O cemitério das baleias: No Chile, desvendado mistério da morte em massa de cetáceos pré-históricos

No passado remoto, quando o deserto de Atacama, no Chile, era fundo de mar, aconteceram ali enormes mortandades de cetáceos e outros animais marinhos que morreram quase ao mesmo tempo. O mistério acaba de ser revelado. O vilão foi uma toxina do tipo maré-vermelha que, ainda hoje, prolifera em nossos oceanos.

No passado remoto, quando o deserto de Atacama, no Chile, era fundo de mar, aconteceram ali enormes mortandades de cetáceos e outros animais marinhos que morreram quase ao mesmo tempo. O mistério acaba de ser revelado. O vilão foi uma toxina do tipo maré-vermelha que, ainda hoje, prolifera em nossos oceanos.
No passado remoto, quando o deserto de Atacama, no Chile, era fundo de mar, aconteceram ali enormes mortandades de cetáceos e outros animais marinhos que morreram quase ao mesmo tempo. O mistério acaba de ser revelado. O vilão foi uma toxina do tipo maré-vermelha que, ainda hoje, prolifera em nossos oceanos. (Foto: Gisele Federicce)


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Paleontólogos trabalham em Cerro Ballena, sob o sol inclemente do deserto de Atacama

 

Por: Equipe Oásis. Fotos: Smithsonian Institution.

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A localidade agora conhecida como Cerro Balena fica no norte do Chile, no deserto de Atacama, perto da cidade portuária de Caldera. Em 2010, a expansão da autoestrada pan-americana naquela região levou à descoberta de um grande sítio paleontológico. Nele, um grupo de cientistas descobriu mais de 40 esqueletos de mamíferos marinhos pré-históricos. Esses fósseis representam os vestígios de pelo menos quatro episódios de morte massiva de baleias e de outros mamíferos marinhos em antigas praias do Miocênico Superior, há cerca 7 milhões de anos, o que sugere que esses desastres tiveram uma natureza semelhante e repetitiva. Entre os achados mais espetaculares está uma inteira família de baleias, com macho, fêmea e o filhote, todos juntos.

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Em área protegida, técnicos reconstroem os fósseis com o uso de técnica laser

 

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Três anos de investigação culminaram na identificação da causa mais provável para esses enigmáticos eventos: Nos oceanos, o único possível culpado por mortandades deste gênero são as algas unicelulares, algumas das quais são altamente tóxicas. Em algumas ocasiões, quando ocorre uma proliferação excessiva dessas algas, esses minúsculos organismos produzem uma molécula extremamente tóxica, capaz de matar em pouco tempo qualquer animal que delas engula uma grande quantidade. Exatamente como o fazem as baleias e outros animais marinhos. Com efeito, nos fósseis foram encontradas minúsculas esferas de dimensões similares às das algas.

Em expressão científica, o fenômeno é chamado de “florescências de dinoflagelados produtores de toxinas”. É comum e relativamente frequente até hoje, e uma das suas manifestações são as chamadas “marés vermelhas”. O trabalho resultou de uma cooperação entre a Instituição Smithsonian, nos EUA, e cientistas da Universidade do Chile, e foi publicado há pouco na revista Proceedings of the Royal Society B.

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Em Cerro Ballena os fósseis de baleia apontam todos para uma mesma direção

 

Entre os fósseis descobertos encontram-se dúzias de esqueletos completos de espécies extintas de baleias-corcundas e de cachalotes, bem como vestígios de outros mamíferos marinhos, incluindo um golfinho pré-histórico extremamente raro pertencente ao gênero Odobenocetops, e uma antiga preguiça marinha da espécie Thalassocnus natans. Os investigadores identificaram ainda dentes de Carcharodon hastalis, um gigantesco tubarão muito comum nas épocas do Miocênico e do Pliocênico, e restos fossilizados de pinguins, peixe-espada e de outros peixes ósseos predadores. “[Foram identificados] pelo menos 10 tipos diferentes de animais marinhos, recorrentes em quatro camadas diferentes”, afirmou Nicholas Pyenson, investigador da Smithsonian e primeiro autor deste trabalho. “Isso exigia uma explicação.”

 

Vídeo:

 

 

Posição intrigante

O que mais intrigou os investigadores foi a forma como os esqueletos estavam posicionados. “As baleias-corcundas estavam, na sua maioria, de barriga para cima, e as baleias apenas ficam de barriga para cima se chegarem a algum sítio já mortas”, disse Pyenson. “Isto é um cemitério, não é o local do crime – o crime aconteceu noutro local.” Os esqueletos apresentavam ainda uma orientação semelhante, com a cabeça direcionada no sentido contrário ao do mar, o que dá mais consistência à hipótese dos animais terem morrido no oceano, antes de serem arrastados para a praia. A distribuição dos fósseis em quatro camadas distintas sugere que as mortes resultaram não de uma catástrofe isolada, mas sim de quatro mortandades ocorridas num período de 5 a 16 mil anos.

 

O trabalho de reconstrução a laser envereda noite adentro

 

A equipe investigou vários fenômenos que pudessem explicar tamanha mortandade, desde tsunâmis até surtos de vírus. No entanto, nenhuma dessas hipóteses encaixava nas observações. Os investigadores não encontraram quaisquer evidências geológicas de tsunâmis nos sedimentos analisados, e os fósseis estavam em excelentes condições. Os vírus e outros agentes patogênicos tendem a ser mais específicos, pelo que não serviam para explicar a diversidade de animais encontrada em Cerro Ballena.

“Percebi que existia apenas uma única boa explicação: florescências de algas nocivas”, disse Pyenson. Quando as condições são favoráveis, as microalgas proliferam em grandes massas, disponibilizando grandes quantidades de nutrientes para os organismos situados nos degraus superiores da cadeia trófica. Os dinoflagelados encontram-se entre os grupos de microalgas mais comuns nos oceanos e podem produzir florescências muito exuberantes conhecidas por marés vermelhas. Algumas espécies de dinoflagelados produzem toxinas extremamente potentes, que são concentradas ao longo da cadeia trófica, podendo causar a morte de peixes e de outros animais, incluindo o homem.

 

Os novos trechos da Autostrada Panamericana passam a poucos metros de alguns fósseis

 

Estas florescências podem surgir como consequência da atividade humana, como por exemplo, descargas de efluentes ricos em nutrientes inorgânicos. No entanto, grande parte é desencadeada pelo enriquecimento sazonal das águas com nutrientes como o ferro, minerais trazidos pelas correntes oceânicas ou pela lixiviação de depósitos naturais presentes nos continentes. Curiosamente, a produtividade das águas junto à costa chilena, nas proximidades de Cerro Ballena, é fortemente moldada não só pelas correntes de afloramento costeiro, ou upwelling (correntes ricas em nutrientes), como também por efluentes ferruginosos provenientes de encostas ricas em depósitos de ferro, localizadas nos Andes.

 

Paleontólogo organiza e classifica fósseis de tamanho menor

 

Análises realizadas dos sedimentos de Cerro Ballena mostram a presença de finos depósitos tingidos com óxidos de ferro, bem como de esférulas de apatite com dimensões semelhantes às dos cistos de dinoflagelados. A equipe planeja ainda regressar ao local na busca de provas ainda mais convincentes que apoiem esta sua hipótese. Enquanto isso, em Cerro Ballena, os fósseis permanecem na superfície, à beira da Estrada Panamericana...

 

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