O rosto que vem da pré-história. A arte de recriar uma face extinta

A reconstrução dos rostos dos hominídeos que existiram ao longo dos milhões de anos em que durou a evolução da espécie humana é a paixão e a arte do paleoartista John Gurche. No vídeo abaixo, 4 milhões de anos de evolução são sintetizados em 2 minutos.

A reconstrução dos rostos dos hominídeos que existiram ao longo dos milhões de anos em que durou a evolução da espécie humana é a paixão e a arte do paleoartista John Gurche. No vídeo abaixo, 4 milhões de anos de evolução são sintetizados em 2 minutos.
A reconstrução dos rostos dos hominídeos que existiram ao longo dos milhões de anos em que durou a evolução da espécie humana é a paixão e a arte do paleoartista John Gurche. No vídeo abaixo, 4 milhões de anos de evolução são sintetizados em 2 minutos. (Foto: Gisele Federicce)


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Como se reconstrói um rosto.

 

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Ilustrações: John Gurche – Shaping Humanity

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Por: Equipe Oásis

 

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No seu livro “Shaping Humanity”, o paleoartista John Gurche descreve o processo que utiliza para criar esculturas que trazem de volta o formato e a expressão anímica de hominídeos que viveram há milhões de anos. Trata-se de um trabalho muito complexo que requer as competências artísticas e científicas de uma selecionada equipe de paleoantropólogos, antropólogos forenses, anatomistas, arqueólogos e artistas de várias áreas.

A intuição de que existisse uma relação precisa entre a estrutura óssea do crânio e o aspecto exterior do rosto surgiu ao redor do ano 1880 pelo anatomista alemão Hermann Welcker. Ele mediu e catalogou a espessura dos tecidos moles do rosto em posições preestabelecidas (os assim chamados “pontos craniométricos”) de centenas de cadáveres. Todas as medidas foram inscritas em um arquivo, calculadas estatisticamente e classificadas junto a outros dados como a etnia e o sexo.

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Em 2015, a análise genética da mandíbula de um Homo sapiens que viveu na atual Romênia entre 42 mil e 37 mil anos revela traços de um antepassado Neanderthal (talvez o pai do seu trisavô) nas 4-6 gerações precedentes.

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Com toda essa bagagem de informações e conhecimentos, a partir do crânio de uma pessoa era, e é, possível reconstruir o seu rosto. Com efeito, esse procedimento chegou quase intacto aos nossos dias, embora, desde então, a técnica tenha feito enormes passos à frente.

Nos laboratórios dos reconstrutores se produz o molde em resina do crânio (preferivelmente usando-se a técnica menos invasiva da ressonância magnética axial, que cria um modelo virtual tridimensional), e nele se posiciona uma série de pequenos pinos com a espessura correspondente às medidas médias catalogadas através dos anos, e depois se modela o rosto. Aparentemente, é uma brincadeira de criança. Na realidade, trata-se de um processo muito complicado que pode levar a resultados muito diversos.

 

Em 1936, o paleontólogo alemão GHR von Koenigswald (na foto) encontrou em Java, um exemplar fóssil de Homo erectus. Ele tentou provar que esses restos não pertenciam a um símio, mas a um hominídeo surgido pela primeira vez na África há 2 milhões de anos.

 

 

Como trabalha um paleoartista

Para modelar a boca leva-se em conta a disposição dos dentes. A largura, por exemplo, é determinada pela distância entre os caninos. O nariz é uma das partes mais difíceis de reconstruir: a forma é deduzida pela conformação dos ossos nasais. O tamanho dos olhos depende das dimensões das cavidades oculares no interior do crânio, enquanto a idade (e a etnia) contribuem para definir a sua forma.

Para incrementar o realismo das “cabeleiras” dos hominídeos mais antigos, usa-se um mix de cabelos humanos e pelos de yak (o boi tibetano), o que dá um efeito encrespado, similar ao pelo dos macacos.

 

Em 1960, escavações arqueológicas na Garganta Olduvai, na Tanzânia, trazem à luz restos fósseis daquilo que parecia ser nexo de ligação entre os australopitecos e o homem.

 

Como se reconstrói um rosto: Sobre alguns pontos preestabelecidos de um molde de crânio de hominídeo se posicionam uma série de pequenos pinos de comprimento diverso, correspondente à espessura dos tecidos moles do rosto naquelas posições. Com base na altura dos pinos, se estendem os músculos de plastilina e em seguida a pele artificial, rugas incluídas. No caso dos hominídeos, essa espessura é calculada com base em muitos fatores diversos.

A ciência, com certeza, presta aos especialistas uma grande ajuda (com a cumplicidade da natureza, que conserva os crânios às vezes durante milhões de anos): a análise dos restos nos revela o grupo humano, a idade no momento da morte, o sexo, as moléstias de que o indivíduo sofria, a presença de eventuais defeitos, a dieta, o clima, as condições de vida. E tudo isso possibilita uma reconstrução mais acurada e precisa.

 

Em 2015, a análise de uma mandíbula de hominídeo – presumivelmente um Homo habilis – encontrada na Etiópia, revela que o gênero humano surgiu na África cerca de 2,8 milhões de anos atrás, meio milhão de anos antes do que se acreditava até então.

 

 

O aspecto artístico intervém para dar uma “alma” à pessoa reconstruída, mas sempre com grande rigor científico: a ajuda de anatomistas, paleontólogos e arqueólogos é fundamental para decidir a cor da pele ou o aspecto dos cabelos. Inclusive saber em que fauna e flora vivia o sujeito ajuda: se, por exemplo, os animais que conviviam com o hominídeo a ser reconstruído eram similares àqueles que compõem hoje a fauna africana, significa que o clima era tórrido, e a pele e os cabelos inevitavelmente escuros.

 

Vídeo: O vídeo abaixo mostra a evolução da nossa espécie, a partir do Australopithecus afarensis, hominídeo que viveu há cerca de 3 a 4 milhões de anos, até o homem moderno. Foi produzido para apresentar o livro Shaping Humanity - How Science, Art, and Imagination Help Us Understand Our Origins , escrito por John Gurche, um dos mais talentosos paleoartistas da atualidade, e autor de belíssimas e acuradas reconstruções realizadas para o Museu de História Natural Smithsonian.

 

 

 

GALERIA: 

 

As reconstruções do paleoartista John Gurche se estendem sobre 6 milhões de anos de evolução da nossa espécie.

 


 

O trabalho do artista parte do crânio fossilizado e graças ao conhecimento da anatomia humana e da anatomia dos símios consegue criar modelos bastante acurados.

 


Como se reconstrói um rosto.

Como o rosto é reconstruído. O trabalho começa no interno da peça e se dirige para o externo.

 

 

Para modelar a boca, leva-se em conta a disposição dos dentes. A largura, por exemplo, é determinada pela distância entre os caninos.


 

Reprodução em bronze do Paranthropus boisei, um hominídeo que viveu há 2 milhões de anos.


 

 

O estudo para a reconstrução do Homo erectus é iniciado a partir de uma série de desenhos. O aspecto artístico intervém para dar uma “alma” à pessoa reconstruída, mas sempre com forte rigor científico.


 

Para reconstruir algumas partes de um exemplar de Homo erectus, John Gurche utilizou inclusive um modelo humano e os seus músculos.


 

Algumas das reconstruções de John Gurche expostas no Museu de História Natural Smithsonian de Washington são feitas em bronze.

 

 

O aspecto que possuía Lucy, a fêmea de Australopithecus afarensis encontrada em Hadar, na Etiópia. Segundo alguns estudiosos, trata-se de um nosso antepassado direto.


 

A reconstrução do rosto de um homem de Neanderthal encontrado na França. Ele é bem diverso de um outro encontrado no Iraque (ver foto seguinte).


 

Reconstrução do rosto de um homem de Neanderthal encontrado no Iraque. Ele é bastante diverso de um outro encontrado na França (ver foto precedente).

 

O Homo ergaster é o mais antigo Homo erectus. Ele já fabricava utensílios de tipo complexo.

 

Este é o aspecto que deveria possuir o Homo rudolfensis.

 

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