Candidato do PSTU aposta em mobilizações nas ruas

Natural de São Borja, o candidato do PSTU ao Senado, prega a organização do povo para formar um governo socialista, dedicado aos trabalhadores; ele considera que o PT vem negando suas raízes de esquerda e que o lançamento de Olívio Dutra ao Senado visa também tirar votos da Frente de Esquerda; para Júlio, só a luta, as mobilizações de rua levarão o povo a tomar consciência da necessidade de fazer "mudanças mais profundas"; no Estado, PSOL e PSTU estão junto, tendo como candidato ao governo, Roberto Robaina

2014.07.07 - Porto Alegre/RS/Brasil - Entrevista com o candidato ao Senado Júlio Flores. Local: Redação Sul21. Foto: Juliano Antunes/Sul21
2014.07.07 - Porto Alegre/RS/Brasil - Entrevista com o candidato ao Senado Júlio Flores. Local: Redação Sul21. Foto: Juliano Antunes/Sul21 (Foto: Leonardo Lucena)


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Nubia Silveira, Sul 21 - Natural de São Borja, o candidato do PSTU ao Senado, faz política desde os 15 anos. "De 1996 em diante, concorri em todas as eleições", afirma Júlio Flores, professor de Matemática, na rede estadual de ensino. Ele chegou a ser eleito para a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, em 2000 e 2004, mas não assumiu, porque o partido não alcançou o quociente eleitoral. Para as eleições deste ano, o PSTU pretendia formar uma frente de esquerda tanto em nível nacional quanto regional, aliando-se ao PSOL e ao PCB. Não foi possível. Todos lançaram candidatos à presidência da República. No Estado, PSOL e PSTU estão junto, tendo como candidato ao governo, Roberto Robaina.

Ele prega a organização do povo para formar um governo socialista, dedicado aos trabalhadores. Considera que o PT vem negando suas raízes de esquerda. E que o lançamento de Olívio Dutra ao Senado visa também tirar votos da Frente de Esquerda. Para Júlio, só a luta, as mobilizações de rua levarão o povo a tomar consciência da necessidade de fazer "mudanças mais profundas". Nesta entrevista ao Sul21, ele diz no que aposta para a implementação de um projeto socialista no Brasil: "As pessoas percebem que precisam sair para a rua e tomar em suas próprias mãos o destino das mudanças sociais, políticas e econômicas. É nisso que nós apostamos: na própria experiência do povo."

Sul21 – O que o levou a concorrer nas próximas eleições?

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Julio Flores – Em primeiro lugar, porque nós tínhamos um propósito muito firme de estabelecer uma aliança numa Frente de Esquerda entre PSOL, PCB e PSTU a nível nacional. Fazer uma discussão entre todos os setores para disputar uma alternativa a essa falsa polarização existente entre o governo Dilma e o PSDB, com Aécio Neves. E também, aqui no estado, a falsa polarização entre Ana Amélia (PP), um projeto da direita tradicional, e o governo do Tarso Genro, que representa uma opção para a implementação do neoliberalismo, também. E, felizmente, nós conseguimos isso no RS: temos uma frente estabelecida. Chegamos a um acordo de que o PSOL deveria encabeçar sua candidatura ao governo e nós, ao Senado – uma coligação em todos os níveis para disputar uma alternativa de esquerda para o RS. O PCB, infelizmente, não compôs esta frente, decidiu lançar sua candidatura. E a nível nacional, nós não conseguimos, também, tanto que PSOL lançou Luciana Genro e nós optamos por Zé Maria como candidato à presidência da República, para apresentar uma alternativa socialista de governo dos trabalhadores. O principal é a disputa nacional, porque se tu tens os trabalhadores no governo, representados por suas organizações, pelos partidos de esquerda, as transformações nos estados ocorrem mais facilmente. E nós estamos muito orgulhosos do nosso candidato Zé Maria e da vice Claudia Durans, para apresentar este projeto socialista, de ruptura com o grande capital e de um governo que seja exercido pelos próprios trabalhadores, através de suas organizações. E isso mudando a estrutura fundamental do país, rompendo com o pagamento da dívida externa, estatizando o sistema financeiro – porque não se pode fazer mudanças estruturais a favor dos trabalhadores e do povo se o comando da economia fica na mão dos bancos –, uma reforma agrária profunda e uma luta para que os trabalhadores se organizem de maneira a governar suas próprias cidades, estados e o país. Um projeto para mudar a face e colocar a economia sob controle do povo, e não como é hoje, que está nas mãos de poucos grupos privados.

Sul21 – O Brasil estaria preparado para o regime socialista?

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Julio Flores – Sem dúvida nenhuma, as condições objetivas estão postas. O que falta é a gente organizar o povo para tomar esta consciência e se colocar à disposição de travar uma luta neste sentido. As jornadas de junho do ano passado, reunindo 3 ou 4 milhões de pessoas no país inteiro, mostraram não só que o povo está descontente, como é possível ele sair às ruas e estabelecer mudanças fundamentais na luta política. Porque as pessoas estão cansadas dos desmandos, dos gastos excessivos com as obras da Copa, enquanto a saúde e a educação são deixadas de lado por parte dos governos, particularmente do governo Dilma e do governo Tarso.

Sul21 – Vocês se colocam como a esquerda da esquerda. O que significa isso?
Julio Flores – Quem deixou de ser esquerda foi o PT, particularmente. Ele surgiu há 20, 30 anos, com o propósito de fazer transformações profundas. As grandes greves da década de 70 e 80 colocaram a possibilidade de os trabalhadores construírem um instrumento seu, para fazer as transformações. Só que este partido foi se transformando, deixou de ser de esquerda. Goza de muito prestígio na população, que nesses 20 anos jogou suas esperanças nele. O que de fato ocorre é que as pessoas se iludem e acham que o PT podia mudar, mas são mais de 10 anos de governo e o que vemos é uma aplicação mais eficaz dos projetos do próprio Fernando Henrique e do PSDB. Gozam da confiança da população, mas estão implementando as mudanças tão desejadas pelo próprio PSDB, pelos banqueiros, pelos industriais, pelo capital financeiro e pelos governos a nível internacional. Bandeiras fundamentais foram abandonadas pelo PT, como a suspensão do pagamento da dívida externa, a estatização do sistema financeiro, a proposta do governo dos trabalhadores completamente abandonada, a reforma agrária não foi realizada e há avanços em privatizações, inclusive (portos e aeroportos), pelo governo Dilma. O pré-sal praticamente está nas mãos das grandes empresas petrolíferas internacionais. Então, os projetos do PSDB estão sendo implementados pelo PT, a nível nacional e regional. De fato, esta mudança causou uma crise muito grande nos partidos que entraram para o poder e se modificaram. Tanto que é os grandes aliados dos governos do PT são PMDB, PDT, PFL e PP. Como grande aliados do governo Lula e Dilma, temos Sarney e Renan Calheiros, velhos caciques da política, em torno da corrupção, dos conchavos.

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Sul21 – O senhor é contra as coligações para lançar candidatos?

Julio Flores – As alianças que tenham princípios sólidos, como a que estamos fazendo com o PSOL, são extremamente válidas, porque são projetos comuns. As alianças que foram feitas pelos demais partidos têm mais a ver com acordos entre as elites, conchavos entre os partidos. No fim de contas, eles acabam mudando seus projetos para eleger, para ter governabilidade, e quem perde com isso é o povo.

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Sul21 – No que o PSTU já avançou em termos de mudanças na sociedade?

Julio Flores – O PSTU tem 20 anos. Um setor do PT foi expulso em 1992, por conta de uma diferença fundamental. O PT condenou a Convergência Socialista por ter ido às ruas defender o Fora Collor antes que o Partido tomasse esta decisão. Nós saímos para construir outro partido, porque verificamos que ali não havia mais nada o que fazer, era um processo irreversível no sentido de adaptação ao status quo, de aplicação dos projetos do capital. Aquele momento exigia uma resposta forte do povo nas ruas, e isso aconteceu logo depois no Fora Collor. Ele pediu na TV para as pessoas vestirem verde e amarelo e todo mundo saiu de preto. O PT não queria o Fora Collor e depois teve que se adaptar, se relocalizaram e puderam capitalizar isso. Em 1994 fizemos um congresso em torno de um programa socialista para o país, em parte parecido com o do PT, em parte superior, porque o PT era um partido mais classista do que socialista. O PT surgiu muito progressivo para os trabalhadores, mas depois regressivo, porque a cúpula foi ganhando, para que o PT seja hoje um partido policlassista: admite alianças com setores patronais, reformas que não mudam essencialmente a situação; na verdade, constitui um governo sem reformas, que aplicou o projeto neoliberal.

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Sul21 – A sensação que fica é que o PT é o grande adversário do PSTU. Seria assim?

Julio Flores – Neste sentido, sim. Obviamente não queremos que os originais voltem a comandar diretamente. Achamos que seria um retrocesso voltar Fernando Henrique Cardoso, mas não queremos a continuação do que está aí, pois eles são uma cópia dos governos anteriores, com maneiras mais eficazes de iludir a população e seguir implementando os mesmos projetos. Por isso construímos uma alternativa de esquerda, para cumprir este papel de governo dos trabalhadores, sem estas alianças espúrias e por cima dessas instituições podres da República, que só servem para a corrupção e para aprovar projetos contra os trabalhadores.

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Sul21 – Vocês não têm conseguido atingir grande percentual de votos. Já atingiram o teto de votos ou podem mais? O que farão pra isso?

Julio Flores – Na verdade, não chegamos a um teto. O que ocorre é que a maioria das pessoas está iludida com o PT e aos poucos vão percebendo o que criticamos. Milhares de pessoas tiveram esta experiência, mas nem todas estão seguras para dar um passo adiante e concordar ipsis litteris com o que dissemos. É um processo. Com o aprofundar da luta, das mobilizações que já foram sinalizadas, elas tomarão consciência da necessidade de fazer mudanças mais profundas. Há 20, 30 anos, entra e sai eleição, discutimos as mesmas coisas: miséria, arrocho salarial, privatizações, corrupção, benefícios das grandes empresas, dívidas dos estados e do Brasil com os bancos internacionais. São os mesmos problemas. Não adianta, a cada eleição, eleger e esperar que as coisas aconteçam. As pessoas percebem que precisam sair para a rua e tomar em suas próprias mãos o destino das mudanças sociais, políticas e econômicas. É nisso que nós apostamos: na própria experiência do povo. Com certeza deverá haver no próximo período uma grande reorganização político-sindical, cultural, de tal maneira que as pessoas se reorganizem e tomem uma decisão em larga escala de disputar o poder nas próprias ruas, disputar o poder para os trabalhadores, para o povo, que tenha o controle da economia, da política e da vida social.

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Sul21 – Chegam a pensar num confronto civil?

Julio Flores – Nós pensamos é que as pessoas têm que sair para a rua. Aliás, a nossa história está marcada por várias lutas: para derrubar a ditadura, a campanha das diretas, as mobilizações da década de 70, aquelas para derrubar o governo Collor, as de junho, mostrando insatisfação popular. É isso o que vai mudar. Não adianta eleger o Parlamento e esperar que essas instituições resolvam os problemas do povo. A mobilização tem que se intensificar, se aprofundar, e as pessoas têm que começar a decidir, se organizar para disputar isso aí. A história da humanidade já demonstrou que não são eleições, ou mudanças por acordo, que transformam a vida das pessoas. Do feudalismo para o capitalismo, tivemos a Revolução Francesa; do capitalismo para o socialismo, na Rússia, foi preciso uma revolução. As classes dominantes se utilizam, para manter sua dominação, das Forças Armadas, do exército, da polícia, para manter a “ordem”, como infelizmente tem acontecido no Brasil nesses tempos. Vocês sabem o quanto foi doloroso para as pessoas que saíram às ruas para manifestar sua indignação serem reprimidas pela polícia do governo Tarso. Pessoas, aqui no Rio Grande do Sul, estão criminalizadas, sofrendo um processo, porque estavam na liderança das mobilizações. Não fizeram nada mais do que reivindicar mudanças importantes – que não foram feitas até hoje, em educação, saúde, tarifa dos transportes, salários. A miséria do Brasil não acabou, ela se aprofundou. O que há, de fato, é uma maquiagem com as tais Bolsas Família, bolsa isto, aquilo. Colocam centenas de reais nas mãos das pessoas, migalhas que caem da mesa dos banquetes dos grandes banqueiros – porque a bolsa banqueiro neste país é muito maior, os lucros são extraordinários. O próprio Lula reconheceu que nunca antes na história deste país os banqueiros tiveram lucros tão altos quanto no governo dele. Para demonstrar o quanto os governos do PT são ilusionistas, prestidigitadores, que fazem parecer que está tudo bem, que melhorou a vida da população, no entanto, quem mais ganhou são os poderosos de sempre.

Sul21 – O senhor disse que com o Parlamento não se resolve tudo isso. Não seria uma contradição a sua própria candidatura?

Julio Flores – A vida é contraditória. Então, a gente atua nessas contradições. Achamos muito importante participar das eleições, apresentar nosso programa e eleger nossos parlamentares, porque as condições para esta transformação profunda não estão totalmente dadas. Não existe a preparação do povo para fazer esta transformação. É importante utilizar esses espaços como tribuna, para defender a luta dos trabalhadores. Não vemos os nossos mandatos parlamentares como carreira, mas como mandato do partido e do movimento dos trabalhadores e a serviço dos trabalhadores. O nosso parlamentar não vai ganhar o salário de R$ 20 mil de um deputado, mas o de sua profissão de origem, R$ 2 mil ou R$ 3 mil no caso de um professor. A diferença vai para o partido e será utilizada no movimento social, para impulsionar a mobilização dos trabalhadores. O próprio capital utiliza esses altos salários para cooptar os trabalhadores. Em parte, o que aconteceu com o PT: boa parte de parlamentares, dos seus assessores se encantaram com esta vida e se renderam, se entregaram.

Sul21 – Como vê o papel do Senado e como pensa atuar, se eleito?

Julio Flores – Dentro da perspectiva de contraponto, de ser um tribuno popular para impulsionar as lutas da população, inclusive para desarticular as classes dominantes, para colocar o povo na rua com o propósito de mudar a sociedade. Claro, apresentando projetos importantes nessa questão. O Senado tem sido muitas vezes um entrave para o interesse dos trabalhadores. A gente precisaria de um congresso unicameral, uma câmara só, como na Revolução Francesa. É nessas câmaras superiores que se observa o mais alto grau de privilégios, que temos que denunciar com toda a veemência. São instâncias a serviço de fazer os grandes negócios entre as elites do país.

Sul21 – O senhor não teme ser engolido pela máquina na hora em que, eventualmente, entrar no Senado?

Julio Flores – Isso obviamente é possível. Mas tenho confiança nas minhas convicções de que nós, do PSTU, estamos no caminho certo de construir uma sociedade nova, onde não haja exploração do homem pelo homem, não haja opressão das mulheres, dos negros, dos LGBT. Nosso propósito é construir uma sociedade livre, e a base de toda a opressão está na diferença entre as classes sociais, do acúmulo do capital a partir do trabalho alheio. É preciso abolir essas diferenças sociais, de tratamento dos diferentes, para que todos tenham a possibilidade de expressar suas potencialidades individuais a fim de construir uma sociedade nova.

Sul21 – Isso seria uma utopia?

Julio Flores – Alguém já disse que as utopias nos conduzem ao futuro e ao avanço da humanidade. Em certo sentido, é, mas não é. É, porque não está colocada imediatamente. E não é, porque a sociedade atual, com suas doenças e a miséria humana, coloca como a única saída uma mudança profunda, para assim avançar. O capitalismo surgiu dentro da própria sociedade feudal. O socialismo está surgindo por dentro da própria sociedade capitalista, entre as classes dominadas que produzem a riqueza que vai estabelecer as novas regras no novo regime onde todos possam viver felizes.

Sul21 – Com o senhor vê as candidaturas rivais ao Senado?

Julio Flores – A RBS, através do PDT, lançou o Lasier Martins para disputar esta vaga, um cara da mídia que tem todo o espaço, mas representa o que a gente reconhece como posições de direita, que defendem o grande capital. E a Frente Popular lançou, inicialmente, a Emília Fernandes. Diante dessa situação, tudo indicava que o Lasier, supostamente por seu peso na mídia e por ficar exposto, poderia vencer a eleição. O PT e a Frente Popular rediscutiram isso e lançaram Olívio Dutra para suprir esta disputa. Não só para vencer Lasier, mas para evitar que nós da Frente de Esquerda obtivéssemos boa votação (as primeiras pesquisas indicavam que teríamos 4% da intenção de votos). E também para ajudar a salvar o governo Tarso, que estava em queda em termos de prestígio, diante do desastre da gestão dele em relação aos trabalhadores, principalmente da educação. Olívio tem postura mais crítica em relação ao próprio PT, lembre-se o mensalão, aparece como um sujeito que é diferente disso que está aí, naquele sentido de criar mais ilusão na população de que as coisas podem ser diferentes. Se Olívio criticasse isso mais a fundo, teria rompido com tudo isso. No mínimo, ele não é coerente com a visão que tem do que está aí e vai aprofundar o caminho da aplicação deste projeto neoliberal que os próprios governos do PSDB não tiveram a eficácia para aplicar. Olívio está servindo como enfeite para salvar o prestígio deste projeto da Frente Popular. É lamentável.

Sul21 – Então, o senhor já está considerando Olívio vencedor e se vendo como perdedor?

Julio Flores – Não. A mídia colocou em pauta dizendo que foi jogada do PT. A entrada de Olívio vai qualificar o debate, porque nós vamos poder estabelecer essas diferenças e mostrar que ele não está por fora deste projeto, mas faz parte dele, de maneira diferenciada. Ele aposta no governo Dilma e é uma a aposta furada. As pessoas acham que Olívio é diferente, mas de fato não é.

Sul21 – Estão concorrendo este ano mais de 30 partidos. A pulverização de siglas ajuda no propósito de fazer a sociedade avançar?

Julio Flores – O que ajuda a mudar é a mobilização da sociedade. A existência desses partidos é da realidade. Muitos têm os mesmos propósitos, legendas de aluguel muitas vezes fazem surgir partidos como surge um pequeno negócio, e depois busca se incorporar aos demais partidos. O PSTU é um partido da classe, assim como o PT, o qual foi no início muito pequeno. Nosso companheiro Zé Maria, por orientação, na época, da Convergência Socialista, propôs num congresso metalúrgico em Lins (SP), em 1979, se não me engano, a fundação de um partido dos trabalhadores e, curiosamente, a maioria estava contra, queria um partido popular. A proposta foi aprovada no congresso, e daí o PT surgiu; na década de 80 começou a ganhar os corações e mentes do povo. O PSTU pode ser menor, mas tem convicções e um projeto que nos parece o mais adequado para os próximos anos. Contamos com que a maioria da população, em algum momento, vai compreender os nossos propósitos e adotar o nosso projeto, ou outro não igual, mas muito parecido, que nos permita construir um partido muito maior do que somos hoje.

Sul21 – Como construir novas lideranças? O senhor mesmo foi candidato a vários cargos, em diversas ocasiões, pelo PSTU.

Julio Flores – De fato, as pessoas mais experientes permanecem, tanto na direita quanto na esquerda. O Maluf faz anos que está por aí. No próprio PT, o Lula é bem da antiga e a Dilma também. Isso se constrói por conta das gerações e a nova liderança vem dos momentos políticos novos. Estamos construindo permanentemente outros companheiros, porque não somos exclusivos. Temos uma política de formação no partido, mas a partir do próprio movimento dos trabalhadores as pessoas vão assumindo responsabilidades e tarefas. É das lutas do povo que vão surgir os militantes e os dirigentes.

Sul21 – As campanhas eleitorais vão estar 50% mais caras este ano. Como o PSTU vai enfrentar os custos?

Julio Flores – Sustentamos a nossa campanha com a militância e os trabalhadores, campanhas de arrecadação, e não aceitamos dinheiro das grandes empresas. Temos um projeto diferencial, com Roberto Robaina ao governo e a nós ao Senado.

Sul21 – Quais as principais propostas em sua campanha ao Senado?

Julio Flores – A questão da dívida do Estado é uma batalha que precisamos agarrar com firmeza, porque são R$ 3 bilhões por ano que deixam de entrar na educação, na saúde, porque são carreados para o governo federal e, obviamente, ao sistema financeiro. Nosso propósito, do ponto de vista do governo do Estado, é fazer uma auditoria e apontar a necessidade da suspensão do pagamento dessa dívida, porque isso só vai alimentar os grandes bancos, os credores. E, por outro lado, no Senado é preciso votar o cancelamento dessa dívida, e que os recursos que iriam para o pagamento dela sejam investidos no estado. Tarso poderia ter feito isso no suposto “alinhamento das estrelas”, em que queria que o governo do estado estivesse com o mesmo partido do governo federal. Poderia propor isso a Dilma, fazer uma negociação, para pagar, por exemplo, o piso dos educadores, que é quase o mesmo valor que aumentaria na folha de pagamento se o fosse pago corretamente. Tarso diz que aumentou o salário, mas é uma farsa; aumentou, mas de fato não está pagando o piso, fez um completivo que não tem incidência sobre o salário base.

Sul21 – Que outros problemas do estado o Senado poderia examinar?

Julio Flores – O Plano Nacional de Educação aprovado há pouco prevê 10% do PIB aplicados num prazo absurdo, talvez em 2020. Não sei bem, mas não é para agora. Dentro desses 10% está previsto aquilo que vai para empresas privadas, no FIES – financiamento estudantil, e o Prouni, que é dinheiro que sai do estado e vai para as empresas privadas de educação. Na verdade, é um repasse de recursos para a iniciativa privada. Ainda mais que o controle do Plano está nas mãos de empresas, as tais parcerias público-privada. Portanto, o Plano Nacional de Educação é um programa de transferência de recursos para as grandes empresas de ensino do país. O que é trágico é que um professor na Coreia ganha 6 mil dólares mensais, enquanto o brasileiro, 5 ou 6 mil dólares por ano.

*Colaborou Lorena Paim

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