Ah, que bom seria se o estado brasileiro fosse laico

"No momento em que grávidas correm grande risco de gerarem bebês com microcefalia se forem contaminadas pelo mosquito aedes egypti e até a ONU recomenda aborto para grávidas contaminadas pelo zika vírus, as brasileiras, que são as maiores vítimas desse mal em todo o mundo, não podem abortar porque a bancada evangélica não permite que o estado brasileiro adote a prática", pontua o colunista Alex Solnik

"No momento em que grávidas correm grande risco de gerarem bebês com microcefalia se forem contaminadas pelo mosquito aedes egypti e até a ONU recomenda aborto para grávidas contaminadas pelo zika vírus, as brasileiras, que são as maiores vítimas desse mal em todo o mundo, não podem abortar porque a bancada evangélica não permite que o estado brasileiro adote a prática", pontua o colunista Alex Solnik
"No momento em que grávidas correm grande risco de gerarem bebês com microcefalia se forem contaminadas pelo mosquito aedes egypti e até a ONU recomenda aborto para grávidas contaminadas pelo zika vírus, as brasileiras, que são as maiores vítimas desse mal em todo o mundo, não podem abortar porque a bancada evangélica não permite que o estado brasileiro adote a prática", pontua o colunista Alex Solnik (Foto: Alex Solnik)


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“O Estado secular deve garantir e proteger a liberdade religiosa e filosófica de cada cidadão, evitando que alguma religião exerça controle ou interfira em questões políticas”.

Essa é a definição clássica de estado laico. De onde se conclui que, apesar de estar escrito na constiuição que o Brasil é um país secular ou laico, no dia a dia não o é. A constituição é rasgada diariamente, sem que as instâncias que zelam pela aplicação correta de seus pressupostos ajam para resguardá-la. Ao contrário: fazem a mais sonolenta cara de paisagem.

Se fosse laico de fato, o estado brasileiro não deveria permitir, para começo de conversa, a formação de partidos políticos religiosos, tal como acontece, o que originou a criação, em todas as instâncias legislativas, como na Câmara dos Deputados, de “bancadas evangélicas”.

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Não são bancadas formadas por deputados que têm  religião evangélica, mas sim grupos que fazem proselitismo da sua religião na casa das leis que definiu o país como estado laico, tentando impingir as suas crenças aos demais e influindo dramaticamente nas decisões políticas mais fundamentais que afetam todos os brasileiros, evangélicos ou não. A simples existência desses partidos e dessas bancadas é uma ofensa à constituição que as autoridades juram obedecer.

O exemplo mais dramático é o atual. No momento em que grávidas correm grande risco de gerarem bebês com microcefalia se forem contaminadas pelo mosquito aedes egypti e até a ONU recomenda aborto para grávidas contaminadas pelo zika vírus, as brasileiras, que são as maiores vítimas desse mal  em todo o mundo não podem abortar porque a bancada evangélica não permite que o estado brasileiro adote a prática, tal como já foi adotada em muitos países, inclusive Portugal, a partir de 2007.

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Salta aos olhos que essa é uma questão para a medicina tratar e não a religião, e, no entanto, somos reféns de conceitos das cavernas, sendo o principal o de que ao abortar a mulher estaria matando uma vida, o que é mais uma mistificação, pois é impossível matar alguém que nem nasceu. É mais factível acreditar que religiosos que condenam o aborto estejam mais preocupados com a supressão de futuros fiéis, com microcefalia ou sem.

O governo brasileiro, que deveria proteger os cidadãos que não professam essa religião, como está na constituição, faz o oposto, submete-se a ela diante da chantagem de perder votos se não o fizer e por consequência também obriga todos os cidadãos brasileiros a seguirem orientação religiosa que não é a deles, violando flagrantemente a liberdade individual e, o que é mais grave, a constituição brasileira.

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Outro caso em que o estado mais uma vez esquece que é laico é o das TVs por assinatura. Em qualquer pacote que o telespectador adquire ele é obrigado a levar, queira ou não, por força da obrigatoriedade da lei das comunicações, suponho, uma dezena ou mais de canais que fazem proselitismo das religiões evangélica e católica, desrespeitando budistas, muçulmanos, judeus e ateus que são obrigados a pagar por canais que nunca vão assistir porque sua religião é outra ou nenhuma.

Ou o estado brasileiro é laico e a legislação sobre aborto não tem que ser submetida  a autoridades religiosas e sim científicas, o mesmo devendo acontecer com assinaturas de TV, que não podem contemplar programação compulsória de caráter religioso  ou, a continuar como está, a violação ao artigo 19 inciso primeiro segundo o qual “é vedado à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas”, o que caracteriza um estado leigo, vai continuar.

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