Guerra aos sem-teto. Nos EUA, cidades perdem o bom senso

Para combater os moradores de rua, o distrito de Waikiki, em Honolulu, no arquipélago do Havaí, planeja mandar todos eles de avião para o continente.  Em Fort Lauderdale, na Flórida, um homem foi para na cadeia por dar comida a desabrigados. O que acontece nos estados Unidos?

Para combater os moradores de rua, o distrito de Waikiki, em Honolulu, no arquipélago do Havaí, planeja mandar todos eles de avião para o continente.  Em Fort Lauderdale, na Flórida, um homem foi para na cadeia por dar comida a desabrigados. O que acontece nos estados Unidos?
Para combater os moradores de rua, o distrito de Waikiki, em Honolulu, no arquipélago do Havaí, planeja mandar todos eles de avião para o continente.  Em Fort Lauderdale, na Flórida, um homem foi para na cadeia por dar comida a desabrigados. O que acontece nos estados Unidos? (Foto: Luis Pellegrini)


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Sem-teto Jim Trevarthen, 62 anos, observa os surfistas na praia de Waikiki, em Honolulu, Havaí

 

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Por: Melissa Breyer

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Fonte: Site Mother Nature Network (www.mnn.com)

 

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Recente relatório do Congresso norte-americano estima que, só neste ano, 578.424 pessoas experimentaram a condição de morador de rua nos Estados Unidos. Isso representa cerca de 10% de redução no número de indivíduos sem-teto que perambulam pelas cidades americanas desde 2010, quando a administração Obama lançou a primeira estratégia com lógica para prevenir e por fim ao drama dos desabrigados.

O projeto já mostra alguns resultados, mas enquanto ele segue avante, várias cidades e estados no país estão tentando aplicar soluções que provocam frustração e até mesmo desespero.

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Em junho último, o prefeito de Honolulu, Kirk Caldwell, escreveu um artigo publicado no jornal The Honolulu Star-Advertiser no qual afirmava: “Chegou o momento de declarar guerra aos sem-teto, cuja presença criou uma verdadeira crise em Honolulu. Não podemos permitir que os moradores de rua arruínem a nossa economia e tomem posse da cidade”.

 

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Em parque público de Honolulu, fila de barracas de moradores de rua

 

Em setembro, seduzido pela ideia, o Honolulu City Council – uma espécie de câmera de vereadores local – aprovou medidas duras para expulsar os sem-teto dos pontos turísticos mais importantes do Havaí, inclusive uma que proíbe a permanência de pessoas sentadas ou deitadas nas calçadas de Waikiki.

Há poucos dias, o Institute for Human Services havaiano gastou 1,3 milhão de dólares para lançar uma iniciativa que amplia essas proibições, estendendo-a a todas as demais ruas da capital. A permanência dos sem-teto será proibida em qualquer ponto das belas avenidas arborizadas de Honolulu. Entre as medidas preconizadas por esse plano está a expulsão e o envio por via aérea ao continente das algumas centenas de moradores de rua que vivem nas ilhas do arquipélago. Será como empacotá-los e mandá-los para bem longe.

 

Em muitas cidades norte-americanas centenas de sem-teto perambulam pelas ruas

 

Como reagiram os cidadãos havaianos? Muitos apoiam ostensivamente o plano, outros preferem não se manifestar e ficar calados. Somente uns poucos protestam. “Quando os moradores ficam sabendo que a queixa número um dos turistas que visitam a ilha, e o principal motivo pelo qual declaram que não voltarão ao Havaí é justamente a presença dos sem-teto, você realmente se depara com uma questão que diz respeito a todos nós”, declara George Szigeti, presidente da Hawaii Lodging & Tourism Association.

Mas nem todos concordam. A instituição religiosa Interfaith Alliance Hawaii’s Bishop Stephen Randolph Sykes, por exemplo, apresenta sérias dúvidas se o governo havaiano está certo ao tentar se livrar dos moradores de rua de modo tão radical. “Reconhecemos que Waikiki é o nosso motor econômico, e manter moradores de rua nesse bairro não é algo que deva ser considerado benéfico”, diz o líder da instituição. “Mas criminalizar e punir uma pessoa apenas porque ela  não tem onde morar nos parece absurdo e imoral”, ele completa.

 

Arnold Abbott no momento em que recebe ordem de prisão por dar comida a moradores de rua

 

Enquanto isso, em Fort Lauderdale, Flórida, o cidadão Arnold Abbott, de 90 anos, passou os últimos anos dedicando-se à alimentação de moradores de rua. Como de costume, ele fornecia 300 almoços preparados em sua casa para pessoas desabrigadas quando, apos entregar apenas 3 pratos, foi preso pela polícia local. O crime? Violar uma lei recente que proíbe a grupos de caridade a doação, em locais públicos, de alimentos a desabrigados. Abbott e dois amigos que o ajudavam na tarefa foram condenados a 60 dias de cadeia e a pagar uma multa de 500 dólares.

 

Arnold Abbott, 90 anos, foi preso e multado em Fort Lauderdale, na Flórida, por organizar um mutirão de alimentação a moradores de rua

 

Vamos deixá-los morrer de fome?

Um dos itens dessa nova lei autoriza as autoridades a confiscar os pertences do morador de rua e guarda-los num depósito até que o proprietário pague uma taxa à municipalidade.

Como informou recentemente o jornal Washington Post, as ações de caridade para a alimentação dessas pessoas estão severamente restringidas. Declaram que a localização dos lugares internos para distribuição de comida devem distar no mínimo 200 metros um do outro, e não podem funcionar ao mesmo tempo em um mesmo quarteirão. Esses locais, por outro lado, têm que distar obrigatoriamente um mínimo de 200 metros de qualquer residência habitada, e além disso os organizadores devem pedir e obter permissão dos moradores mais próximos para a instalação de banheiros portáteis nas proximidades.

E Fort Lauderdale não está sozinha ao decretar tais proibições e punições. Nos últimos 2 anos, 21 outras cidades aprovaram leis que restringem a doação de alimentos para os moradores de rua. A National Coalition for the Homeless, organização para a proteção dos desabrigados, informa que no momento mais 10 cidades norte-americanas estão planejando por em prática medidas similares.

 

Shauna Landry é sem-teto em Waikiki há mais de 3 meses. No cartaz, ela pede ajuda para matar a fome

 

Da mesma forma que Abbott, a National Coalition protesta contra essas medidas e começa a lutar judicialmente contra elas.

“Como já fizemos no passado, seremos novamente obrigados a processar a cidade de Fort Lauderdale. Trata-se de uma bela cidade, sem dúvida, mas os sem-teto que vivem aqui são os mais pobres dentre os pobres, eles não possuem nada, não têm onde morar. Como podemos expulsá-los?”

O plano de Barack Obama para os desabrigados cria estratégias que inclui moradia, saúde, educação e programas humanitários para acabar com o problema dos sem-teto nos estados Unidos. Espera-se que ele será totalmente funcional ao redor de 2020. Até lá, alimentar pessoas famintas será uma atividade assim tão perigosa? Devemos por acaso deixar essas pessoas morrer de fome?

 

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