Cidade moderna e barbárie

Dos desafios da governança local, o principal é, sem sombra de dúvidas, fugir ao velho modelito de gestão urbana que tem por base o ideal da cidade concretada



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Dos desafios da governança local, o principal é, sem sombra de dúvidas, fugir ao velho modelito de gestão urbana que tem por base o ideal da cidade concretada, com prédios amplos e digitalizados, de fachadas espelhadas e com largas avenidas repletas de carros e sinais luminosos, ou seja, o horizonte da cidade intensamente tecnificada e pós-moderna não, necessariamente contempla o desafio da democratização do urbano.

Urbano que por sinal, é bem mais um estilo de vida do que uma parcela do território municipal se realiza se e somente se, forem cumpridas as determinações sociais e históricas da própria modernidade. Um pouco de história nos ajuda a compreender um pouco mais sobre modernidade e sua intangível relação com aquilo que denominamos de espaço urbano.

É consenso, sobretudo, entre historiadores que a Revolução Francesa (1789) funda a própria modernidade e que coincide com o próprio surgimento do assim chamado Estado moderno. O magistral trabalho do filósofo brasileiro Sergio Paulo Rouanet, "Mal-estar na Modernidade" é bastante esclarecedor quando cita que: "... O projeto civilizatório da modernidade tem como ingredientes principais os conceitos de universalidade, individualidade e autonomia. A universalidade significa que ele visa todos os seres humanos, independentemente de barreiras nacionais, étnicas ou culturais. A individualidade significa que esses seres humanos são considerados como pessoas concretas e não como integrantes de uma coletividade e que se atribui valor ético positivo à sua crescente individualização. A autonomia significa que esses seres humanos individualizados são aptos a pensarem por si mesmos, sem a tutela da religião ou da ideologia, a agirem no espaço público e a adquirirem pelo seu trabalho os bens e serviços necessários à sobrevivência material".

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Sinteticamente a universalidade, a individualidade e a autonomia formam o triunvirato de novos e essenciais valores que irá orientar e refundar o próprio homem a partir de então. Evidentemente, dessas novas formas de perceber, sentir e agir que o homem moderno como projeto de sociedade, será fundado e refundado cotidianamente o que implica consequentemente na alteração positivamente qualificada das suas relações sociais e de suas manifestações culturais e produtivas.

Nesse diapasão de valorações, os espaços e territórios deste "homem novo" são igualmente alterados, sendo a cidade o foco central e objetivo para uma melhor detecção do próprio aprofundamento destes valores modernos.

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É importante, no entanto, considerar que esses valores ainda não realizados na maior parte do mundo ainda servem muito bem como horizonte a ser buscado e perseguido, sobretudo, e principalmente, pelas forças sociais progressistas. O que é a esquerda afinal? A esquerda não tem projeto? Se perdeu? Evidentemente que não! A esquerda de fato e com inserção histórica, é a que busca realizar os valores da modernidade ainda nos trágicos dias do contemporâneo. Por quê? Porque o homem existe, não é uma abstração, não é um número lançado em uma planilha, não é um espectro ou uma possibilidade. O homem é!

A direita? Esta, sobretudo, a direita política de economias periféricas e marginais como a brasileira, jamais fora afeita aos irresistíveis valores modernos que propugnam, por exemplo, que os homens são iguais, que a educação é direito social e insubstituível, que todos os homens tem igual direito à propriedade privada, à participação política e à livre expressão. De fato, isso seria "um pouco demais" para caboclos, indígenas e mestiços da pindorama do Brasil.

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De outa maneira, a incapacidade de universalizar direitos e, de fato, realiza-los em favor do conjunto do povo; de garantir a integridade física e as formas originais das minorias brasileiras tão amplamente presentes na paisagem política e social do país e; por fim, contemplar a democracia nacional com o reconhecimento dos específicos e das individualidades converte a sociabilidade brasileira em uma arena eterna de conflitos e beligerâncias onde o Estado perde seu papel de magistrado e, com bastante e cínica frequência declina seu poderio de controlo social em favor e tributo das classes superiores.

Finalmente, a cidade como expressão do urbano como estilo de vida supostamente distinto e de maior elaboração e arranjo social se realiza como experimento moderno se assumir por meio de políticas sociais e públicas a efetivação "stricto sensu" dos já citados imperativos da modernidade e que, tal qual sabemos, rebateria bastante oportunamente no avançado estágio de barbárie que assola a cidade atual por meio do avanço capitalista.

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