É proibido espernear: Como transformar um protesto pacífico em ato terrorista

Manifestações populares pacíficas de protesto político ou por causas ambientais estão cada vez mais sendo tratadas pelo poder público, em todos os países, como se fossem atos terroristas

Manifestações populares pacíficas de protesto político ou por causas ambientais estão cada vez mais sendo tratadas pelo poder público, em todos os países, como se fossem atos terroristas
Manifestações populares pacíficas de protesto político ou por causas ambientais estão cada vez mais sendo tratadas pelo poder público, em todos os países, como se fossem atos terroristas (Foto: Gisele Federicce)


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Tradução: Rafael Braga Rodrigues. Revisão: Gustavo Rocha

 

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Em 2002, o repórter investigativo norte-americano Will Potter decidiu dar uma pausa no seu trabalho usual, escrever sobre tiroteios e  assassinatos para o Chicago Tribune. Ele resolveu ajudar um grupo local em campanhas contra testes em animais: "Eu pensei que seria uma maneira segura de fazer algo positivo", ele disse. Ao invés disso, ele foi preso, e assim começou sua atual jornada em um mundo onde protestos pacíficos são marcados como terrorismo.

Escritor e jornalista várias vezes premiado, desde então Will Potter focaliza seu interesse em temas como os direitos dos animais, os movimentos ambientalistas e as liberdades civis. Ele mora em Washington D.C. No momento investiga como e por que os membros das manifestações públicas e não-violentas de protesto estão cada vez mais, em todo o mundo, sendo tratadas pelos poderes públicos como se fossem ações terroristas.

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Vídeo: O movimento revoltante para criminalizar protestos pacíficos

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Menos de um ano após o 11 de setembro, eu estava no jornal Chicago Tribune escrevendo sobre tiroteios e assassinatos, e isso estava me deixando bastante deprimido. Fui ativista na universidade, então decidi ajudar um grupo local a bater de porta em porta contra testes de laboratório feitos em animais. Pensei que seria uma maneira segura de fazer algo positivo, mas, é claro, eu tive o maior azar possível, e todos nós fomos presos. A polícia tirou essa foto minha segurando panfletos como evidência.

As acusações contra mim foram retiradas, mas poucas semanas depois, dois agentes do FBI bateram na minha porta, e disseram que se eu não os ajudasse espionando grupos de protestos, eles me colocariam em uma lista de terroristas domésticos. Eu adoraria dizer que não hesitei, mas eu estava aterrorizado, e quando meu medo diminuiu, eu fiquei obcecado em descobrir como isso aconteceu, como direitos dos animais e ativismo ambiental, que nunca machucaram ninguém, poderiam se tornar, para o FBI, a ameaça número um em terrorismo doméstico?

 

O repórter investigativo Will Potter

 

Alguns anos depois, fui convocado a depor em frente ao Congresso, sobre minhas reportagens e eu disse ao legislativo que, enquanto todos falam em ecologia, algumas pessoas arriscam suas vidas em defesa de florestas e para parar a construção de oleodutos. Eles estão fisicamente se colocando na linha entre os arpões de caçadores e as baleias. Essas são pessoas comuns, como esses ativistas na Itália que espontaneamente escalaram cercas de arame farpado para salvar cães beagles de testes com animais. E esses movimentos têm sido incrivelmente efetivos e populares. Então, em 1985, seus oponentes criaram uma nova palavra, "eco-terrorista", para mudar a forma como os vemos. Eles simplesmente a inventaram.

Surgiram novas leis, como a do "Ato Terrorista Contra Empresas Com Animais", que transforma ativismo em terrorismo se isso causar uma perda de lucro para essas empresas. Hoje, a maioria das pessoas nem sequer ouviu falar dessa lei, inclusive membros do próprio Congresso. Menos de 1% dos congressistas estava na sala quando esse projeto de lei passou pela Casa. O restante estava ausente, em um novo memorial. Eles estavam elogiando Martin Luther King, embora o seu estilo de ativismo seja agora marcado como terrorismo se fosse feito em nome dos animais ou do meio ambiente.

 

 

Apoiadores dizem que leis como essa são necessárias devido aos extremistas: os vândalos, os incendiários e os radicais. Mas agora mesmo, empresas como a TransCanada estão instruindo a polícia com apresentações como esta sobre como processar manifestantes pacíficos como terroristas. Os documentos do FBI sobre eco-terrorismo não são sobre violência, mas sim sobre relações públicas. Hoje, em vários países, corporações têm forçado novas leis que tornam ilegal fotografar situações de crueldade contra animais em suas fazendas. A última foi em Idaho, duas semanas atrás, e hoje nós entramos com uma ação contestando-a como inconstitucional, como uma ameaça ao jornalismo.

 

 

O primeiro desses processos "mordaça", como são chamados, foi contra uma mulher chamada Amy Meyer. Amy viu uma vaca doente ser removida por uma escavadeira, para fora de um matadouro e ela estava em uma via pública. E Amy fez o que qualquer um de nós teria feito: ela filmou. Quando descobri essa história, eu escrevi sobre ela, e dentro de 24 horas isso criou tamanha agitação que os acusadores simplesmente retiraram todas as queixas.

Mas, aparentemente, até mesmo expor coisas como essa é uma ameaça. Através do Ato de Liberdade de Informação, eu descobri que a unidade antiterrorista estava monitorando meus artigos e palestras como esta. Até mesmo deram esta pequena nota sobre meu livro. Descreveram-no como "envolvente e bem escrito". (Aplausos) Sinopse no próximo livro, certo?

O objetivo disso tudo é nos causar medo, mas como jornalista, tenho uma fé inabalável no poder da educação. Nossa maior arma é a luz do sol.

Dostoievsky disse que todo o trabalho do homem é provar que é um homem e não uma tecla de piano. Desde sempre, através da história, pessoas no poder usaram o medo para silenciar a verdade e a dissidência. É hora de tocarmos um novo acorde.

Obrigado.

 

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