A grande ilusão do Ocidente. Decepções da Europa liberal

Em 1990, mais de 90% dos eleitores alemães do Leste foram às urnas, levados pela esperança de uma democracia liberal. Atualmente, metade deles já perdeu as ilusões.

Em 1990, mais de 90% dos eleitores alemães do Leste foram às urnas, levados pela esperança de uma democracia liberal. Atualmente, metade deles já perdeu as ilusões.
Em 1990, mais de 90% dos eleitores alemães do Leste foram às urnas, levados pela esperança de uma democracia liberal. Atualmente, metade deles já perdeu as ilusões. (Foto: Gisele Federicce)


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A queda do Muro de Berlim, uma guinada histórica

 

Por: Stefan Berg

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Fonte: Revista Der Spiegel, Hamburgo

 

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O dia 18 de março é uma data associada à vitória da democracia. Há 25 anos, os cidadãos da RDA – República Democrática da Alemanha - elegiam pela primeira vez um parlamento através de escrutínio livre e secreto. Chegou o momento de perguntarmos para onde terá ido o entusiasmo pela democracia ocidental. Ou por que motivo esta já não parece ter o mesmo brilho. Parece que algo ficou pelo caminho, de março de 1990 para cá.

Ainda que, até essa altura, os alemães do leste não passassem de meros espectadores da democracia, eles aderiram ao novo modelo desde o primeiro instante. Mais de 90% dos eleitores usaram o seu direito de decidir sobre os assuntos do seu país. A passagem de um regime de partido único para o multipartidarismo confirmava, de forma espetacular, a influência do modelo em vigor nas democracias ocidentais e a vitória de uma economia de mercado regulada pelo Estado social. Porém, em vez de se mostrarem humildes, os representantes do modelo dominante foram arrogantes. Virando do avesso a frase de Nietzsche, Norbert Blüm (CDU), membro democrata-cristão do Governo de Bonn (então capital da RFA) proclamava “Marx morreu, Cristo está vivo". Esse triunfalismo iria marcar o processo de exportação do modelo político ocidental.

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Comunismo são os sovietes mais eletricidade', Lênin

 

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À semelhança de Lênin, que no seu tempo afirmara que o comunismo era os sovietes mais a eletricidade, o Ocidente pensava ter descoberto a fórmula mágica, tornando a aliança entre a democracia e a economia de mercado numa ordem quase natural. A flexibilidade estratégica em relação aos outros modelos de sociedade, que o Ocidente adquirira durante o período de confronto entre os dois blocos, na Guerra Fria, parecia ter deixado de ser necessária.

Este ou aquele regime pode se afundar, coisa à qual podem não ser estranhas as intervenções militares norte-americanas. Contudo, a política ocidental continua a esperar que as coisas se passem mais ou menos como no antigo Bloco do Leste àsvésperas da queda do Muro. Da China aos desertos do lraque ou da Líbia, supõe-se que a sede de multipartidarismo e a admiração pelo nosso conceito de liberdade são universais.

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No retrocesso democrático de alguns países muçulmanos, as mulheres são as maiores vítimas

 

O afastamento turco

A Primavera Árabe parecia confirmar esta tese. Contudo, não tardou que as novas liberdades fossem confiscadas, desta feita por via eleitoral, pelas novas maiorias reinantes. A política ocidental deu aos outros povos a sensação de não terem hipótese de escolha. Mas regimes que se orgulham de si mesmos, que conhecem o seu povo, incitam os seus compatriotas a não seguirem o modelo do Ocidente. E são aplaudidos.

Também na Alemanha, esse modelo, outrora incensado, perdeu a sua aura. Há 25 anos, o Ocidente ainda entusiasmava as pessoas que só o conheciam através da televisão. E hoje? Nas últimas eleições regionais (nos novos Länder, cerca de metade dos eleitores preferiram não sair de casa, por julgarem, obviamente, que uma sociedade livre passaria muito bem sem eles.

A data de 18 de março de 1990 assinala uma vitória da democracia. Mas, ao mesmo tempo, marca o inicio de um erro de avaliação cujas consequências nos poderão sair muito caras.

 

Protestos contra a Lei da Mordaça, em Madri

 

Excesso de Estado

Sob o título “Democracia, o que falhou”, a revista britânica The Economist já tinha publicado, em março de 2014, matéria de capa na qual registrava a estagnação prolongada da democracia em todo o mundo. O fenômeno era atribuído a dois fatores principais: a crise financeira de 2007-2008, que “revelou as fraquezas do Ocidente, e a ascensão da China, que oferece um modelo alternativo”.

Esse semanário liberal fornecia igualmente algumas pistas para revigorar a democracia. Em primeiro lugar, instituições mais fortes: muitas das recentes experiências falharam porque "se dava demasiada importância às eleições e muito pouca a outros aspetos essenciais da democracia”, como os contrapoderes (operações ou movimentos que se opõem a um poder previamente, estabelecido) e as liberdades individuais. Acima de tudo, porém, “um Estado mais limitado”, uma ideia “que já vem do tempo da revolução americana”. Regras orçamentais e comissões independentes podem permitir enquadrar o poder dos governos. Para evitar os excessos tecnocráticos, este semanário propõe ainda a delegação das decisões nas “pessoas comuns”, por exemplo através de referendos locais sobre iniciativas de cidadãos.

 

Em Caracas, estudante protesta contra o endurecimento do regime do presidente Nicolás Maduro

 

Marcha-à-ré na América Latina

A situação atual da Venezuela é embaraçosa para os vizinhos latino-americanos. Nesse país, cuja economia está exangue, a posição de força assumida pelo presidente Nicolás Maduro para silenciar a oposição, investindo-se de plenos poderes, apenas despertou “um silêncio cúmplice, que revela a falta de empenho na democracia” dos outros governos da América Latina, afirma, no diário espanhol El País, o antigo Presidente do Uruguai, Julio María Sanguinetti. “A falta de uma resposta vigorosa à crise venezuelana revela um problema latino-americano mais vasto: o abandono dos fundamentos da democracia representativa”, observa um perito internacional, no diário colombiano El Tiempo.

 

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