Teorias da conspiração. O mundo doido dos grandes conluios e complôs

Em pleno século 21, nosso mundo é complexo e está em constante mudança. Rádios, televisões, alertas nos telefones celulares e buscas na Internet pipocam informações constantemente. E mostram um padrão de acontecimento caótico, onde nem sempre é fácil discernir um sentido. Não admira que, mais do que nunca, as teorias da conspiração estejam na moda.

Em pleno século 21, nosso mundo é complexo e está em constante mudança. Rádios, televisões, alertas nos telefones celulares e buscas na Internet pipocam informações constantemente. E mostram um padrão de acontecimento caótico, onde nem sempre é fácil discernir um sentido. Não admira que, mais do que nunca, as teorias da conspiração estejam na moda.
Em pleno século 21, nosso mundo é complexo e está em constante mudança. Rádios, televisões, alertas nos telefones celulares e buscas na Internet pipocam informações constantemente. E mostram um padrão de acontecimento caótico, onde nem sempre é fácil discernir um sentido. Não admira que, mais do que nunca, as teorias da conspiração estejam na moda. (Foto: Gisele Federicce)


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Por: Dean Burnett (*) Fonte: Jornal The Guardian, Londres

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Nada melhor que uma boa conspiração para acalmar o medo do desconhecido. Para dar sentido ao inaceitável ou ao inexplicável, os homens precisam de explicações. Por mais loucas que sejam...

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Com as sucessivas revelações sobre o programa de espionagem Tempora do Governo britânico (sobre informações trocadas na internet) e a ameaça de guerras (na Ucrânia e no Médio Oriente), a época atual é propícia para as teorias da conspiração.

É como quando vamos à rua pôr o lixo no latão e reparamos num saco de papel esquecido: nós o agarramos e ele, de tão velho, rasga-se derramando seu conteúdo no chão. E, de repente, ficamos cercados por um enxame de moscas furibundas; corremos para dentro aos gritos e passamos três horas na ducha, tremendo. Para mim, as teorias da conspiração são um pouco isso.

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A Terra invadida por seres extraterrestres é um tema clássico do elenco das grandes conspirações

 

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Aparentemente eu próprio estou envolvido em várias conspirações. Quando a televisão inglesa Channel 5 emitiu um programa sem qualquer sentido crítico sobre a conspiração lunar (os primeiros passos do homem na Lua seriam uma farsa do Governo norte-americano e teriam sido filmados num estúdio], respondi “confessando" que era verdade e inventando outras conspirações “autênticas ", para demonstrar a que ponto a ideia era ridícula.

Imaginei conspirações tão disparatadas que pensei que ninguém ia acreditar - o que só prova a minha ingenuidade sobre aquilo de que as pessoas são capazes e aquilo em que estão dispostas a acreditar. E, como seria de esperar, disseram logo que eu tinha procedido assim por estar sendo manipulado pelos autores da conspiração lunar...

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Integrantes do movimento Anonymous, em Manila, Filipinas

 

O que leva as pessoas a ver conspiração em situações relativamente menores (como um texto num blog insignificante  como o meu)? Não vale a pena analisar todos os elementos conhecidos a esse respeito. Isso não muda nada e, provavelmente, não viverei o suficiente para ver as conclusões. Mas há muitas razões pelas quais as pessoas se deixam apanhar por conspirações e muitas explicações para o fato de essas teorias se tornarem tão complexas e persistentes.

Não devemos ignorar os teóricos da conspiração, chamando-os de “excêntricos" ou de “malucos” - ou qualquer outro qualificativo que faça com que não sejam levados a sério. Um teórico da conspiração pode agir por efeito de perturbações mentais: ansiedade, paranoia, psicose. Entre outras. O seu estado pode não ser grave a ponto de exigir intervenção médica: ou pode o seu envolvimento numa teoria da conspiração ser uma maneira de controlar os sintomas, ou seja, uma forma de automedicação. A menos, claro, que a própria psiquiatria seja uma conspiração...

Contudo, perturbações mentais e teorias da conspiração nem sempre estão diretamente relacionadas: pode se acreditar na versão oficial do assassinato de Kennedy e ser-se completamente esquizofrênico.

 

 

A necessidade da pertença

Mais preocupante é o fato de haver estudos que demonstram que o cidadão comum é muito receptivo a teorias da conspiração.

Há muitas razões para isso, incluindo a tendência dos seres humanos para a pareidolia (tentativa de discernir motivos e padrões em fenômenos acidentais; por exemplo, quando vemos rostos e expressões humanas em formas aleatórias como nuvens, troncos de árvores, redemoinhos de água, etc). Então, por quê? Será que as teorias da conspiração respondem a necessidades básicas dos seres humanos? Segundo a pirâmide de Maslow, as necessidades humanas mais básicas são fisiológicas (alimentação, abrigo, etc). Nas sociedades ocidentais, temos a sorte de essas necessidades estarem, de uma forma geral, garantidas. Vem depois a necessidade de segurança. Como o medo anda muitas vezes de mãos dadas com o desconhecido, ter "conhecimento" das conspirações e maquinações urdidas por figuras misteriosas pode tornar-se útil.

 

 

Segue -se a necessidade de “pertença". Os seres humanos são criaturas sociais, têm necessidade de ser aceitos pelos outros.

As redes das teorias da conspiração surgem, para os seus adeptos, como grupos de amigos. O que leva ao nível seguinte: a necessidade de realização, de reconhecimento e de respeito. A descoberta de ligações e provas que sugerem a existência de conspirações ou de manobras para encobrir um caso garante que atraímos para nós as felicitações do grupo conspirador a que pertencemos.

Essa necessidade de pertença a uma comunidade pode também explicar a razão pela qual algumas teorias conspirativas que parecem extravagantes são tão persistentes. No seio de um grupo, passam-se coisas estranhas. A influência normativa, o pensamento em comum, a intervenção de “polícias do pensamento”, a polarização, tudo isto são fenômenos que se conjugam para manter um grupo intacto e fazer com que as opiniões dissidentes sejam rapidamente postas à margem ou liminarmente rechaçadas, o que, em termos de descrição do processo, passa por fenômenos como a distorção da confirmação (tendência para favorecer a informação que confirme a hipótese de partida).

 

 

Conspirações, Deus e o sobrenatural

Há muitas outras explicações possíveis para o comportamento dos teóricos da conspiração. Pode mesmo ser algo tão simples e intuitivo como a compreensão de que essas teorias são reconfortantes. É perturbador pensar que haja grupos de lagartos gigantes que controlam secretamente a humanidade, mas a possibilidade de vivermos num universo aleatório, onde forças desprovidas de razão podem decidir nos eliminar sem motivo, será menos perturbadora?

 

Uma teoria da conspiração atribuía os desaparecimentos de navios e aviões no Triângulo das Bermudas a um complô organizado por seres extraterrenos.

 

As redes das teorias da conspiração

Talvez seja para afastar uma eventualidade desse gênero que alguns se voltam para as teorias da conspiração, como outros se ligam em Deus ou ao sobrenatural.

E antes que as mentes racionalistas que leem as crônicas científicas do jornal The Guardian comecem a demolir o que escrevi, acrescento que há opiniões mais comuns, hoje muito em voga, que podem facilmente se encaixar nos espíritos de outras pessoas que ali não veem teorias da conspiração. O sistema de saúde britânico está sendo secretamente privatizado e os meios de comunicação social são cúmplices? Sim, seguramente. O Governo está tentando asfixiar as instituições de solidariedade social? Claro! Ah, tem “provas”? As pessoas as arranjam, sempre.

Mas talvez a má fama de que gozam os teóricos da conspiração não seja totalmente merecida. Alguns dos maiores cientistas do mundo, como Darwin ou Galileu, foram os que questionaram a versão oficial dos acontecimentos. E, claro, há sempre a possibilidade de tais conspirações serem reais. E se este blog não for uma análise da psicologia das teorias da conspiração, mas um estratagema para bater o recorde dos “comentários mais delirantes” do site do The Guardian? Nunca o saberemos...


AS TEORIAS DA CONSPIRAÇAO MAIS POPULARES

O Governo dos EUA provocou o 11 de Setembro? Somos controlados por répteis humanoides? O sitio ALltRNH compilou as dez teses conspiratórias mais amalucadas:

 

Lee Harvey Oswald assassinou o presidente John Kennedy em Dallas, Texas, no dia 22 de novembro de 1963

 

1 Lee Harvey Oswald não agiu sozinho. Talvez só o 11 de Setembro se aproxime da miríade de teorias sobre o atentado que matou John Fitzgerald Kennedy, em 1963. Ele foi baleado quando o cortejo presidencial atravessava Dallas. Oswald foi apontado como o assassino, mas passados dois dias foi alvejado na cadeia e morreu, o que suscitou tremenda desconfiança. Testemunhas afirmaram ter ouvido outros tiros vindos de uma colina próxima, o que lançou o mistério de um segundo atirador. A CIA, a Máfia, Fidel Castro e Lyndon Johnson são frequentemente apontados como mentores do crime e do seu encobrimento.

2 Diana foi assassinada. Quando a Princesa do Povo morreu num acidente rodoviário, em consequência do excesso de zelo dos paparazzi em Paris, a opinião pública exigiu respostas. Era difícil acreditar que uma figura tão célebre pudesse morrer de forma tão absurda, pelo que não tardaram a surgir teorias segundo as quais alguns poderosos queriam vê-la morta. Há quem pense que estava grávida e pensava casar com o namorado, o milionário árabe Dodi Al-Fayed (filho do dono das megalojas Harrod's e do Hotel Ritz de Paris), pensando ainda converter-se ao islamismo, o que poderia ser bem complicado para Família Real britânica. Outros defendem que a família queria se livrar dela, para facilitar um novo casamento do príncipe Charles. Os otimistas creem que a princesa simulou a sua própria morte para escapar às atenções excessivas.

 

Há uma teoria da conspiração que afirma serem os vírus de grandes epidemias, como o Ebola ou o HIV, produzidos em laboratório pelas grandes potências com vistas a controlar a população do Terceiro Mundo e algumas minorias sociais.

 

3 A AIDS foi fabricada. Quem faz parte da comunidade científica acredita, regra geral, que o HIV evoluiu de uma estirpe do vírus da imunodeficiência símia da África Ocidental. Mas num grupo de 500 negros americanos ouvido em 2005 pelo Journal of Acquired Immune Deficience Syndrome, mais da metade pensava que a AIDS fora criada pelo Governo. As teorias sobre os motivos alegados da criação do vírus vão do controle demográfico ao enfraquecimento dos grupos étnicos minoritários e dos homossexuais. Também há quem afirme que existe cura, que o Governo oculta por razões semelhantes.

 

11 de setembro seria um projeto do Governo norte-americano?

 

4 Governo e 11 de Setembro.  É a teoria da conspiração mais pesquisada na internet. Abundam as teorias sobre o papel do Governo dos EUA no 11 de Setembro de 2001, mas a maioria defende que a Administração Bush teve conhecimento prévio dos atentados, não fez nada para evita-lo ou até mesmo os orquestrou. Ambas as versões partem do principio de que Bush queria ganhar mais poder e apoio popular. Disseram que as torres do World Trade Center caíram devido a explosivos colocados, que nenhum avião se chocou com o Pentágono e que o voo 93 despencou na Pensilvânia por ter sido abatido. Esta teoria foi alimentada quando Donald Rumsfeld disse acidentalmente, num discurso de 2001, que o avião fora abatido por terroristas.

 

Afinal, Elvis Presley morreu ou não? Pelo menos, o astro permanece vivo na pele dos seus imitadores

 

5 Elvis não morreu. Muitos acreditam que Elvis Presley está vivo e de boa saúde e não falta quem diga ter visto o cantor ao longo dos anos. A maioria indica como prova crucial um erro na lápide funerária: diz que o nome do meio de Elvis é “Aaron”, mas sua certidão de nascimento indica “Aron”. Os motivos para a morte fingida vão desde o desejo de se afastar do público até ter sido colocado num programa de proteção de testemunhas do FBI por ser informante no combate ao narcotráfico. Esse rumor começou quando o artista se encontrou com Nixon, em 1970, e disse que queria ajudar a erradicar o consumo da droga.

 

Ainda existe quem acredita que o homem na verdade nunca pôs os pés na superfície da Lua.

 

6 O homem não foi à Lua. Embora a teoria da falsa alunagem tenha sido desmontada, ela ainda tem seguidores encarniçados. Fotografias e vídeos manipulados, desenhos técnicos da nave que se perderam e gravações defeituosas são os supostos indícios da falsificação Um dos motivos mais populares para a falsa chegada à Lua é que a Administração Nixon queria vencer a "corrida ao espaço" com a União Soviética e gerar confiança do povo na NASA. No entanto, a maioria dos americanos acredita que Buzz Aldrin e Neil Armstrong caminharam mesmo na superfície da Lua naquele famoso dia 20 de julho 1969.

 

Na ilustração, restos do disco voador que teria sido encontrado em Roswel.

 

7 Ovni em Roswel. Quando o rancheiro Mac Brazel encontrou destroços estranhos no seu terreno, em 1947, alertou as autoridades. Nesse dia a base aérea de Roswell emitiu um comunicado que dizia que fora descoberto um "disco voador"; mais tarde as Forças Armadas dos EUA disseram que caíra um balão meteorológico. Esse deslize gerou uma enorme teoria da conspiração segundo a qual o governo tentara encobrir provas da existência de ovnis e seres extraterrestres. Há até mesmo quem diga que foram encontrados cadáveres de alienígenas no local. A história que circula agora é que o balão fazia parte do Projeto Mogul, um esforço do governo para espionar os testes nucleares soviéticos. Roswell é hoje um destino turístico procuradíssimo pelos entusiastas dos extraterrestres.

 

Enquanto as facções debatem se o aquecimento global acontece por culpa da mão do homem ou por causas naturais, a Terra caminha para se tornar um forno.

 

8. Aquecimento global é fraude.  Apesar do famoso documentário de Al Gore e das convicções bem fundamentadas da maioria dos cientistas, ainda há quem acredite que o aquecimento global não está acontecendo. O fato de a temperatura média mundial aumentar continuamente é irrefutável, mas os adeptos dessa teoria acreditam que isso se deve à tecnologia criada pelos governantes mais poderosos para manter o povo em estado de pânico, com o objetivo de controlar ou reduzir a população mundial. Al Gore, a ONU e Maurice Strong (figura de proa da política ambiental) são frequentemente indicados como alimentadores do “mito” do aquecimento global.

9. Shakespeare existiu de fato? O dramaturgo mais famoso do mundo foi um único indivíduo e escreveu as peças todas? Os amantes da conspiração debatem a vida de William Shakespeare há anos, defendendo que se tratava apenas do pseudônimo de um conjunto de escritores, o que explicaria certas variações da assinatura do “bardo” ao longo da carreira. Outros pensam que ele existiu, mas era simplesmente a capa, o “laranja” dos escritos de outros, como Christopher Marlowe, Francis Bacon, ou a própria rainha Elizabeth I. O principal argumento contra a existência de Shakespeare é bem elitista: o fato de ele não ter frequentado a escola. Não obstante, essa teoria ocupa a quinta posição nas pesquisas sobre as teorias da conspiração no Google.

 

Alienígenas com a aparência de répteis controlariam hoje praticamente todos os países importantes

 

10. Somos controlados por extraterrestres humanoides. Esta é, certamente, uma das teorias mais amalucadas que circulam por aí. Foi lançada em 1999, no livro The Biggest Secret: The Book that will change the World, de David Icke. O autor explica que a maioria dos líderes mundiais – incluindo presidentes dos Estados Unidos – são humanoides parecidos a repteis, capazes de mudar de forma, oriundos de outros planetas. Eles desencadeiam guerras e são responsáveis por acontecimentos hediondos como o 11 de setembro, de forma a promover o medo e o ódio, sentimentos dos quais se nutrem e dos quais extraem sua força. Essa teoria inspirou uma série de televisão e vários filmes.

(*) Dean Burnett é doutor em neurociências na Universidade de Cardiff. É  também autor de textos humorísticos e profissional de apresentações ao vivo de números de humor. Alimenta um blog na seção de Ciência do jornal britânico The Guardian.

 

NA INTERNET CORRE O BOATO...

Os internautas que mais rapidamente aderem às teorias da conspiração são, também, os mais ávidos de informação. O problema é que eles tendem a procurá-la à margem da mídia possuidora de credibilidade.

Fonte: MIT Technology Review, Cambridge (Massachusetts)

 

Em 2013, durante as eleições italianas, uma mensagem postada no Facebook espalhou-se como um rastilho de pólvora: “O Senado italiano adotou (com 257 votos a favor e 165 abstenções) uma lei proposta pelo senador Cirenga, que disponibilizará 134 bilhões de euros para os parlamentares irem procurar emprego, caso percam as eleições”.

A frase em questão apareceu inicialmente numa página do Facebook conhecida pelo seu conteúdo satírico e concebida para parodiar  a vida política italiana. A frase contem pelo menos quatro mentiras: o senador Cirenga não existe, o número total de votos é superior ao dos assentos no Parlamento italiano, o montante da causa representa mais de 10% do PIB da Itália e a própria lei é uma invenção.

Tal paródia, no entanto, encontrou forte eco junto aos eleitores desencantados, que a retransmitiram 35 mil vezes em menos de um mês! Depois, a situação ganhou um rumo estranho. A frase começou a ser replicada em outras páginas da Internet dedicadas à análise política e acompanhada por comentários suplementares. Essas novas versões foram retransmitidas em toda a parte mas, desta vez, com uma aparência de respeitabilidade. Desde então, em toda a Itália, os manifestantes começaram a se servir dessa pretensa lei para provar que todo o mundo político é corrupto.

Este é o mundo obscuro das teorias da conspiração. A difusão de falsas informações na Internet é um fenômeno á bem conhecido. Se você, por exemplo, já pensou na possibilidade de que o vírus da AIDS foi criado pelo Governos dos EUA para controlar a população africana, então você já foi vítima de uma fraude conspiratória.

 

 

Atração por conteúdos enganosos

Episódios desse tipo levantam questões: como são as pessoas expostas a ideias e informações falsas e como acabam por se convencer da sua veracidade? Podemos aprender muito sobre esse assunto graças ao trabalho de Walter Quattrociocchi, da Universidade de Boston, que estudou o modo como as pessoas reagem a publicações no Facebook a informações cuja inexatidão está comprovada.

Esse pesquisador, com sua equipe, estudou como foi que mais de um milhão de pessoas havia interpretado as informações publicadas no Facebook durante as eleições italianas de 2013. Observaram sobretudo quais as mensagens de que os utilizadores “gostavam” e comentavam em função das fontes consultadas: grandes órgãos de imprensa, mídias não tradicionais ou páginas dedicadas à análise política. Depois, estudaram como essas mesmas pessoas reagiam a notícias falsas publicadas por trolls ou seja, provocadores, em páginas conhecidas pelo seu conteúdo satírico, enganoso ou sectário.

Os resultados são fascinantes. Quattrociocchi e os seus colegas analisaram a duração dos debates, contando o tempo decorrido entre o primeiro e o último comentário. Essa duração é idêntica, qualquer que seja o tipo de conteúdo. Em outras palavras,   as pessoas tendem a debater em páginas tradicionais, não tradicionais e satíricas durante o mesmo lapso de tempo: o seu grau de envolvimento é o mesmo, seja qual for a natureza da informação.

Os investigadores quiseram depois comparar a participação dos internautas nos debates em função do carácter das informações em jogo, como no caso da lei fictícia. Concluíram que algumas pessoas eram mais propensas a participarem num debate que tivesse por base um conteúdo enganoso. Designadamente, observaram que aqueles que se exprimiam em paginas não pertencentes à imprensa tradicional eram muito mais suscetíveis de participar num debate lançado por agitadores com base em ideias falsas. “Notámos que a maioria dos internautas que interagem com a provocação obtêm as suas informações, sobretudo. de fontes não tradicionais. Por isso estão mais frequentemente expostos a dados sem fundamento."

 

 

Sátiras plausíveis

É um resultado interessante. Os investigadores observam que muitas pessoas são atraídas pela mídia alternativa porque as fontes tradicionais causam desconfiança, sobretudo na Itália, onde os meios de comunicação são fortemente influenciados por um ou outro campo político.

No entanto, essa busca de fontes independentes tem seus perigos. “Surpreendentemente, os consumidores de noticias que saem dos caminhos  trilhados, aqueles que mais querem evitar a manipulação

Da mídia tradicional, são também os que mais reagem às falsas declarações”, explica o artigo.

Essa conclusão sugere um mecanismo sobre a emergência das teorias da conspiração. Estas parecem nascer de um processo durante o qual uma análise satírica ordinária ou um conteúdo manifestamente fictício acabam sendo considerados plausíveis. Este processo parece surgir entre os grupos que se expõem deliberadamente a fontes de notícias paralelas à corrente majoritária.

Claro que não é só desta maneira que nascem as teorias da conspiração. Algumas serão verdades, deliberadamente suprimidas pelos grandes poderes como governos, grandes empresas, etc. O que estes estudos mostram é que há um mecanismo através do qual os acertos ganham plausibilidade e acabam por ser levados a sério.

A questão é como explorar esse resultado para melhorar a difusão e a classificação das informações, independentemente das suas origens.

 

 

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