Huda Shaarawi: a primeira feminista do Egito

O ato mais simbólico da luta de Huda Shaarawi aconteceu em 1923 quando, ao voltar de uma conferência feminista em Roma, ela desembarcou na estação central do Cairo e retirou seu véu em frente a uma multidão



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Huda Shaarawi (23 de junho de 1879 - 12 de Dezembro de 1947) foi uma pioneira no feminismo egípcio e influenciou mulheres em todo o mundo árabe. Nascida em uma família de alta classe, Huda foi criada dentro do sistema de haréns, espaços de convívio exclusivo de mulheres em uma sociedade profundamente patriarcal e segregacionista. Em seu livro The Harem Years, publicado em 1897, Huda conta detalhes desta época, bem como as suas percepções sobre como a sociedade egípcia negava direitos civis e educação às mulheres.

“Entrei em depressão e comecei a negligenciar meus estudos, odiando ser uma menina porque isso me impedia de ter a educação que eu buscava. Mais tarde, ser uma mulher se tornou uma barreira entre mim e a liberdade pela qual eu ansiava”. - The Harem Years

Ainda que já houvesse publicações de escritoras egípcias pensando a condição das mulheres desde pelo menos 1890, foi só a partir dos anos 1920, com Huda Shaarawi, que o termo Feminismo passou a ser formalmente empregado e a participação política de mulheres tomou forma concreta oficialmente no país. Essa foi a primeira fase do feminismo egípcio (1920-1940), tido como feminismo liberal radical de orientação francesa, marcado por aspirações nacionalistas e anti coloniais.

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Huda recebeu uma educação privilegiada, sendo fluente em árabe, francês e turco. Aos treze anos se casou com seu primo, Ali Pasha Shaarawi, um ativista político, na época com trinta anos de idade. Ele violou uma cláusula contratual na qual se comprometia a largar sua concubina, e por isso eles se separaram no ano seguinte. Permaneceram separados durante sete anos, durante os quais Huda aprofundou seus estudos se envolveu com militância política. Mais tarde retomaria a relação com seu marido, que a envolveu em suas reuniões políticas e apoiou sua militância até o fim da vida.

Em 1908, Huda fundou a primeira organização filantrópica dirigida por mulheres no Egito, a Mubarrat Muhamad Ali, que oferecia serviços de assistencialismo para mulheres pobres e crianças. Em 1910, inaugurou uma escola para garotas que, ao invés das tradicionais práticas de utilidades domésticas, lhes ensinava tópicos acadêmicos, e em 1914 criou a União das Mulheres Educadas do Egito

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Shaarawi se envolveu nas lutas internacionais pelo sufrágio feminino e passou a organizar palestras e encontros públicos, fazendo com que mulheres antes trancadas em casa e nos haréms passassem a ocupar os locais públicos e trocar experiências. Após a I Guerra Mundial intensificou-se a luta anti colonialista e, em 1919, Shaarawi organizou a primeira grande manifestação pública de mulheres contra o império britânico. No mesmo ano foi eleita presidenta do Comitê de Mulheres do partido Wafd.

Em 1923, Huda participou da fundação da União Feminista do Egito (al-Ittihad al Nisa´i al-Misri), que está ativa até hoje, e tornou-se sua primeira presidenta. A organização se focava principalmente na luta pelo sufrágio feminino e em campanhas de educação de mulheres. Através da associação, Huda também militou contra as restrições de vestimenta e de movimentação das mulheres na sociedade egípcia.

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O ato mais simbólico da luta de Huda Shaarawi aconteceu em 1923 quando, ao voltar de uma conferência feminista em Roma, ela desembarcou na estação central do Cairo e retirou seu véu em frente a uma multidão. Após o choque inicial, a multidão aplaudiu e ovacionou, e dezenas de mulheres seguiram o exemplo e arrancaram seus véus, no primeiro grande ato público de rebeldia feminina contra as instituições tradicionais e poder público egípcio.

Até sua morte, Shaarawi continuou liderando a União Feminista do Egito, publicando a revista feminista El-Masreyya e participando de congressos feministas no mundo todo, lutando também pela paz internacional e desarmamento.

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Shaarawi também foi membro da Aliança Universal de Mulheres pelo Sufrágio e Cidadania Igualitária, e em 1935 foi eleita vice-presidenta da organização. Em 1945 fundou a União de Feministas Árabes, tornando-se também sua primeira presidenta.

Shaarawi dizia que mulheres deviam se engajar em projetos sociais e políticos por duas razões principais: primeiro, porque a participação política expande os horizontes das mulheres, lhes oferece conhecimento prático e permite focar em seus objetivos; e em segundo lugar, porque a participação social ativa contraria a visão de que mulheres são apenas criaturas feitas para o prazer e necessidades masculinas, precisando ser constantemente protegidas.

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Sendo uma feminista socialista, Shaarawi teve um papel pioneiro no pensamento político e social egípcio. Aliando as noções de política feminista ocidental com as ferramentas de interpretação do texto corânico conhecidas como ijthad, Huda lutou e escreveu sobre educação, reforma cultural, movimento de libertação anti colonialista, tradição e moralismo, reforma do pensamento religioso, igualdade de gêneros, poligamia, divórcio, sufrágio feminino e organização política nacional. Foi uma revolucionária de palavras e de ações. Huda Shaarawi se dedicou por quase meio século às lutas de libertação das mulheres no mundo todo, e foi uma das fundadoras do pensamento democrático moderno no mundo árabe.

“Homens destacam mulheres de mérito excepcional e as colocam em um pedestal para não terem que reconhecer as capacidades de todas as mulheres” - Huda Shaarawi.

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