Datena, Doria e Russomano facilitam o voto em SP

A presença de três apresentadores de TV na disputa pela Prefeitura de São Paulo pode abrir espaço para a reeleição de Fernando Haddad (PT), diz o colunista Camilo Vannuchi, em artigo para o 247; jornalista chama a atenção, no entanto, para elementos que devem estimular a candidatura de José Luiz Datena, João Doria Jr e Celso Russomanno; "A baixa popularidade do atual prefeito e a ausência de candidato favorito fazem da sucessão do ano que vem território do imponderável", comenta; leia a íntegra

A presença de três apresentadores de TV na disputa pela Prefeitura de São Paulo pode abrir espaço para a reeleição de Fernando Haddad (PT), diz o colunista Camilo Vannuchi, em artigo para o 247; jornalista chama a atenção, no entanto, para elementos que devem estimular a candidatura de José Luiz Datena, João Doria Jr e Celso Russomanno; "A baixa popularidade do atual prefeito e a ausência de candidato favorito fazem da sucessão do ano que vem território do imponderável", comenta; leia a íntegra
A presença de três apresentadores de TV na disputa pela Prefeitura de São Paulo pode abrir espaço para a reeleição de Fernando Haddad (PT), diz o colunista Camilo Vannuchi, em artigo para o 247; jornalista chama a atenção, no entanto, para elementos que devem estimular a candidatura de José Luiz Datena, João Doria Jr e Celso Russomanno; "A baixa popularidade do atual prefeito e a ausência de candidato favorito fazem da sucessão do ano que vem território do imponderável", comenta; leia a íntegra (Foto: Camilo Vannuchi)


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"Tá fácil de votar de novo no Haddad". Foi a essa conclusão que chegou um amigo ao olhar rapidamente a lista de pré-candidatos a prefeito de São Paulo. Seguindo a mesma lógica, uma amiga comparou a disputa entre Datena e Haddad com uma briga entre Idade Média e século XXI. Ambos têm sua dose de razão. Só falta combinar com os russos (os adversários, no caso, segundo a lendária expressão atribuída a Garrincha, e não os finados bolcheviques).

Apenas na última semana, Datena e João Doria anunciaram sua intenção de concorrer ao cargo, formando com Celso Russomanno, candidatíssimo desde 2012, a midiática trindade da política paulistana.

José Luiz Datena apresenta o Brasil Urgente, programa policialesco da TV Bandeirantes que contribui para deixar todo mundo em pânico, convencido de que basta pisar na rua em São Paulo para ser estuprado ou levar um tiro na cabeça. As estatísticas colocam a cidade entre as capitais menos violentas do Brasil, ele sabe, mas seu papel na mídia é convencer a população do contrário. Assim, mantém o ibope no topo, o espectador de olho vidrado na telinha, respiração arfante, sempre à espera de um disparo. A qualquer momento, alguém pode cair morto diante das câmeras. Defensor da redução da maioridade penal e adepto de bordões como "bandido tem que ir para a cadeia", Datena escolheu se filiar ao PP, partido com o maior número de investigados na Operação Lava Jato.

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João Doria Jr. é empresário, presidente do Lide (Grupo de Líderes Empresariais) e dono da editora Doria, especializada em publicar revistas para o público AA. Na política, foi secretário municipal de Turismo de Mário Covas e presidente da Embratur no governo Sarney. Mais recentemente, ganhou visibilidade ao assumir a condução do programa O Aprendiz, na TV Record, entre 2010 e 2011, o que o convenceu de que era possível disputar uma eleição majoritária — e logo a de prefeito de São Paulo. Tucano, vai apresentar candidatura e deve disputar as prévias com Andrea Matarazzo, por enquanto o nome mais provável do PSDB.

Datena e João Doria são reflexos do mesmo momento político. São muitos os elementos que servem de incentivo para ambas as candidaturas. O primeiro e mais evidente é o enorme potencial de entrar na disputa com chances reais de vitória. A baixa popularidade do atual prefeito e a ausência de candidato favorito fazem da sucessão do ano que vem território do imponderável. O que existe, no máximo, é um candidato com maior recall, o deputado federal Celso Russomanno, outro homem de mídia, que se notabilizou defendendo os direitos do consumidor em programas jornalísticos como o Aqui Agora, do SBT, e que se mantém no ar, hoje à frente do quadro Patrulha do Consumidor, do Programa da Tarde, da Record. Em agosto de 2012, Russomanno tinha o maior índice de intenções de voto e quase chegou lá. Sua candidatura acabou se desmanchando e a corrida retomou a tradicional polarização entre petistas e tucanos.

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Mesmo liderando as pesquisas, Russomanno não pode ser apontado, ainda, como franco favorito. Seu nome não é tão forte quanto o de Marta Suplicy, que ainda não foi lançada nem definiu partido. Tampouco sua legenda é tão forte quanto a de Haddad ou a de Andrea Matarazzo, vereador que até a semana passada figurava como provável nome do PSDB. Nem mesmo a candidatura de Haddad é líquida e certa. À frente de uma administração moderna e ousada, reprovada pela esmagadora maioria dos eleitores que responderam às últimas pesquisas, Haddad já demonstrou que está mais preocupado com o futuro da cidade no longo prazo do que no resultado do próximo pleito, o que poderia inspirá-lo a abrir mão da candidatura e voltar às aulas na USP.

Um segundo elemento que estimula a candidatura dos três apresentadores é o histórico das últimas sete eleições: Em São Paulo, nunca um prefeito do PT foi reconduzido ao cargo ou elegeu sucessor. Nas duas vezes em que o partido administrou a cidade, foi sucedido por um governo conservador, com prioridades diametralmente opostas. Foi assim com Luiza Erundina, sucedida por Maluf em 1992, e também com Marta, derrotada por José Serra em 2004. Hoje ex-petistas, ambas cumpriram uma trajetória que, em parte, lembra Haddad: foco na transparência, na participação social e nas políticas públicas voltadas para o social. Erundina descentralizou a administração e remodelou o Vale do Anhangabaú; Marta construiu os CEUs e lançou o bilhete único; Haddad priorizou os usuários de ônibus construindo um número inédito de faixas exclusivas e criando o bilhete único mensal — e até hoje é hostilizado por priorizar o transporte público em detrimento do transporte individual com tamanho ímpeto. Já os candidatos mais identificados com a direita e o centro-direita tiveram mais êxito. Maluf elegeu o sucessor em 1996. Kassab foi reconduzido ao cargo em 2008.

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Um terceiro elemento é, evidentemente, a crise das instituições. Na prática, o descontentamento com os "políticos tradicionais" abre caminho para o sucesso de candidatos recém-chegados à vida política. Esse fenômeno não é novo. E costuma ter maior receptividade no Legislativo. Esteve na origem da eleição de boas surpresas, como Jean Wyllys e Romário, e outras nem tanto, como Tiririca e Netinho de Paula. É mais raro na disputa a cargo executivo, mas nada impede que seja a hora de inaugurar um ciclo.

Finalmente, o quarto elemento é aquele que dialoga mais intimamente com a emergência de nomes como Datena e João Doria: o protagonismo da mídia na política atual. Apelidado de Quarto Poder, por exercer na prática tanto poder quanto os três poderes republicanos formalmente constituídos — Executivo, Legislativo e Judiciário —, o jornalismo tem operado mudanças sutis na sua forma de exercer esse poder. Se antes havia um poder de influenciar a opinião pública ou fiscalizar os governantes, de uns tempos para cá setores da imprensa parecem de fato empenhados em também legislar e decidir, agindo por vezes como partido político.

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Veja e Globo talvez representem o estado da arte nessa cultura, nesse "estilo" de fazer jornalismo. A primeira pela manipulação da informação e pelo tom permanentemente arrogante com que se presta a esculhambar o governo com base em fraudes, mentiras, ilações e declarações sem fonte, e a segunda pela curadoria seletiva, pela edição tendenciosa e pelos editoriais repetidamente pessimistas e enviesados.

Nesta conjuntura, apresentar um programa de TV é insumo que não se pode nem deve desperdiçar. Quem está na mídia em condição de poder dialogar com um público converte-se em porta voz desse mesmo público, normalmente indignado, perante as instâncias decisórias. E, em tempos de crise, basta elevar o timbre e posicionar-se como credor, aquele que cobra os direitos do cidadão com o dedo em riste e muita coragem, para se firmar como arauto da ética, da decência, da probidade e da eficiência. Pressupõe-se que o apresentador-candidato exercerá a política com o mesmo talento e a mesma postura ilibada com que exerce o populismo diante das câmeras.

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Se Celso Russomanno é aquele que sabe ouvir as reclamações da gente simples e não poupa esforços para cobrar tanto o poder econômico quanto o poder público para garantir os direitos dos consumidores até que esteja bom para ambas as partes, é certo que ele vai agir com a mesma lealdade e o mesmo compromisso social quando for prefeito. Se Datena é aquele que sabe cobrar das autoridades uma segurança pública de qualidade sempre que aparece no vídeo, indignado com as estatísticas de criminalidade e observador contumaz das falhas de segurança na maior metrópole do Brasil, é óbvio que em poucos meses ele saberá resolver o problema da segurança, não importa se nem a polícia federal nem a militar ou a civil estão sob sua alçada.

No mundo teleguiado, é natural que os tentáculos da mídia envolvam também a política institucional. "O espetáculo é o momento em que a mercadoria ocupou totalmente a vida social", afirmou Guy Debord no livro "A sociedade do espetáculo". Max Weber, em "A política como vocação", entende os jornalistas como aqueles que souberam traduzir o conceito de demagogia para os novos tempos, e por isso, a conjectura é minha, sabem expressar a vontade do povo e converter essa vontade em votos. "Desde que a democracia se estabeleceu, o demagogo tem sido o líder político típico no Ocidente", ele diz. "E o jornalista é hoje o representante mais importante da espécie demagógica".

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É verdade que o Brasil de Dilma, Moro e Eduardo Cunha não é a Alemanha de Weber nem a França de Debord. Não seria de todo honesto resumir a popularidade desses jornalistas indignados como resultado do espetáculo de Debord ou da demagogia de Weber. Não só. Sua emergência no cenário político se deve, sobretudo, à empatia do paulistano. Essa evidente guinada à direita no espectro eleitoral diz muito sobre o eleitor típico na maior metrópole do país.

Na segunda quinzena de agosto serão divulgados os resultados de uma importante pesquisa sobre conservadorismo em São Paulo, feita na Fundação Escola de Sociologia e Política sob coordenação do economista William Nozaki. Os dados ainda não foram sintetizados, mas já é possível obter alguns números.

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Dos 1.300 moradores de São Paulo que responderam às 60 perguntas do questionário aplicado na última semana de junho em 23 pontos de fluxo em todo o território paulistano, 62% se disseram a favor da redução da maioridade penal; 63% consideram Direitos Humanos coisa de bandido e cerca de 70% acham que o Bolsa Família estimula seus beneficiários a terem mais filhos, os afasta do trabalho e serve para comprar voto. A maioria é contra a política de cotas, sob o argumento de que elas ajudam a reproduzir preconceitos, e repudiam a prática dos sem teto de ocupar prédios vazios. Não bastasse, aproximadamente um terço dos entrevistados diz que, em certas circunstâncias, ditadura é melhor do que democracia. "O paulistano acaba sendo um pouco mais progressista apenas nos temas ligados a família, religião e sexualidade", afirmou Nozaki a esta coluna. "Cerca de 70% se diz a favor do casamento gay, por exemplo, e tende a ser tolerante com a religião do outro. Mas nos temas que contrapõem indivíduo e coletivo, aqueles relacionados a políticas públicas e papel do Estado, nesses o conservadorismo é evidente."

São esses paulistanos que vão escolher o próximo prefeito de São Paulo. Os candidatos já estão a postos. Com um olho no teleprompter e outro no Ibope.

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