Inglaterra fora da Europa. O pesadelo do dia seguinte

A Grã-Bretanha se prepara para votar o referendo que decidirá se permanecerá integrada à União Europeia. Que acontecerá caso os britânicos votem pela saída da UE? Eis o cenário catastrófico imaginado em tom irônico e mordaz por um jornalista inglês.

A Grã-Bretanha se prepara para votar o referendo que decidirá se permanecerá integrada à União Europeia. Que acontecerá caso os britânicos votem pela saída da UE? Eis o cenário catastrófico imaginado em tom irônico e mordaz por um jornalista inglês.
A Grã-Bretanha se prepara para votar o referendo que decidirá se permanecerá integrada à União Europeia. Que acontecerá caso os britânicos votem pela saída da UE? Eis o cenário catastrófico imaginado em tom irônico e mordaz por um jornalista inglês. (Foto: Luis Pellegrini)


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Os britânicos a favor da saída da Grã-Bretanha da Europa Unida saem às ruas paramentados.

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Por: Gideon Rachman. Fonte: Jornal Financial Times, Londres

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Dia 24 de junho de 2016. O Reino Unido acaba de decidir por meia-dúzia de votos sair da União Europeia. Radiantes, os apoiadores do Brexit arvoram bandeiras britânicas na Trafalgar Square. Com um ar destroçado, David Cameron aparece à porta do n° 10 de Downing Street para dizer que respeita o veredicto do povo e que pretende continuar como primeiro- ministro.

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As nuvens negras adensam-se com uma quebra das bolsas de valores em toda a Europa. Os governos francês e alemão emitem um comunicado conjunto defendendo serem indispensáveis passos decisivos para uma união política e prometendo um "governo econômico" para a UE.

Em Edimburgo, a primeira–ministra Nicola Sturgeon recorda que, tendo os escoceses votado pela permanência na UE, vai exigir novo referendo para a independência da Escócia.

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David Cameron, primeiro-ministro do Reino Unido, e Angela Merkel, chanceler da Alemanha.

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Nos dias que se seguem, o governo conservador consome-se em lutas internas. Torna-se claro que a autoridade do primeiro-ministro foi demasiado afetada para que possa permanecer no cargo. Cameron demite-se e o partido marca eleições internas. Boris Johnson derrota George Osborne e é convidado a formar governo. À porta de Downing Street, o novo primeiro-ministro diverte a imprensa, falando em latim antes de entrar na sua nova casa. Ao faze-lo, parece tropeçar no degrau da entrada.

Já dentro do No 10, servem a Boris uma chávena de chá e levam-no a uma reunião com sir Jeremy Heywood, chefe do serviço público do Reino Unido. Sir Jeremy, que se sabe ter estado, em privado, contra o Brexit, mostra-se bem-educado, mas firme. Com os mercados em alvoroço, diz ao novo governante que é imperativo introduzir alguma clareza no processo do Brexit.

A campanha pela saída, liderada por Johnson, fizera duas promessas cruciais. 1) Controlar a imigração, retirando o Reino Unido da alçada das leis da UE sobre "livre circulação de pessoas". 2) Manter o comércio livre com a UE.

Sir Jeremy observa, polidamente, que as duas promessas são incompatíveis. Recorda a Boris que o mercado interno da UE se baseia na livre circulação de bens, capitais, serviços e pessoas.

Ao abrigo da legislação europeia, estas quatro liberdades são inseparáveis. Suíça e Noruega - que não estão na UE mas querem acesso ilimitado ao seu mercado – tiveram de aceitar a livre circulação dos trabalhadores. Em que ficamos? Imigração controlada ou pleno acesso ao mercado interno?

Os dilemas de Boris Johnson

Durante a campanha. Boris conseguira fugir a esta escolha, mas agora não. O seu instinto político diz- lhe que o livre comércio tem muito mais importância do que o controle da imigração. A sua passagem pela Câmara de Londres, ensinara-lhe que a capital vivia do fluxo de mão de obra da Europa. Mas também sabe que a questão da imigração determinou a vitória do Brexit.

Um acordo à norueguesa - em que o Reino Unido aceitasse todas as leis da UE, incluindo a livre circulação de pessoas, a troco de acesso ao mercado único - não seria aceitável para o partido. Os conservadores exigem controle da imigração. Nada mais incompatível aos olhos de Bruxelas que querer, ao mesmo tempo, controlar a imigração e ter comércio livre com a UE e reposição da soberania parlamentar.

 

Os britânicos mais jovens optam em sua maioria pela saída. Os mais maduros - e mais prudentes - preferem permanecer no sistema europeu.

 

Boris pergunta: “E o Canadá?. Sir Jeremy já estava à espera disto. Com um misto de pena e sadismo, começa a explicar as limitações do acordo de livre comércio UF-Canadá relativamente ao quadro cessante. Primeiro há a questão do tempo. Quando o país anunciar, ao abrigo do artigo 50 do Tratado de Lisboa, que pretende sair da UE, terá apenas dois anos para negociar um novo acordo comercial com a UE. Acontece que as negociações com o Canadá começaram em 2009 [e terminaram em 2014].

Sir Jeremy adota a linguagem própria de RG. Wodehouse, tão do agrado de Boris, e acrescenta: “Receio ter de lhe dizer, senhor primeiro-ministro, que o diabo do acordo ainda não foi ratificado."

Boris parece abatido, por um momento, pelo que sir Jeremy continua: o segundo problema do modelo canadense é que, embora abolindo as tarifas sobre produtos industriais, não garante um verdadeiro comércio livre de serviços. Talvez o primeiro-ministro se lembre do seu tempo de autarca, murmura sir Jeremy, que os serviços, sobretudo os financeiros, têm uma certa importância para a economia britânica.

Boris decide que não há remédio. Tem de ir à Alemanha cortejar a verdadeira líder da Europa. Em Berlim, fica agradavelmente surpreendido pela calorosa recepção que lhe dispensa Angela Merkel. A chanceler alemã diz que, embora lamente a decisão dos britânicos, fará todo o possível para garantir um acordo justo para o Reino Unido.

O primeiro-ministro regressa animado, mas passam semanas sem uma palavra de Berlim. Quando o telefone toca, por fim, é a "tia Angela”. Num tom pesaroso, diz que a Alemanha gostaria de dar ao Reino Unido acesso privilegiado ao mercado único, sem a exigência da livre circulação de mão de obra, mas que a Comissão Europeia diz que isso é ilegal. 0 Parlamento Europeu nem quer ouvir falar disso e quanto aos franceses, melhor nem comentar... Até que a senhora Merkel sugere: “A menos que a Grã-Bretanha esteja disposta a aceitar 200 mil refugiados sírios?"

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