Doria e o elogio ao colonialismo

"Enquanto se anunciava a exclusão de quase 700 000 crianças do Leve Leite, em Doha o prefeito João Dória lançava um vídeo de quatro minutos anunciado a 'maior privatização da história' de São Paulo", recorda Paulo Moreira Leite, articulista do 247; "Mesmo separadas por 11 871 km de distância, são duas faces da mesma moeda", escreve PML; "Num lamentável elogio do colonizado ao colonizador, postura que explica a história de um país que não foi capaz de atingir todas suas potencialidades, o vídeo pretende despertar o apetite de investidores externos pela imensa riquezas dos espaços públicos da cidade, deixando claro que se prepara  um comércio de bugigangas"

"Enquanto se anunciava a exclusão de quase 700 000 crianças do Leve Leite, em Doha o prefeito João Dória lançava um vídeo de quatro minutos anunciado a 'maior privatização da história' de São Paulo", recorda Paulo Moreira Leite, articulista do 247; "Mesmo separadas por 11 871 km de distância, são duas faces da mesma moeda", escreve PML; "Num lamentável elogio do colonizado ao colonizador, postura que explica a história de um país que não foi capaz de atingir todas suas potencialidades, o vídeo pretende despertar o apetite de investidores externos pela imensa riquezas dos espaços públicos da cidade, deixando claro que se prepara  um comércio de bugigangas"
"Enquanto se anunciava a exclusão de quase 700 000 crianças do Leve Leite, em Doha o prefeito João Dória lançava um vídeo de quatro minutos anunciado a 'maior privatização da história' de São Paulo", recorda Paulo Moreira Leite, articulista do 247; "Mesmo separadas por 11 871 km de distância, são duas faces da mesma moeda", escreve PML; "Num lamentável elogio do colonizado ao colonizador, postura que explica a história de um país que não foi capaz de atingir todas suas potencialidades, o vídeo pretende despertar o apetite de investidores externos pela imensa riquezas dos espaços públicos da cidade, deixando claro que se prepara  um comércio de bugigangas" (Foto: Paulo Moreira Leite)


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Distribuído como peça de propaganda em  sua viagem a Doha, a principal contribuição do vídeo de quatro minutos  do prefeito João Dória sobre São Paulo ocorre no plano cultural. É um lamentável monumento do colonizado a colonização, aqui exibida como opção para salvar a maior cidade brasileira.

Cinco séculos depois da chegada das caravelas de Cabral ao litoral da Bahia, o prefeito da maior cidade brasileira  assume a postura do chefe tribal -- nada a ver com autoridade eleita democraticamente, direito que os brasileiros só puderam conquistar séculos mais tarde -- que decide negociar as riquezas erguidas na cidade. Estamos falado de um patrimônio  formado, tijolo a tijolo, desde 1554, pelo trabalho duro de seus cidadãos, numa história que inclui três séculos de escravidão, o braço que plantou e colheu as riquezas originais, para promover o "maior programa de privatização de sua história."

O espírito é aquele mesmo que marcou uma história de atraso, desigualdade e exploração de sucessivas gerações de brasileiras e brasileiros. O resultado produziu um país que, mesmo ocupando a posição de líder regional, ainda se encontra muito abaixo das  riquezas e potencialidades da "terra em que se plantando tudo dá," como anunciou o escrivão Caminha, patrono do ufanismo agora exibido à cores, com vários truques de edição e musiquinha de fundo.  

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Embora não se fale de valores nem de números, o que não é recomendável numa operação desse tipo, o objetivo é evidente.   Pretende-se despertar o apetite externo pela imensa riqueza dos espaços públicos de São Paulo, deixando claro que se prepara um comércio de espelhinhos, machadinhas e outras bugigangas. É isso o que ocorre nos programas de privatização desde que o partido de Dória, o PSDB, liderou o processo descrito com maestria por Aloysio Biondi no livro "O Brasil Privatizado." Ali, um mestre respeitado de nosso jornalismo econômico demonstra que, contrariando a conversa padrão dos programas de venda de patrimônio, os subsídios e financiamentos públicos ultrapassaram em muito as receitas, "aumentando a dívida e o rombo do governo".

Como é de se esperar numa oferta desse tipo, sobram objetos de interesse material mas faltam seres humanos. Homens e mulheres são exibidos em movimentos robotizados de alta velocidade. As imagens da São Paulo verdadeira -- inclusive com pichações e grafites de uma população que vive, ama e protesta, expressando-se com os meios de que dispõe -- estão de fora. Não é só estética. É poder. A cidade não é uma obra  humana coletiva, com dores e sofrimentos, diversidade e esperanças, mas um grande balcão para negócios.  

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O vídeo ainda promete "segurança jurídica" aos interessados, conceito que não é confirmado nem pela quebra das grandes empresas investigadas na Lava Jato, num processo com frequentes contestações no plano jurídico, nem pelos índices dramáticos de violência e criminalidade, que atingem tanto os pobres da periferia como os ricos que se pretende atrair com ofertas tão apetitosas.   

Exibido em Doha, a 11 871 km de São Paulo, o vídeo foi lançado no mesmo momento em que a prefeitura anunciou o corte em 53% do programa do leite para crianças, numa decisão que excluiu perto de 700 000 estudantes de escolas públicas. Separadas por vários oceanos, são duas faces da mesma moeda.

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Ponto de honra do Estado Mínimo patenteado por Margareth Thatcher, o corte do leite pode ser interpretado como um primeiro passo nas mudanças que ameaçam a vida da cidade.

As ofertas de privatização incluem o que você pode imaginar: a  gestão do Bilhete Único, do Ibirapuera, o autódromo de Interlagos, o sambódromo e até os cemitérios -- coisa que a cultura dos nativos da Terra de Santa Cruz venerava como área sagrada, destinada à preservação da  história e à lembrança dos antepassados. Como não se conhece privatização que beneficie o bolso do usuário, como provam nossas tarifas de telefonia, entre as maiores do mundo, é bom estar preparado.

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Anunciando o que pode ser uma das próximas batalhas, um editorial da Folha de S. Paulo, hoje, elogia Dória pelo corte no programa do leite. Refletindo uma postura que espelha a visão dos bairros onde os moradores dispensam transporte coletivo, o jornal também lamenta que, temendo protestos logo depois da posse, o prefeito tenha evitado o reajuste nas passagens de ônibus em nome da "popularidade fácil."        

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