Filme inglês mostra tragédia que Temer nos prepara

"Palma de Ouro em Cannes, um dos principais prêmios do cinema internacional, o filme inglês 'Eu, Daniel Blake' descreve o mundo pavoroso que aguarda os brasileiros caso as reformas de Temer-Meirelles sejam aprovadas", escreve Paulo Moreira Leite; "Após dezoito anos de governos conservadores, inspirados pelo Estado Mínimo de Margaret Thatcher, os trabalhadores assistiram ao desmanche de um Estado de Bem-Estar que já foi exemplo mundial, inclusive para o SUS brasileiro", acrescenta; para PML, o filme mostra o que acontece quando a população perde direitos sociais: "as tentativas de reivindicar direitos e garantias se transformam em caso de polícia"

"Palma de Ouro em Cannes, um dos principais prêmios do cinema internacional, o filme inglês 'Eu, Daniel Blake' descreve o mundo pavoroso que aguarda os brasileiros caso as reformas de Temer-Meirelles sejam aprovadas", escreve Paulo Moreira Leite; "Após dezoito anos de governos conservadores, inspirados pelo Estado Mínimo de Margaret Thatcher, os trabalhadores assistiram ao desmanche de um Estado de Bem-Estar que já foi exemplo mundial, inclusive para o SUS brasileiro", acrescenta; para PML, o filme mostra o que acontece quando a população perde direitos sociais: "as tentativas de reivindicar direitos e garantias se transformam em caso de polícia"
"Palma de Ouro em Cannes, um dos principais prêmios do cinema internacional, o filme inglês 'Eu, Daniel Blake' descreve o mundo pavoroso que aguarda os brasileiros caso as reformas de Temer-Meirelles sejam aprovadas", escreve Paulo Moreira Leite; "Após dezoito anos de governos conservadores, inspirados pelo Estado Mínimo de Margaret Thatcher, os trabalhadores assistiram ao desmanche de um Estado de Bem-Estar que já foi exemplo mundial, inclusive para o SUS brasileiro", acrescenta; para PML, o filme mostra o que acontece quando a população perde direitos sociais: "as tentativas de reivindicar direitos e garantias se transformam em caso de polícia" (Foto: Paulo Moreira Leite)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Se há vários motivos para aplaudir o filme "Eu, Daniel Blake," de Ken Loach, Palma de Ouro do Festival de Cannes, um dos mais importantes do mundo, é fácil reconhecer a razão principal.

Centrado na luta de um carpinteiro para proteger seus direitos, a obra apresenta um retrato sem enfeites do colapso do Estado de bem-estar social na Inglaterra, país que, entre outros benefícios sociais, construiu um sistema público de saúde gratuito e universal, ponto de partida para diversos países, inclusive o nosso SUS.

Do ponto de vista dos 200 milhões de  brasileiros, Eu, Daniel Blake ganha uma importância especial pela conjuntura política, de guerra aberta do governo Temer e da equipe de Henrique Meirelles contra a CLT e programas sociais como Bolsa Família, Previdência Social e Minha Casa Minha Vida. Loach mostra o destino de um dos países mais ricos do planeta, antiga potência imperial, que se encontra numa etapa posterior do processo que leva ao Estado Mínimo.

continua após o anúncio

"Eu, Daniel Blake" registra numa cena a condição de cidadãos britânicos que passam fome. Já imaginou?

A tradução para a realidade brasileira exige adaptações importantes, como uma renda per capta menor, um patrimônio acumulado também menor -- apesar do crescimento dos últimos anos. Considerando que os seres humanos tem necessidades básicas semelhantes em qualquer latitude, pode-se imaginar o tamanho da tragédia em curso, o abismo mais à frente.

continua após o anúncio

O mundo que se vê na tela retrata uma classe trabalhadora capaz de gestos individuais de solidariedade mas vencida em derrotas sociais imensas, onde homens e mulheres são obrigados a lutar de forma individual por seus direitos e improvisar caminhos no limite da ilegalidade para reforçar a dispensa. Num momento divertido, retrata-se um cidadão que engorda os ganhos pelos labirintos da globalização, fazendo contrabando de tênis produzidos na China.

No mundo pós-moderno de Eu, Daniel Blake, as ações coletivas sequer são cogitadas. A existência de sindicatos, que já foram uma glória do movimento operário, nem é mencionada. Ao longo do filme, o protagonista está mergulhado numa realidade que os brasileiros conhecem muito bem: no combate por direitos estabelecidos junto aos serviços de telemarketing, enfrentando um exasperante labirinto de recomendações e explicações que nada resolvem. São apenas uma forma cínica encontrada pelos governantes para adiar a entrega de um direito que as duas partes sabem que é liquido e certo -- mas dificilmente será reconhecido.

continua após o anúncio

Nas cenas finais, o filme mostra o que vem depois. Após perder os direitos como trabalhador, o protagonista também é destituído de direitos como cidadão e acaba sendo tratado como criminoso comum quando  tenta de realizar um protesto por conta própria.

Com preciosas lições para a atualidade, Eu, Daniel Blake  tem uma omissão do ponto de vista histórico. Você vai para casa perguntando como tudo aquilo pode acontecer.

continua após o anúncio

Em vários momentos, o filme faz referências esparsas ao governo responsável pela tragédia social do país, o Partido Conservador. Está correto. Nos 18 anos em que permaneceram no poder, onze deles com Margaret Thatcher  como primeira-ministra, os conservadores fizeram um trabalho meticuloso e profundo para destruir o Estado de Bem-Estar Social. O problema é que, a seguir, o Partido Trabalhista ocupou o governo por treze anos. Em dez deles, Tony Blair foi o primeiro ministro e, contrariando as expectativas da maioria dos britânicos, nada fez para reverter a herança recebida. Em 2010, o Labour sofreu uma nova derrota nas urnas e até agora não se recuperou.

Cabia ao Labour, pelo seu lugar na história do país, o papel de resistir aos ataques contra os direitos da maioria. A recusa em assumir este lugar também ajudou a criar um mundo no qual a questão social virou caso de polícia -- e este também é um debate que interessa aos brasileiros de 2017. Sem resistência, seus direitos também vão se transformar em poeira.

continua após o anúncio
continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247