no qual a criatura para o seu metabolismo quando exposta a um ambiente com condições adversas por quanto tempo precisar. Com essa impressionante habilidade, não é de se espantar que os tardígrados tenham dominado a Terra: As cerca de 1150 espécies existentes de tardígrados podem ser encontradas em praticamente todos os lugares, desde o topo do Himalaia até o fundo dos oceanos, tanto no calor do equador como no frio dos polos.


Video: O primeiro animal a sobreviver no espaço exterior

 

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