Todo governo autoritário precisa de “fake news”

"O que manteve Hitler no poder durante 12 anos na Alemanha (1934-46) foi uma poderosa máquina de propaganda montada por Joseph Goebbels que pode ser chamada de a primeira fábrica de fake News da história", diz Alex Solnik, colunista do 247 e membro do Jornalistas pela Democracia; "Bolsonaro também se elegeu graças a fake News e governa com fake News. Uma delas foi repetir, até virar verdade, que ele permitiu maior acesso a armas de fogo para garantir a segurança dos brasileiros e o direito de se defenderem. Facilitar o acesso dos alemães a armas foi também uma das primeiras medidas tomadas pelo regime nazista", compara; "Toda a máquina de propaganda nazista hoje cabe num celular. É muito difícil combater fake News; e é quase impossível um governo autoritário subsistir sem fake News"

Todo governo autoritário precisa de “fake news”
Todo governo autoritário precisa de “fake news”


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Por Alex Solnik, colunista do 247 e membro do Jornalistas pela Democracia

O que manteve Hitler no poder durante 12 anos na Alemanha (1934-46) foi uma poderosa máquina de propaganda montada por Joseph Goebbels que pode ser chamada de a primeira fábrica de fake News da história.

Sob o lema “a mentira tem que ser repetida centenas de vezes até virar verdade”, as fake News nazistas mantiveram o povo alemão desinformado a respeito do que acontecia em seu próprio país, impedindo que reagisse ao genocídio em curso.

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A primeira tarefa das fake News nazistas foi caluniar e difamar os judeus. De todas as formas possíveis. Não eram da raça pura. Adoradores de dinheiro. Devido à sua cobiça os alemães estavam na miséria. Têm doenças contagiosas. Qualquer contato com eles é perigoso. Eram empregados todos os meios de comunicação disponíveis para difundir essas calúnias de forma massiva.

 Quando os judeus começaram a ser enviados para campos de concentração, a operação era explicada pela propaganda como um simples deslocamento de um ponto do país a outro. Foram realizados documentários num falso campo de concentração para mostrar como os judeus eram bem tratados ali.

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As fake News dos nazistas não só contavam absurdos a respeito dos judeus e do perigo que representavam, motivo pelo qual deveriam ser expurgados da sociedade alemã, portanto. As fake News também transformavam Hitler no melhor homem do mundo, o único credenciado para salvar a Alemanha e os alemães.

As invasões de países vizinhos eram explicadas pelas fake News nazistas como reação a agressões estrangeiras, que estariam atacando alemães moradores naqueles países. Não havia como a Alemanha não ir em socorro de seus cidadãos.

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Também Getúlio Vargas precisou utilizar fake News para chegar e ficar no poder. Derrubou a democracia alegando uma suposta conspiração comunista chamada Plano Cohen. Foi uma das maiores fake News da história do Brasil, confirmada por todos os jornais do país como verdadeira.

Fechou os partidos políticos e o Congresso Nacional dizendo que eram dispensáveis. Daí em diante a comunicação seria direta entre o ditador e a população. Sem intermediários. Exortou os brasileiros a enviarem cartinhas com reivindicações. E a formarem filas na calçada do Palácio do Catete para fazer seus pedidos pessoalmente.

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Em 1964, foi vendida aos brasileiros por meio de jornais, rádios e emissoras de televisão a fake News de que era iminente a fundação de uma certa República Sindicalista, sob direção do presidente João Goulart, que seria o preâmbulo de uma revolução comunista, comandada do estrangeiro. Por isso ele não poderia continuar na presidência.

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Para dar maior dramaticidade à situação, foram organizadas Marchas da Família com Deus pela Liberdade, comandadas pelo americano Padre Peyton em metrópoles como São Paulo, com a tese de que orando todos juntos seria afastada a invasão dos vermelhos.

Com a descoberta dos modernos meios de comunicação a influência das fake News sobre os indivíduos aumentou ainda mais, na medida em que as mensagens propagandísticas são direcionadas de forma massiva diretamente às pessoas, de forma a parecer terem sido feitas especialmente para elas.

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O poder das fake News foi comprovado na eleição dos Estados Unidos em 2016. A campanha de Trump, o candidato vencedor, foi calcada em difamações da opositora divulgadas de forma massiva, com intensidade muito superior às difamações anti judaicas na Alemanha nazista.

Um governo que se elege graças a fake News nunca as abandona. Trump mostrou isso ad nauseum. Começou no dia seguinte à sua posse. Afirmou no twitter que tinha sido a mais concorrida cerimônia de posse da história americana. Foi desmentido pela imprensa. Mas nunca admitiu ter se equivocado. Agora insiste na fake news de que o país só estará seguro se construir um muro na fronteira com o México.

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Quem produz a fake News acredita nela, afirma o Doutor em Psicologia Jacob Pinheiro Goldberg e fica agressivo quando o colocam diante da verdade. Golderg também garante existir, com base em estudos, um efeito boomerang: quanto mais se desmente a fake News, mais ela repercute. Por isso é tão difícil destruí-la.

Bolsonaro também se elegeu graças a fake News e governa com fake News. Uma delas foi repetir, até virar verdade, que ele permitiu maior acesso a armas de fogo para garantir a segurança dos brasileiros e o direito de se defenderem. Facilitar o acesso dos alemães a armas foi também uma das primeiras medidas tomadas pelo regime nazista.

Toda a máquina de propaganda nazista hoje cabe num celular. É muito difícil combater fake News; e é quase impossível um governo autoritário subsistir sem fake News.

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