O governo Dilma realmente quer dialogar?

A mídia precisa enfrentar esse diálogo e submeter-se à necessidade nacional de democratização dos meios de comunicação

A mídia precisa enfrentar esse diálogo e submeter-se à necessidade nacional de democratização dos meios de comunicação
A mídia precisa enfrentar esse diálogo e submeter-se à necessidade nacional de democratização dos meios de comunicação (Foto: Dom Orvandil)


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Sobe da alma brasileira um clamor gigantesco por diálogo.

Há duas possibilidades em face do diálogo: 1. Quando as pessoas participam e dele resultam compreensão minimamente clara da realidade, respostas honestas e justas aos problemas iluminados pelo debate os participantes se interessam e se empolgam em protagonizar mais e mais. 2. Contudo, se as pessoas são convocadas a participar e percebem serem usadas como massa de manobra e como pretexto para intenções não declaradas, quando não se constrói definições afirmativas e não se dá respostas a problemas reais, os participantes recuam e se fecham, murchando como jardim sem cuidado.

Quando soube do lançamento do projeto do governo federal denominado "Dialoga Brasil", sentei-me à frente da TV NBR para assistir tudo o que "rolou" na inauguração do programa em Brasília.

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A estrutura e disposição dos "atores" do diálogo pareceu-me muito sugestiva. Um salão com arquibancadas baixas, onde se sentaram lideranças de organizações nem sempre ativas no debate com o governo, inclusive integradas por mulheres nas suas lutas e demandas, por indígenas na expressão de seu grito por respeito e justiça, representantes da diversidade cultural – esse caldo material essencial de nosso País - representantes da negritude, cujos jovens são assassinados às pilhas graças ao racismo reinante, dos estudantes em suas lutas pela democratização e qualidade no ensino etc.

Embaixo, em nível inferior às arquibancadas, sentaram-se a Presidenta Dilma e alguns de seus ministros.
Falaram uma ministra e vários ministros. Finalmente a Presidenta Dilma, que encerrou com uma palavra forte de louvor ao diálogo acompanhado de crítica que, segundo ele, ajudam a perceber erros e possibilitam avanços, ressaltando o valor das informações corretas sobre as ações do governo, negadas e mentidas pela mídia dominante e tradicional.

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Eu dividiria minha modesta avaliação do lançamento do "dialoga Brasil" da seguinte maneira:

1. A estrutura em forma de teatro de arena me parece que não caiu do céu, mas emerge da história. Durante a ditadura esse modelo com os atores participando junto ao público, sem cortinas e sem palco elevado, abriu perspectivas de participação da plateia e de abertura democrática em um ambiente pestilento, doente e sufocante da democracia, envolvendo o auditório no debate puxado pelos atores. Tal experiência ajudou muito no crescimento político de setores estudantis e intelectuais nacionais na afirmação da cidadania.

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2. A forma como se deu a inauguração do projeto "dialoga Brasil" lembra os comícios promovidos pelo líder nacionalista e governador Leonel de Moura Brizola, no RS, antes do golpe militar. Esses atos de alto valor educacional político eram semanais, às sextas feiras à noite. Nos finais da semana a mídia se ocupava com elogios e com críticas ao governo, mantendo-o sempre presente no debate social. Antes de sua fala lideranças sindicais, comunitárias, agrícolas, parlamentares, prefeitos, secretários de Estado etc falavam para expor suas esperanças e críticas nas ações de governo. Finalmente discursava o governador, sempre respaldado por seu secretariado, buscando responder as demandas do povo e no governo mantinha canais abertos de constante diálogo com a sociedade, inclusive através da mídia. O ambiente em que se deu a inauguração pelo governo Dilma da interlocução com a sociedade me lembrou também, para minha alegria, do governo Hugo Chávez na Venezuela, que se mantinha em constante diálogo com todos os setores daquela sociedade, buscando entender e educar politicamente o povo. Todas essas experiências se iluminam na mesma prática com a qual contaram lideranças no passado, como Fidel Castro em Cuba e Lênin na União Soviética.

3. Tal prática só tem validade se se mover exatamente na direção da participação do povo no sentido de informar, papel prostituído pela mídia dominante; de receber críticas honestas; de educar o povo chamando-o para a arena política como sujeito indispensável do processo de construção da justiça social.

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4. Os ministros informaram sobre ações que realmente a sociedade não conhece porque os canais noticiosos não servem aos propósitos constitucionais e patrióticos de bem informar e educar a população.

Criticamente eu diria que vi ministros que inspiram pela seriedade de seus trabalhos. Esses foram os casos dos ministros da Educação, da Saúde e da Mulher. Realmente houve muitos avanços na área da saúde, notadamente com o programa "Mais Médicos". O ministro da área não nega que há muito por fazer. Pudera, a oposição irresponsável e antissocial derrubou a CPMF, que garantia quarenta bilhões de reais do orçamento nacional para a saúde. A situação piora com a política neoliberal equivocada do arrocho fiscal.

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O Ministro da Educação pareceu-me convincente pela competência e pelo sonho de um País enriquecido pelo conhecimento de seu povo. Porém, na sua fala, mencionou por várias vezes a falta de recursos para desenvolver as metas do Ministério da Educação. Ele pareceu indicar que o arrocho neoliberal encabeçado pelo Ministro da Fazenda causa profundos danos à educação.

Das arquibancadas se levantaram várias vozes com manifestações críticas aos ministros. A presidenta da histórica UNE foi contundente na forma como discursou criticando os entreguistas e vendilhões da Petrobras, como José Serra que arquiteta um projeto falido de doação do pré-sal para as multinacionais suas amigas, prejudicando extremamente os investimentos na educação.

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Na sua fala a Presidenta Dilma declarou acolher as questões e as críticas levantadas ali e pela mídia. Chamou-me a atenção a parte do seu discurso em que afirmou que muitos dos que se envolvem nos programas sociais quando criticam o governo é porque desejam mais em termos de qualidade de vida.

Esse ponto é importante porque realmente é preciso avançar muito mais, não só no diálogo, mas no que o diálogo propõe.

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É preciso dialogar com muitos outros setores da sociedade. A mídia precisa enfrentar esse diálogo e submeter-se à necessidade nacional de democratização dos meios de comunicação. Não é mais aceitável a tolerância larga dos presidentes Lula e Dilma que não têm coragem de mexer no vespeiro dos donos de jornais, revistas, TVs e rádios. O diálogo não deve ser restrito aos que avançam, tem que ser efetivo e consequente com os que emperram a democracia, como é o caso dos donos mediáticos e dos bancos, também.

O "dialoga Brasil" tem que abranger os campos e transformar-se em reforma agrária quando o governo ouvir os clamores dos indígenas, dos pequenos agricultores e dos mártires da terra e das matas.

Dialogar de modo inclusivo e consequente é contar com a mesma estrutura na participação do empresariado realmente nacional, gerador de riquezas, de renda e de empregos. Certamente os empresários têm muito a dizer.

Da mesma forma com a classe trabalhadora organizada, que no neoliberalismo é absolutamente marginalizada e rebaixada em seu protagonismo. Certamente os sindicatos têm muito a falar sobre o aviltamento dos direitos trabalhistas, sobre a humilhação salarial e o desemprego. Os trabalhadores são revolucionários por sua condição de classe dominada. O discurso reprimido tem que entrar no diálogo em rede nacional.

A sociedade grita por ser ouvida no "dialoga Brasil" diante da falta de segurança, até mesmo promovida por quem deveria dela cuidar como as várias polícias federal, civil e militar, todas carreadas para a proteção das injustiças e não dos que lutam pelos direitos sociais, da violência e da classe dominante em seus juízos seletivos e em seus "mandatos" contra os pobres, os negros e os trabalhadores. O Ministro da Justiça e os Secretários Estaduais de Segurança, incluindo os comandos das polícias, são absolutamente omissos à segurança e objetos de desconfiança de colaboração com o crime.

Nesta última sexta feira presenciei uma amostra de quanto a sociedade grita por diálogo. Pela manhã fui ao centro aqui em Goiânia e me deparei com um ato público promovido pelas centrais sindicais e pelos movimentos sociais contra a privatização da CELG – Companhia Energética de Goiás. É o povo através dos setores mais esclarecidos e conscientes a lutar contra os que nos gabinetes fechados decidem vender e distribuir os bens que são públicos. Ouvi vários discursos fortes de denúncia contra o governador Marconi Perillo, aqui tido como o mais corrupto aliado da direita, que assalta um bem do povo para vender como se fosse propriedade dele.

O povo que luta contra mais essa privatização exemplifica a necessidade de diálogo, negado e abafado pela mídia dominante. O governador daqui não o escuta nem o seu aliado governo federal dá ouvidos ao povo goiano organizado.

No "dialoga Brasil" precisa transparecer que o governo Lula foi infinitamente superior ao tucanato, que o governo Dilma é superior aos neoliberais que quebraram o Brasil por três vezes, mas é aquém do que Lula foi e é muito abaixo do que o Brasil e o nosso povo precisamos. Isso tem que se incluir no "dialoga Brasil" com a disposição de aprofundar a democracia e os avanços através das reformas com justiça social.

A agenda do diálogo visto a partir de nós brasileiros é urgente e intenso, exigindo pressa e que o governo precisa promovê-lo semanalmente. Do contrário não passará de intenção, de demagogia e de arrogância oportunista.

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