Obama fez o que Haddad deveria ter feito

"Enquanto Barack Obama mostra uma postura coerente com as incertezas que aguardam a posse de Donald Trump, aproveitando cada minuto que lhe sobra na Casa Branca para comprar o debate político, Fernando Haddad fez uma despedida discretíssima da prefeitura de São Paulo", escreve Paulo Moreira Leite; "Até chamou o sucessor de 'irmão'"; para PML, "num Brasil que enfrenta uma conjuntura de destruição e retrocesso, cuja origem se encontra num golpe de Estado, é possível pensar que os moradores de São Paulo tinham direito a uma mensagem de quem fala do passado sem receio de encarar o futuro"

"Enquanto Barack Obama mostra uma postura coerente com as incertezas que aguardam a posse de Donald Trump, aproveitando cada minuto que lhe sobra na Casa Branca para comprar o debate político, Fernando Haddad fez uma despedida discretíssima da prefeitura de São Paulo", escreve Paulo Moreira Leite; "Até chamou o sucessor de 'irmão'"; para PML, "num Brasil que enfrenta uma conjuntura de destruição e retrocesso, cuja origem se encontra num golpe de Estado, é possível pensar que os moradores de São Paulo tinham direito a uma mensagem de quem fala do passado sem receio de encarar o futuro"
"Enquanto Barack Obama mostra uma postura coerente com as incertezas que aguardam a posse de Donald Trump, aproveitando cada minuto que lhe sobra na Casa Branca para comprar o debate político, Fernando Haddad fez uma despedida discretíssima da prefeitura de São Paulo", escreve Paulo Moreira Leite; "Até chamou o sucessor de 'irmão'"; para PML, "num Brasil que enfrenta uma conjuntura de destruição e retrocesso, cuja origem se encontra num golpe de Estado, é possível pensar que os moradores de São Paulo tinham direito a uma mensagem de quem fala do passado sem receio de encarar o futuro" (Foto: Paulo Moreira Leite)


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Não conheço quem não tenha vontade de aplaudir o esforço de Barack Obama para defender uma herança política que tem toda chance de ser trucidada por Donald Trump. Num universo embaralhado por espertezas de marketing e truques retóricos, Obama impressiona pela firmeza de suas opiniões, de quem defende o que fez sem transmitir o mais leve ressentimento pela vitória do candidato do partido adversário.

Como brasileiro, só posso lamentar que Fernando Haddad não tenha agido da mesma forma na sucessão da prefeitura de São Paulo, a disputa que esteve no centro do debate político de 2016 -- ao menos no primeiro turno.

Não quero fazer, aqui, a defesa da política externa de Obama, imperial até a medula. Nem estou de acordo com a linha geral de seu governo, de concessões contínuas ao capital financeiro, de abertura a globalização e desprezo pelos interesses dos trabalhadores -- o que ajuda a entender a vitória de Trump em territórios operários que, por tradição, votavam com o Partido Democrata. Deixando de lado por um minuto o balanço dos oito anos de governo Obama, quero  discutir a atitude que um governante pode tomar após a derrota.

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Ninguém precisa lembrar argumentos infantis para dizer que estou comparando situações diferentes. Claro que sim. Obama deixa a Casa Branca como um dos três presidentes mais populares da história dos Estados Unidos. Hillary Clinton até perdeu as eleições no Colégio Eleitoral, mas saiu da disputa com uma vantagem de 3 milhões de votos sobre o adversário.

Mesmo derrotado nas eleições para o Congresso, o Partido Democrata está longe de enfrentar um esfacelamento comparável ao Partido dos Trabalhadores. A sobrevivência do partido não está em jogo.   

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Em 2016, o PT sofreu uma derrota sem atenuantes. A maior vitória foi em Rio Branco, capital do Acre.

O desgaste do Partido dos Trabalhadores marcou o início e o fim da gestão de Haddad. Ele fez campanha -- e venceu -- quando o julgamento da AP 470 se encontrava em todos os tele-jornais. Disputou a reeleição  -- e perdeu -- quando o massacre midiático permitido pela Lava Jato se encontrava no ponto máximo de destruição do PT. Em resumo, quatro anos de declínio no plano nacional.   

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Estes argumentos ajudam a entender por que Haddad foi derrotado, ainda que tenha sido -- em minha opinião -- um dos melhores prefeitos da história de São Paulo. Enfrentando circunstâncias difíceis, deixou uma herança respeitável. Sem alongar muito: a comparação entre a cidade de 2013 e 2017 é favorável. Para começar, lembro um terreno essencial à maioria de seus moradores -- o transporte público. Alguém irá discutir isso?

Apesar dessa herança, Haddad deixou a prefeitura como o sujeito que sai de um emprego e volta para casa para tocar a vida privada. Recebeu homenagens -- merecidas -- como um tributo pessoal, quando tratava-se, especialmente, de apoio político a um líder e adesão a uma política -- também. Na transmissão do cargo usou o termo "irmão" para se referir ao sucessor João Dória, adversário que fez uma campanha irresponsável, sem escrúpulos, de denúncias de  sua gestão.

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Ao defender e explicar seu governo a cada minuto derradeiro na presidência, Barack Obama deixou a presidência maior do que entrou. Com a biografia de quem iniciou-se na política como militante em bairros pobres de Chicago, assumiu a responsabilidade de falar do passado sem receio de encarar o futuro, sem medo de cobranças.

Deixou claro o respeito por cada cidadão que lhe deu o próprio voto, explicando por que haviam travado um combate que valeu à pena.  Jamais evitou o debate que as contradições da vitória de Trump produziu.

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 A derrota ofereceu -- com certeza -- uma chance menos auspiciosa e  mais desafiadora a Fernando Haddad.  Mas é possível pensar que os moradores de São Paulo tinham direito a uma mensagem semelhante.

Diante da conjuntura de destruição e retrocesso, na cidade e do Brasil, onde o dínamo das mudanças é um governo produzido por um golpe de Estado, essa postura era ainda mais necessária.

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(Este artigo foi atualizado em 27/1/2017)

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