Na defensiva, Bolsonaro afunda no espetáculo que ajudou a criar

Depois de uma campanha eleitoral onde transformou a necessária intolerância com a corrupção num discurso de ódio, Bolsonaro se vê as voltas com um monstro que ajudou a criar", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; "as explicações sobre corrupção já se tornaram tema importante na agenda do ministério de um governo sequer tomou posse"

Na defensiva, Bolsonaro afunda no espetáculo que ajudou a criar
Na defensiva, Bolsonaro afunda no espetáculo que ajudou a criar (Foto: REUTERS/Adriano Machado)


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Não é preciso fazer uma análise muito sofisticada para perceber que, como um lutador empurrado às cordas, o governo Jair Bolsonaro se encontra na posição de quem já é obrigado a disparar todo tipo de golpe para livrar-se das suspeitas sobre dois repasses que totalizam R$ 40.000 reais para sua mulher, numa tentativa óbvia de escapar de uma denúncia que está longe de ser um episódio menor.

Em 1992 Fernando Collor perdeu o pescoço em função de uma denúncia que parecia trivial, a compra irregular de uma Fiat Elba, que abriu uma CPI que forçou o Caçador e Marajás a renunciar ao mandato.

A prova contra a futura primeira-dama não envolve palavras de um motorista, nem um cheque de uma conta fantasma, como ocorreu com Roseane Collor. Os dados vieram de um organismo oficial, o COAF. São informações frias, definitivas, como todo extrato bancário em folha de computador, o que dificulta qualquer desmentido fácil e só podem ser contestados por provas do mesmo teor e consistência. Essa realidade ajuda a entender a inesquecível reação do já cambaleante Onix (Caixa 2) Lorenzoni, futuro ministro-chefe da Casa Civil.

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Momentos antes de jogar toalha, encerrando uma entrevista que teria sido muito oportuna se permitisse esclarecimentos com um mínimo de consistência, Onix fez um pedido de socorro: “No Brasil, a gente tem que saber separar o joio do trigo. Esse governo é trigo. Onde é que estava o Coaf no mensalão, no petrolão?". Em outro golpe fora do alvo, ao deparar-se com um repórter que cumpria o dever profissional de colocar questões sobre o caso, o ministro chutou na canela: “qual é o seu salário?”

Além dos fatos em si, a natureza devastadora do repasse para Michelle é agravado pelo contexto brasileiro. Num país que assistiu ao impeachment de Dilma por um pretexto que seria cômico se não fosse trágico– pedaladas fiscais – e mantém Lula na prisão por um apartamento que nunca lhe pertenceu, é preciso reconhecer que se criou um padrão de moralidade incompatível com sorrisos amarelos e cenas de falsa indignação.

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Transformando a intolerância com a corrupção numa forma conveniente de ódio político, Bolsonaro criou um monstro que teve utilidade inegável de lhe dar votos. O convite para Sérgio Moro integrar o ministério faz parte do mesmo jogo.

Se há dois meses Bolsonaro fez um discurso dizendo que Lula iria “ apodrecer na cadeia” e que em breve o adversário Fernando Haddad iria lhe “ fazer companhia a seu lado”, o governo sequer tomou posse mas denúncias de corrupção já ocupam uma parte importante da agenda do novo ministério. Na sexta-feira passada, Onix Lorenzoni foi chamado às pressas para substituir o guru econômico Paulo Guedes num evento com empresários em São Paulo, no qual acabou dando a entrevista desastrada mencionada parágrafos acima.

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Onix disse aos jornalistas que o futuro ministro da Economia não pode comparecer por que enfrentava problemas de saúde. Naquele mesmo dia, a revista Carta Capital chegava às bancas, com uma reportagem de capa dizendo que “o milionário ministro da Economia de Bolsonaro é alvo do Ministério Público e da Polícia Federal por possível crime contra o sistema financeiro”.

Após vários dias de encenação e explicações desencontradas, o vice Hamilton Mourão entrou em cena para cobrar: "Algo tem aí, precisa dizer".

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Deixando claro que sabe como esses casos podem se resolver -- ou se complicar de vez -- o vice também recomendou: "Precisa dizer de onde saiu o dinheiro. O COAF rastreia tudo", acrescentou, em tom de advertência". 

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