Porta-voz de Aécio, FHC só falou para tucanos

Escondido por José Serra e Geraldo Alckmin nas eleições de 2006 e 2010, ex-presidente FHC apareceu na campanha de 2014 com declarações polêmicas e não ajudou o presidenciável tucano Aécio Neves ganhar os votos que precisava; disse que "o PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres"

Escondido por José Serra e Geraldo Alckmin nas eleições de 2006 e 2010, ex-presidente FHC apareceu na campanha de 2014 com declarações polêmicas e não ajudou o presidenciável tucano Aécio Neves ganhar os votos que precisava; disse que "o PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres"
Escondido por José Serra e Geraldo Alckmin nas eleições de 2006 e 2010, ex-presidente FHC apareceu na campanha de 2014 com declarações polêmicas e não ajudou o presidenciável tucano Aécio Neves ganhar os votos que precisava; disse que "o PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres" (Foto: Roberta Namour)


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por Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual
São Paulo – Em abril de 2014, pesquisa do Datafolha indicava que 57% dos entrevistados não votariam em um candidato apoiado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de jeito nenhum. O número é muito próximo de outro levantamento, divulgado nove anos antes, pela Confederação Nacional dos Transportes e o instituto Sensus. Em julho de 2005, em pleno furacão das denúncias sobre o que veio a ser chamado “escândalo do mensalão”, o estudo indicava que o número dos que rejeitavam o ex-presidente tucano era de 58,1%.

Mesmo com esses indicadores, FHC se tornou o principal padrinho político de Aécio Neves dentro do PSDB para que o ex-governador de Minas Gerais e neto de Tancredo Neves finalmente conseguisse a indicação para disputar a sucessão da petista Dilma Rousseff. Já em 2012, Fernando Henrique dizia a um blog da revista britânica The Economist que Aécio era o "candidato óbvio" do partido, contrariando os interesses do poderoso tucanato paulista do ex-governador e do atual titular do Palácio dos Bandeirantes, José Serra e Geraldo Alckmin, respectivamente.

Serra enfrentou e perdeu de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e de Dilma em 2010. Alckmin foi derrotado por Lula em 2006.

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Em maio de 2013, Aécio Neves assumiu a presidência do PSDB como favorito à indicação e não esqueceu a dívida de gratidão com o padrinho.

"Erramos por não ter defendido, juntos, todo o partido, com vigor e convicção, a grande obra realizada pelo PSDB", declarou. "Somos o partido das privatizações que tão bem fizeram para o Brasil”, assumiu Aécio. Nas duas eleições anteriores, com Serra e Alckmin, o partido havia escondido FHC das campanhas. Em 2002, era virtualmente impossível ocultar FHC, já que ele era, então, o presidente da República.

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Durante a campanha de 2014, embora o programa eleitoral e eventos do candidato tucano tenham ficado longe de colocar FHC como centro das atenções, o ex-presidente apareceu em inserções algumas vezes e, quando questionado em debates, Aécio ressaltou o legado de Fernando Henrique, principalmente batendo na tecla de que foi graças à estabilização econômica promovida por FHC que o país venceu a insegurança na economia e a inflação.

“A imagem do Fernando Henrique, quando atrelada à imagem da estabilidade da moeda, foi um bom trunfo à candidatura do Aécio na medida em que ele se cola nessa imagem bem-sucedida em relação ao controle da inflação. Mas ajuda junto ao eleitor que coloca o ajuste econômico como mais importante do que o social, e atrapalha com o eleitor que pensa o contrário”, analisa o cientista político Vitor Marchetti, na Universidade Federal do ABC.

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A participação do ex-presidente rejeitado colocou a candidatura de Aécio em saia justa logo após o primeiro turno, quando o neto de Tancredo conseguiu expressiva votação de 44,2% dos votos válidos no estado de São Paulo dos caciques Serra, Alckmin e FHC, enquanto a petista obteve apenas 25,8%.

Na segunda-feira, dia 6, o ex-presidente obrigou a campanha tucana a usar panos quentes para tentar abafar declaração comprometedora de Fernando Henrique, na qual ele comentou o que entendia ser a causa da votação vencedora do PT no Nordeste do país. "O PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados", analisou.

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“Essa caminhada do PT dos centros urbanos para os grotões é um sinal preocupante do ponto de vista do PT porque é um sinal de perda de seiva ele estar apoiado em setores da sociedade que são, sobretudo, menos informados. Geralmente é uma coincidência entre os mais pobres e os menos qualificados", analisa.

A campanha petista imediatamente capitalizou a declaração. “Nordestino hoje anda de cabeça erguida”, disparou o ex-presidente Lula. “Quero manifestar o meu repúdio à visão preconceituosa contra aqueles que votaram em nós, ao Nordeste”, acrescentou Dilma em campanha. O próprio FHC, no dia 10 deste mês, divulgou um vídeo no qual declarou que Lula “mentiu” ao interpretar sua fala como preconceituosa e disse lamentar que a candidata do PT tenha “embarcado nessa”.

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A emenda acabou saindo pior do que o soneto. “O PT fica fazendo demagogia, querendo jogar-nos contra o povo. O Lula mentiu. Eu não falei de Nordeste, de nordestino, nada disso. Eu lamento que a presidente Dilma, sem saber, tenha embarcado nessa”, defendeu-se Fernando Henrique. “O povo sabe que quem fez o Plano Real fomos nós, quando fui ministro da Fazenda, que melhorou a vida de todo mundo, dos pobres, do trabalhador. É assim que se combate a pobreza, não é deixando a inflação voltar, e depois aconselhando o povo a não comer carne, a comer tomate, comer frango, ovo. Desse jeito não resolve a pobreza. Nós do PSDB, sim, fizemos o que dissemos e deu certo”, explica.

Para Marchetti, os efeitos da manifestação preconceituosa, associando o eleitorado petista à ignorância, dependem do público a quem ele poderia estar querendo atingir, mas não amplia o número de eleitores. “Se o objetivo é se comunicar com quem é tradicionalmente alinhado ao PSDB, esse argumento cola, ainda que seja preconceituoso ou equivocado. Mas certamente não ajuda a buscar o eleitor que precisa ganhar.”

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Na reta final de campanha, lideranças do PSDB negam que as intervenções do ex-presidente tenham sido contraproducentes para a trajetória de Aécio. Indagado se a declaração sobre os nordestinos não prejudicaram a campanha tucana à presidência, o deputado federal reeleito Marcus Pestana (PSDB-MG), presidente do partido em Minas e um dos mais próximos aliados de Aécio em seu estado, despista. “Pelo contrário, ele é uma grande âncora, uma grande referência e um grande conselheiro. Fernando Henrique é solução, não é problema.”

Segundo Pestana, o PSDB não escondeu Fernando Henrique de suas campanhas em 2010 ou 2014. “O Aécio está expondo nossa história e nossas posições de peito aberto. Não temos nada a esconder”, afirma.

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O deputado federal Duarte Nogueira (PSDB-SP), presidente do diretório paulista do partido, também nega que FHC tenha atrapalhado mais do que ajudou. De acordo com ele, o ex-presidente não manifestou preconceito contra os nordestinos. “Isso não foi o que eu entendi que ele quis dizer. Entendi muito claramente que, quanto mais bem informada, quanto mais informações tenha a população, melhor ela decide em seu favor. E eu concordo com ele”, avalia. Segundo Nogueira, “as pessoas precisam estar cada vez mais bem informadas para poder decidir pelo seu bem”. Para o parlamentar, “o povo nunca erra, sempre acerta, desde que tenha todas as informações”.

Em entrevista à Folha de S. Paulo publicada na quinta-feira (23), Fernando Henrique comentou o eventual prejuízo ao PSDB decorrente da avaliação negativa de sua gestão. “Se fosse isso, Aécio não estaria onde está. Nunca fui a favor da privatização indiscriminada, nunca quis privatizar o Banco do Brasil e a Petrobras”, respondeu.

No passado ou no presente, as declarações de Fernando Henrique Cardoso costumam deixar sequelas. Em 1997, terceiro ano de seu primeiro mandato, surfando na onda do Real, ele comemorava os supostos resultados do plano elegendo a dentadura como exemplo de que o povo estava colhendo os frutos da estabilização. "Eu gostaria que começassem a pensar o seguinte: antigamente, falavam: o frango foi o herói do Real, depois foi o iogurte. Agora, eu acho que é a dentadura. Vai ver os pobres botando dente", declarou, para espanto até mesmo de aliados.

No mesmo dia, a Federação Brasileira dos Protéticos Dentários rebateu a declaração com indignação. "Ele está delirando. Isso é uma mentira", afirmou o então presidente da entidade, Hesmilte Euzébio da Silva. "A categoria está indo à falência por causa do Real: os protéticos estão vendendo pastel e cachorro-quente na feira para sobreviver", acrescentou.

Já em discurso na última quinta-feira (22), em São Paulo, em manifestação do PSDB pela candidatura de Aécio Neves à presidência da República, FHC afirmou que o salário mínimo na época do seu governo (1995-2002) era “o dobro” do verificado na gestão da petista Dilma Rousseff.

No discurso, elencou os motivos para explicar a importância da eleição de seu candidato. “Aécio levará o Brasil no caminho do crescimento econômico, da distribuição de renda, da manutenção das políticas sociais” que, segundo ele, seu governo implementou. Entre elas, “a manutenção do aumento do salário mínimo, que no meu tempo foi o dobro do tempo da Dilma Rousseff”, disse.

Em 1995, quando o FHC assumiu a presidência, o salário mínimo no Brasil era de R$ 100,00, ou 109,89 dólares na cotação da época. No último ano de seu governo, correspondia a 86,21 dólares, ou R$ 200,00 na moeda brasileira. Atualmente, o valor é de R$ 724,00 ou 288 dólares, de acordo com a cotação da moeda norte-americana da quinta-feira (23), ou 161% maior que no término do segundo mandato de Fernando Henrique, em dólar.

Desde 2003, o salário mínimo teve crescimento acima da inflação de 72,31%, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Na mais recente intervenção midiática, em vídeo veiculado pelo WhatsApp na quinta-feira, o ex-presidente dirigiu-se mais uma vez aos eleitores tucanos, desta vez tentando desarmar os corações da parcela mais agressiva e truculenta do eleitorado: "Eu sempre fiz política acreditando nas coisas, com esperança, com amor, nunca xinguei. Usei argumentos. Temos agora um candidato que olha o Brasil, olha o futuro, tem alegria, tem esperança. É o nosso candidato", disse Fernando Henrique Cardoso.

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