"Só tínhamos dois cm para respirar", diz sobrevivente

Com o barulho, achamos que uma laje tinha caído, mas era o prédio todo. Foi muito rápido. Nos primeiros momentos fiquei muito nervoso. Apegamos com Deus e ficamos deitados no colchão, eu e minha mulher, do meu lado minha filha, e do lado da Vanice, o menino. Nós estávamos enterrados e só tinha 2 cm para respirar. Meu filho passou quase dois dias vivo. Minha mulher não tinha como amamentar e ele se mexia muito, estava frio. O oxigênio enviado foi insuficiente, e o espaço era muito pequeno. Não consegui dormir, porque o bebê estava nervoso e se mexia muito. O desespero e a sede eram tantos que delirei muito", relata Josevaldo da Silva, um dos sobreviventes do desmoronamento do prédio em Aracaju

Com o barulho, achamos que uma laje tinha caído, mas era o prédio todo. Foi muito rápido. Nos primeiros momentos fiquei muito nervoso. Apegamos com Deus e ficamos deitados no colchão, eu e minha mulher, do meu lado minha filha, e do lado da Vanice, o menino. Nós estávamos enterrados e só tinha 2 cm para respirar. Meu filho passou quase dois dias vivo. Minha mulher não tinha como amamentar e ele se mexia muito, estava frio. O oxigênio enviado foi insuficiente, e o espaço era muito pequeno. Não consegui dormir, porque o bebê estava nervoso e se mexia muito. O desespero e a sede eram tantos que delirei muito", relata Josevaldo da Silva, um dos sobreviventes do desmoronamento do prédio em Aracaju
Com o barulho, achamos que uma laje tinha caído, mas era o prédio todo. Foi muito rápido. Nos primeiros momentos fiquei muito nervoso. Apegamos com Deus e ficamos deitados no colchão, eu e minha mulher, do meu lado minha filha, e do lado da Vanice, o menino. Nós estávamos enterrados e só tinha 2 cm para respirar. Meu filho passou quase dois dias vivo. Minha mulher não tinha como amamentar e ele se mexia muito, estava frio. O oxigênio enviado foi insuficiente, e o espaço era muito pequeno. Não consegui dormir, porque o bebê estava nervoso e se mexia muito. O desespero e a sede eram tantos que delirei muito", relata Josevaldo da Silva, um dos sobreviventes do desmoronamento do prédio em Aracaju (Foto: Valter Lima)


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Valter Lima, do Sergipe 247, e Rafaella Vieira - A mãe do ajudante de pedreiro que passou 34 horas com a família sob os escombros de um prédio em obras em Aracaju esteve com o filho no hospital e disse que ele está consciente, mas muito triste com a morte do filho, um bebê de 11 meses.

O edifício desabou na madrugada de sábado (19), soterrando Josevaldo da Silva, 24, a mulher dele, Vanice de Jesus, 31, a filha dela, Ane Gabriele, 8, e o filho do casal Ítalo Miguel, que não resistiu e morreu depois de ser resgatado.

Nesta segunda-feira (21), Maria José Alves da Silva teve o primeiro contato com o filho, no Hospital de Urgências de Sergipe (Huse).

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"Conversei com ele. Embora esteja com o corpo escoriado, está consciente e bem. Mas, quando lembra do filho, se emociona bastante e chora muito. Tanto ele quanto a mulher lembram de tudo o que fizeram para tentar manter o filho vivo", disse Maria José.

Segundo ela, Josevaldo relatou que ouviu um primeiro barulho na estrutura do prédio na noite de sexta-feira (18), mas achou que "era uma coisinha de nada". "Então, eles deitaram para dormir e, na madrugada, começou a desabar. A laje veio sobre eles e ele tentou segurar com o próprio corpo para proteger os outros", afirmou.

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De acordo com a mãe de Josevaldo, ele e a mulher residiam em uma casa no mesmo bairro em que o prédio estava sendo construído.

Maria José disse que o filho e Vanice pediram que esperem a alta do hospital para velar o corpo do bebê.

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Na noite desta segunda, a assessoria de imprensa da Fundação Hospitalar de Saúde informou que o casal e a menina Ane Gabriele deverão ter alta amanhã (22).

De acordo com o médico Johnson Lucas Marques, que acompanha os três, o estado de saúde deles é considerado estável.

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INQUÉRITO

O delegado responsável pelo caso, Valter Simas, vistoriou os destroços do prédio na manhã desta segunda.

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"Estou iniciando o inquérito com essa visita. Viemos dar uma olhada, fazer imagens, ouvir os vizinhos que tiveram muros danificados por conta do desabamento", disse.

O perito criminal Francisco Chagas verificou que o desabamento afetou o muro de um edifício comercial vizinho. Mas, por enquanto, nenhum imóvel na região será interditado. O inquérito deve ficar pronto em 30 dias.

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A obra estava sem engenheiro responsável há cerca de um ano, segundo o presidente do Crea-SE (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Sergipe), Jorge Roberto Silveira.

De acordo com ele, um engenheiro civil elaborou o projeto, mas abandonou a obra na fase de execução por falta de entendimento com os proprietários sobre o contrato de trabalho. "Ele saiu do projeto, mas não informou ao Crea. Portanto, ele continuou sendo o responsável", explica Silveira.

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Além disso, o presidente do Crea disse que a obra tinha um andar a mais do que o previsto. "É mais uma prova de que o profissional não participou da execução. Se participasse, não teria deixado que um andar com cerca de 25% a mais de peso fosse construído", afirmou.

Segundo a Empresa Municipal de Obras e Urbanização (Emurb), o engenheiro responsável pelo projeto é Aldo Tadeu. Entretanto, Aldo Tadeu não possui registro no Crea, segundo o presidente do órgão, que informou que o homem é corretor de imóveis e casado com a proprietária do prédio.

Para Silveira, deve ter havido um erro da Prefeitura de Aracaju, uma vez que para o projeto ser aprovado é necessário apresentar a cópia do registro do engenheiro civil.

A prefeitura foi contatada na noite desta segunda para comentar o fato, mas ninguém atendeu o telefone.

Silveira informou ainda que a Câmara de Ética do Crea irá julgar o caso –a penalidade do engenheiro civil responsável pode variar entre uma advertência e a cassação do registro profissional.

BOMBEIROS

O encontro da equipe de resgate com os sobreviventes do desabamento, na tarde desta segunda, foi marcado pela emoção. Mais de dez pessoas envolvidas no resgate estiveram na enfermaria do Hospital de Urgências de Sergipe (Huse), e alguns dos bombeiros não seguraram as lágrimas ao ver Josevaldo e Vanice.

"Agradeço a vocês, essa equipe maravilhosa, que, apesar das dificuldades, tentou ser rápida", disse Josevaldo aos bombeiros.

A filha do casal, Ane Gabriele de Jesus, estava visivelmente assustada. Ao receber presentes, entre eles um urso dado pelo sargento do Corpo de Bombeiros Elielson da Silva, ele balançou a cabeça.

"Ela ainda está muito assustada com a situação, mas está viva, que é o mais importante e o grande presente para todos nós. Trouxe um urso da minha filha de seis anos para alegrá-la", disse o sargento, que ficou com os olhos cheios de lágrimas ao abraçar a menina.

"Fui eu que fiz o primeiro contato com Josevaldo e vê-lo vivo e é uma emoção muito grande", afirmou o sargento Perla Vieira.

Abaixo depoimento de Josevaldo da Siva à jornalista Rafaella Vieira, para o jornal Folha de S. Paulo:

Com o barulho [do desabamento], achamos que uma laje tinha caído, mas era o prédio todo. Foi muito rápido.

Nos primeiros momentos fiquei muito nervoso. Apegamos com Deus e ficamos deitados no colchão, eu e minha mulher, do meu lado minha filha [de criação] e do lado da Vanice, o menino.

Nós estávamos enterrados e só tinha 2 cm para respirar.

Meu filho passou quase dois dias vivo. Minha mulher não tinha como amamentar e ele se mexia muito, estava frio. O oxigênio enviado foi insuficiente, e o espaço era muito pequeno.

Não consegui dormir, porque o bebê estava nervoso e se mexia muito. O desespero e a sede eram tantos que delirei muito.

Minhas costas estão arranhadas, me arrastava para ver saída, mas não existia.

A fome não era tanta. Sentia mais sede, lábios secos. Eu dizia aos bombeiros que só falaria com eles se me dessem água, era delírio puro.

Dormia ali tinha quatro meses. Minha família ia no fim de semana para pegar o dinheiro e passear.

Eles só ficavam comigo na sexta e no sábado, o resto dos dias eu ficava sozinho.

Eu era muito fiel ao dono do prédio e dormia lá tranquilamente. Nunca senti medo, achava que era um lugar seguro.

No dia, fui com minha mulher numa lanchonete e depois fomos para casa [a obra].

Quando chegamos, estava chovendo e ouvi uma parte de reboco do quarto andar cair. Quando caiu, vi que era massa de concreto.

Minha mulher ficou preocupada, mas achou que era o vento que tinha derrubado algum resto de massa.
Quando deitamos, estávamos no primeiro andar.

Quando ouvi a voz dos bombeiros, tive certeza que sairia dali, nunca perdi a fé. Eu sabia que eles [equipe de resgate] iam me ouvir.

Entrego tudo nas mãos de Deus e agradeço por ter sobrevivido. Renasci, estou bem. Não estou com minha família completa, meu filho se foi, mas sou grato de coração a vocês [bombeiros].

Fiz uma promessa e vou cumprir, que é seguir Deus. Sou evangélico.

Meu filho eu sei que está num lugar melhor, e eu estou vivo pra me arrepender e seguir o caminho do bem.


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