Em busca de uma saída

"Para enfrentar a crise política, é preciso uma reforma profunda no Estado, nos poderes e no sistema eleitoral. Para superar a crise econômica, é preciso tomar medidas que levem ao equilíbrio fiscal e financeiro ao mesmo tempo em que se promove o crescimento econômico, sem onerar os mais pobres e mais necessitados das ações do poder público", diz o colunista Hélio Doyle; "Mas que reformas e que medidas? Um bom começo seria o governo e cada força política apresentarem com clareza à população o que propõem e pretendem nos campos econômico e político. Sem tergiversar e sem querer iludir, como se estivéssemos em campanha eleitoral", acrescenta o jornalista; leia a íntegra do artigo

Brasília - Presidenta Dilma Rousseff concede entrevista coletiva após reunião com juristas em ato para denunciar a falta de base jurídica do pedido de abertura do processo de impeachment (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Brasília - Presidenta Dilma Rousseff concede entrevista coletiva após reunião com juristas em ato para denunciar a falta de base jurídica do pedido de abertura do processo de impeachment (Marcelo Camargo/Agência Brasil) (Foto: Hélio Doyle)


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Ninguém se atreve a dizer como será 2016. Pior, ninguém se atreve a ser otimista quanto ao que esperar do ano que vem. Claro que há os astrólogos de profissão e as polianas por obrigação, mas nenhum analista sério arrisca previsões ou manifesta esperanças de que a imensa crise econômica, política e ética que o país vive seja superada ou mesmo razoavelmente minimizada nos próximos 12 meses.

Esse é o pior sintoma da crise brasileira: está muito difícil, quase impossível, enxergar a saída. Muitos têm a receita do que fazer, ou acham que têm. O problema é como fazer em uma sociedade extremamente polarizada ideológica e politicamente e em que cada proposta ou medida encontra forte reação contrária. Não há maioria clara, não há posição nitidamente hegemônica, falta legitimidade aos poderes Executivo e Legislativo. E até, em menor grau, ao Judiciário. Como não se consegue fazer, seja lá o que for, a saída fica a cada dia mais distante.

No quadro atual, gostemos ou não, faltam sobretudo lideranças políticas respeitadas, independentemente de suas posições. Há crises e polarizações extremadas em outros países, mas há também líderes. Na vizinha Argentina, Mauricio Macri e Cristina Kirchner polarizam e lideram seus campos. Na Espanha, em Portugal, na Grécia, países também em crise acentuada, as lideranças partidárias são conhecidas e explícitas. As velhas, dos partidos tradicionais, e as novas, do Podemos, do Bloco de Esquerda ou do Syriza.

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Aqui, os líderes não lideram sequer seus agrupamentos, muito menos conseguem respaldo da população. Responda rápido: quem são os líderes que podem neste momento comandar a saída da crise? Dilma, Lula, Fernando Henrique, Temer, Aécio, Alckmin, Marina, Ciro, Chico Alencar, Caiado, Bolsonaro? Todos têm seus seguidores, mas nenhum desses – e podem citar outros – tem capacidade política e mobilizadora de liderar o país. Na verdade, sequer têm iniciativa.

É mesmo quase o fundo do poço. Pois a crise tem de ser enfrentada, e para isso não bastam as medidas paliativas, na economia ou na política. É preciso adotar medidas estruturais e profundas. A crise ética é mais fácil de ser tratada: basta que deixem o Ministério Público, a Polícia Federal e o Judiciário trabalhar sem interferências externas e políticas. E que essas instituições sejam cobradas se estiverem fugindo à exigência de isenção, imparcialidade e respeito aos direitos civis e humanos.    

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Para enfrentar a crise política, é preciso uma reforma profunda no Estado, nos poderes e no sistema eleitoral. Para superar a crise econômica, é preciso tomar medidas que levem ao equilíbrio fiscal e financeiro ao mesmo tempo em que se promove o crescimento econômico, sem onerar os mais pobres e mais necessitados das ações do poder público.

Mas que reformas e que medidas? Um bom começo seria o governo e cada força política apresentarem com clareza à população o que propõem e pretendem nos campos econômico e político. Sem tergiversar e sem querer iludir, como se estivéssemos em campanha eleitoral. E que essas propostas fossem discutidas, na sociedade e nos parlamentos, com seriedade e sem sectarismos. Questões mais relevantes poderiam ser levadas à consulta popular, instrumento democrático geralmente rejeitado pelas elites que temem serem derrotadas e preferem os salões e porões dos legislativos.

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Difícil acontecer isso, certamente. Mas se o Brasil não reconhecer a gravidade da crise, não sair do caos atual e não tentar elevar o nível das propostas e dos debates, 2016 será um ano ainda pior do que estamos pensando. 

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