Pão da Terra: promessa é concretizada no RS, diz MST

Há 25 anos acontecia um despejo violento por parte de 1,5 mil policiais e atiradores de elite resultou não apenas na destruição da estrutura física de uma ocupação onde Maria Inês Riva morava, mas também de todo o estoque de produção que seria utilizado para alimentar as dezenas de famílias que viviam no interior do Rio Grande do Sul; froi neste contexto de enfrentamento a dias de miséria e de repressão do latifúndio e do Estado que um grupo de acampados fez a promessa de produzir 'o melhor pão do mundo' quando conquistasse um pedaço de terra

Há 25 anos acontecia um despejo violento por parte de 1,5 mil policiais e atiradores de elite resultou não apenas na destruição da estrutura física de uma ocupação onde Maria Inês Riva morava, mas também de todo o estoque de produção que seria utilizado para alimentar as dezenas de famílias que viviam no interior do Rio Grande do Sul; froi neste contexto de enfrentamento a dias de miséria e de repressão do latifúndio e do Estado que um grupo de acampados fez a promessa de produzir 'o melhor pão do mundo' quando conquistasse um pedaço de terra
Há 25 anos acontecia um despejo violento por parte de 1,5 mil policiais e atiradores de elite resultou não apenas na destruição da estrutura física de uma ocupação onde Maria Inês Riva morava, mas também de todo o estoque de produção que seria utilizado para alimentar as dezenas de famílias que viviam no interior do Rio Grande do Sul; froi neste contexto de enfrentamento a dias de miséria e de repressão do latifúndio e do Estado que um grupo de acampados fez a promessa de produzir 'o melhor pão do mundo' quando conquistasse um pedaço de terra (Foto: Leonardo Lucena)


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Rio Grande do Sul 247 - Há 25 anos acontecia um despejo violento por parte de 1,5 mil policiais e atiradores de elite resultou não apenas na destruição da estrutura física de uma ocupação onde Maria Inês Riva morava, mas também de todo o estoque de produção que seria utilizado para alimentar as dezenas de famílias que viviam no interior do Rio Grande do Sul. Foi neste contexto de enfrentamento a dias de miséria e de repressão do latifúndio e do Estado que um grupo de acampados fez a promessa de produzir 'o melhor pão do mundo' quando conquistasse um pedaço de terra.

“Lembro que, por mais humilde que a minha família fosse, na casa dos meus pais nunca faltou pão. No acampamento era tudo partilhado, mas com o despejo e a destruição dos alimentos ficamos dias sem ter o que comer. Então demos as mãos e fizemos essa promessa, de ter o melhor pão do mundo quando fossemos assentados”, recorda Maria Inês, que à época tinha 26 anos de idade. Depois de despejo, ela ficou acampada por um período de 3 anos e sete meses em Lagoa Vermelha, na região Serrana gaúcha, antes de ser assentada na região Metropolitana de Porto Alegre.

A agricultora conta que as dificuldades permaneceram mesmo depois da criação do Assentamento Integração Gaúcha, em 1991, situado no município de Eldorado do Sul, onde ela e seu esposo vivem hoje junto a mais de 70 famílias. “Quando chegamos aqui não tinha energia elétrica, estrada e água potável. Nós não sabíamos lidar com essa terra arenosa e banhada, porque a nossa região de origem tem outro tipo de solo, então perdemos muitas plantações. Ainda havia fome, tivemos que morar mais cinco anos debaixo da lona preta e enfrentar o preconceito da sociedade”, complementa.

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A situação começou a melhorar quando a Fundação Gaia desenvolveu práticas de educação ambiental no assentamento, o que culminou na criação de projetos para solucionar principalmente a questão da fome, dando início à organização do local para a produção de alimentos. Foi por meio desta iniciativa que a família de Maria Inês adquiriu os primeiros equipamentos para construir uma horta ecológica, vindo a constituir, em 2001, junto a um grupo de mulheres, a Cooperativa de Produtos Orgânicos Pão da Terra. Isto marcou o início da concretização da promessa coletiva, que fora feita pelos acampados após o despejo.

“Muitas pessoas diziam que era ilusão produzir sem veneno, que não íamos conseguir. Porém, fomos os pioneiros na agricultura ecológica e biodinâmica aqui no município, e a primeira panificadora certificada 100% como orgânica no estado do Rio Grande do Sul. Foram muitos os desafios que enfrentamos, mas nunca desistimos de ter e oferecer o melhor alimento do mundo”, conta Maria Inês.

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A oportunidade de oferecer alimentos saudáveis à população se fortaleceu em 2014, quando foi concluída, com o apoio da Fundação Banco do Brasil, uma agroindústria de panifícos da cooperativa. A obra tem 188 metros quadrados e está localizada no próprio lote de Maria Inês. Ela lembra que por muitos anos as camponesas produziram nas varandas de suas casas e com equipamentos individuais e inadequados, o que dificultava o processo de produção. Após algum tempo, os alimentos eram feitos numa sala emprestada.  “Era uma mistura de coisas e tão apertado que tínhamos uma enorme dificuldade de acomodar os produtos quando eles estavam prontos”, relata.

Produção 100% orgânica e integral

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Hoje a Cooperativa de Produtos Orgânicos Pão da Terra conta com 22 associados, entre assentados na reforma agrária e agricultores familiares, sendo que dez mulheres e dois homens trabalham diretamente na produção da agroindústria. Ela produz e comercializa 56 variedades de alimentos, sendo 22 tipos de pães e 16 tipos de bolos e cucas, além de pizzas e uma diversidade de biscoitos doces e salgados. Toda a produção é 100% orgânica e integral, e alguns itens podem ser encontrados na opção sem glúten. Todos os alimentos possuem certificação da Rede Ecovida de conformidade orgânica, não sendo acrescido a eles nenhum condimento ou produto químico como antimofos e melhorador de farinhas, encontrados nos pães industrializados. 

Conforme Maria Inês, a cooperativa está produzindo semanalmente mais de 500 quilos de alimentos, que são destinados para instituições de ensino em Porto Alegre e Eldorado do Sul por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). A produção também é vendida diretamente ao consumidor, através de feiras ecológicas na Capital e na sede da própria agroindústria. Ainda, parte dos produtos estão disponíveis na loja da Reforma Agrária, localizada no Mercado Público porto-alegrense.

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Contudo, a expectativa é que a capacidade de produção e venda aumente com novos investimentos. Na última segunda-feira (20) a cooperativa organizou uma cerimônia para inaugurar equipamentos adquiridos em convênio com a Fundação Banco do Brasil. Entre as novas ferramentas de trabalho estão amassadeira, modeladora, forno de assar a vapor, divisora, extratora e batedeira. Essa estrutura permite a modernização e especialização da agroindústria, garantindo a inserção de uma novidade na produção: o pão francês orgânico. “Agora temos condições de produzir, no geral, até mil quilos de alimentos por semana”, estima Maria Inês.

O projeto encaminhado à Fundação chama-se “Pão da Terra: ampliando condições para uma vida mais saudável”. Além dos equipamentos, a cooperativa foi contemplada com um gerador de energia elétrica, um veículo para escoamento da produção e materiais para estufa e irrigação da horta agroecológica, que hoje é mantida pelas famílias associadas.

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Durante o ato inaugural, Salete Carollo, representando o setor de Produção do MST/RS, destacou que o trabalho da cooperativa se tornou referência para todo o estado gaúcho, especialmente para as camponesas Sem Terra que também começaram a ser organizar em torno da cooperação e da produção de padaria. “As mulheres não trabalham sozinhas. Elas provocam uma rede de atuação coletiva que nos leva a vários níveis de cooperação e extrapola a atividade econômica”, observa.

Ela acrescenta que, com o passar dos anos, os assentados perceberam a importância de terem o controle da cadeia produtiva em todas as atividades agrícolas, saindo da condição de somente serem produtores de matéria-prima. “Estamos conseguindo avançar neste sentido. Hoje, a exemplo da Pão da Terra, produzimos a matéria-prima, processamos alimentos nas agroindústrias e temos relação direta com os consumidores. A cadeia produtiva quando está nas mãos de quem produz consolida a geração de renda, o que emancipa os assentamentos e as famílias. É também por este caminho que passa a produção de alimentos saudáveis”, aponta.

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Próximos passos

A ampliação do espaço físico da agroindústria e a aquisição de novos equipamentos são apenas uma parte dos planos feitos por Maria Inês. Segundo a assentada, ainda este ano a cooperativa deve começar a construir um espaço cultural multiuso, para receber os grupos de estudantes e de outras pessoas que visitam semanalmente o local. A estrutura será oitavada e vai contar com restaurante orgânico e ambiente para reuniões e cursos, práticas de Yoga e educação física. 

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“Vamos valorizar a bioconstrução e os recursos naturais, porque queremos propiciar o melhor espaço para as pessoas que nos visitam e continuar oferecendo o melhor pão do mundo. Sabemos que não somos apenas ser físico, não dá para cuidar somente do pé e da mão. Temos que ser tratados como ser integral, e este é o nosso principal objetivo. Queremos que tudo o que conquistamos faça cada vez melhor ao público consumidor”, conclui Maria Inês.

Onde comprar os alimentos Pão da Terra

Feiras em Porto Alegre:

Bairro Menino Deus - Às quartas-feiras, das 12h às 19h. (Avenida. Getúlio Vargas - no pátio da Secretaria Estadual da Agricultura)

Bairro Três Figueiras - Aos sábados, das 7 às 12h30h. (Rua Cel. Armando Assis, ao lado da praça Desembargador La Hire Guerra)

Shopping Total - Às quintas-feiras, das 8h às 13h30. (No Setor Verde. Rua Itacolomi, bairro Floresta)

Centro Universitário Metodista (Ipa) - Às quintas-feiras, das 13h às 18h. (Em frente ao estacionamento do Prédio G da Unidade Central IPA)

Colégio João XXIII - Às quintas-feiras (a cada 15 dias), das 10h às 18h30. (Rua Sepé Tiaraju, 1013 - Bairro Medianeira) quinta das 10 h a 18h30.

Parque da Redenção - Aos sábados, das 7h30 às 13h. (Avenida José Bonifácio,esquina com a Oswaldo Aranha - Parque Farroupilha)

Nova feira: inauguração dia 4 de abril

Escola Santa Luzia - Às terças-feiras (a cada 15 dias), das 11h às 18h. (No parque da escola)

 

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