Lava Jato quebrou empreiteiras, que podem quebrar os bancos

O sujeito sai para a esbórnia. Bebe, cheira, fuma, pega um carro e decide ir ao litoral paulista; desce a Serra a 130 quilômetros por hora; na tomada da primeira curva fechada, percebe que vai perder a direção e cair no penhasco à frente e, nesse momento, percebe que foi longe demais e tenta desfazer as besteiras que fez. É exatamente isso o que está acontecendo com o governo Temer

O sujeito sai para a esbórnia. Bebe, cheira, fuma, pega um carro e decide ir ao litoral paulista; desce a Serra a 130 quilômetros por hora; na tomada da primeira curva fechada, percebe que vai perder a direção e cair no penhasco à frente e, nesse momento, percebe que foi longe demais e tenta desfazer as besteiras que fez. É exatamente isso o que está acontecendo com o governo Temer
O sujeito sai para a esbórnia. Bebe, cheira, fuma, pega um carro e decide ir ao litoral paulista; desce a Serra a 130 quilômetros por hora; na tomada da primeira curva fechada, percebe que vai perder a direção e cair no penhasco à frente e, nesse momento, percebe que foi longe demais e tenta desfazer as besteiras que fez. É exatamente isso o que está acontecendo com o governo Temer (Foto: Eduardo Guimarães)


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Uma imagem de retórica simboliza à perfeição o que está acontecendo com o país após ter sido alvo de sabotagem da economia nos últimos dois anos com vistas a destruir a popularidade do governo Dilma Rousseff e, assim, derrubá-la por qualquer motivo sem que a sociedade exigisse respeito ao voto popular.

O sujeito sai para a esbórnia. Bebe, cheira, fuma, pega um carro e decide ir ao litoral paulista; desce a Serra a 130 quilômetros por hora; na tomada da primeira curva fechada, percebe que vai perder a direção e cair no penhasco à frente e, nesse momento, percebe que foi longe demais e tenta desfazer as besteiras que fez.

É exatamente isso o que está acontecendo com Michel Temer e o PMDB, o PSDB, os partidos todos que derrubaram Dilma, a mídia antipetista e o empresariado, ou seja, o grupo político que bancou o golpe parlamentar.

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Para entender como o desastre que será descrito à frente começou, porém, há que rever como chegamos a esse ponto.

O nascimento do desastre

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Tudo começou com a queda de popularidade brusca do governo Dilma e de sua titular em junho de 2013. De mais de 60% de popularidade, em três semanas ela e seu governo perderam metade da aprovação.

Em 2014 não foi muito melhor. Apesar de alguma recuperação de popularidade, com os movimentos contra a Copa do Mundo dizendo que o evento estava roubando dinheiro da Saúde e da Educação, Dilma e o PT não voltaram mais ao apoio que vinham tendo desde 2003.

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O resultado foi a eleição de um Congresso ultraconservador naquele ano. Um Congresso que, ao assumir em 2015, elegeu um desafeto declarado do PT como presidente da Câmara dos Deputados.

A sabotagem parlamentar

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Eduardo Cunha usou a Presidência da Câmara para sabotar o governo. Aliou-se ao PSDB e formou um bloco sólido que, a partir do primeiro dia da atual Legislatura até o último dia em que Dilma governou, rejeitou praticamente tudo que ela requereu ao Legislativo.

Mas não foi só impedindo Dilma de governar que o Congresso sabotador prejudicou o país. PSDB, PMDB e os demais partidos de direita da ex-base de apoio ao governo inventaram as famigeradas “pautas-bomba”, ou seja, projetos de lei que criavam despesas para os cofres federais justamente em um momento em que o país precisava equilibrar o orçamento.

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Causa e efeito

Com a situação de desequilíbrio decorrente da crise política entre Executivo e Legislativo, o risco da economia disparou e perdemos as boas notas das agências de classificação de risco, o que acabou com o investimento no país, tendo o Brasil sido carimbado com o selo de “arriscado”.

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Sob esse estigma do país, investidores internos e externos interrompem projetos, cancelam planos; população adia compra de bens móveis ou imóveis, viagens, reformas, qualquer gasto não-essencial; empresários demitem “preventivamente”, aprofundando dramaticamente o desemprego que já crescia pela interrupção dos investimentos.

Golpe de misericórdia

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Ao mesmo tempo em que o país se torna ingovernável por falta da tão demonizada governabilidade, uma outra força de destruição da economia e dos sonhos dos brasileiros começa a agir com vistas a derrubar o quarto governo petista consecutivo.

Em 2015, pouco após o início do boicote parlamentar ao governo, a Operação Lava Jato começa a sabotar a economia de forma mais agressiva prendendo os donos das maiores empreiteiras do Brasil.

Segundo o Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada – Infraestrutura (Sinicon), que reúne empresas como Odebrechet, Camargo Correa, OAS etc., etc., etc., o faturamento do setor corresponde 3% do PIB. Esse percentual é o da recessão que se instalou no país com a paralisação desse setor da economia por conta de os donos dessas empresas terem sido presos e, consequentemente, os negócios com elas suspensos.

Efeito dominó

Como na metáfora lá no início do texto, o que ocorre é que os excessos causados pela embriaguez que a ânsia pelo poder gera fizeram os golpistas causarem dano tão grave à economia que, agora, já não conseguem revertê-lo e, em vez disso, o dano começa a aumentar de forma exponencial.

O que de pior poderia acontecer após as contas públicas terem sido dilaceradas pela sabotagem legislativa de Eduardo Cunha e pelo abraço de urso da Lava Jato no PIB? Você dirá que nada, que não haveria desastre maior do que o acima descrito.

Negativo. O que é ruim sempre pode ficar pior.

Armagedom

Pelo Brasil, os questionamentos, textos, discussões, ainda são sussurrados nos becos e nas bocas, mas a pergunta que não quer calar é: como está o sistema bancário brasileiro? Como está o sistema bancário privado brasileiro? Ou o sistema bancário público brasileiro?

Em junho de 2015, as prisões dos presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, acenderam a luz amarela entre banqueiros. O problema foi objeto de matéria do jornal Folha de São Paulo sob o sugestivo título “Dívidas das empreiteiras preocupam bancos”.

Atentos às dívidas bilionárias dessas empresas, os bancos podem ser impedidos de renovar empréstimos já contratados que vencem no curto prazo ou conceder novos financiamentos para essas empresas.

Muitos bancos têm regras internas que vetam negociações com companhias cujos donos ou a alta cúpula estão na cadeia ou diretamente envolvidos em casos de corrupção. A Odebrecht, por exemplo, possui uma dívida que chega a R$ 63,3 bilhões.

Sem poder alongar seu endividamento ou tomar novos créditos, surge o temor de paralisação das atividades ou até de uma renegociação de dívidas. Esse cenário, no entanto, não é tão agudo para essas gigantes como para OAS e Galvão Engenharia, que terminaram recorrendo à recuperação judicial.

Sob o impacto da prisão dos executivos, os títulos de dívida no exterior mais negociados da Andrade Gutierrez caíram 16% à época, indo para US$ 71,15. Já os papeis da Odebrecht, em meados do ano retrasado, quando da prisão de Marcelo Odebrecht, cederam 9,12% _ para US$ 80.

Quando os executivos da OAS foram presos na primeira fase da Operação Lava Jato, os bônus da companhia no exterior passaram a ser negociados como empresas à beira da falência.

Os braços de construção dos grupos Odebrecht e Andrade Gutierrez foram atingidos pela investigação da Polícia Federal em um momento delicado. Com o Tesouro segurando pagamentos por conta do ajuste fiscal, as empreiteiras começaram a enfrentar dificuldades para conseguir receber aditivos dos contratos de grandes obras de infraestrutura.

Seis meses antes de o desastre começar a se materializar, o Brasil se recuperava de uma dura campanha eleitoral na qual esquerda e direita chegaram ao final em pé-de-guerra irremediável, de forma como jamais ocorrera antes.

Naquele momento, ficava claro o que viria pela frente. Matéria da Folha de São Paulo mostrava o potencial da Lava Jato para destruir a economia brasileira. Em 14 de dezembro de 2014, o título da reportagem dizia tudo: “Dívida de empresas da Lava Jato com bancos passa de R$ 130 bi, mostra estudo do governo”.

A Petrobras e as empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato tinham uma dívida superior a R$ 130 bilhões com bancos privados e públicos no Brasil, de acordo com um levantamento que circulou naquele dezembro de 2014 no governo.

Pareceres oficiais aos quais o jornal tivera acesso indicavam o medo de que as instituições financeiras sofressem até uma crise sistêmica se sua carteira de recebíveis se tornasse podre graças a empresas levadas à falência pelo poder público.

Quase metade da dívida acumulada corresponde a obrigações da Petrobras, como indicava o último balanço publicado pela estatal, de junho de 2015. Se fossem considerados compromissos com bancos internacionais e fornecedores, a dívida total poderia superar R$ 500 bilhões, o equivalente a quase 10% do PIB (Produto Interno Bruto) do país.

Integrantes do governo se debruçaram sobre os números para tentar avaliar os riscos de contaminação da economia no caso de essas empresas perderem contratos e ficarem sem acesso a crédito. E estremeceram.

Lei de Murphy

Na última terça-feira (17), na chegada a Davos para participar do Fórum Econômico Mundial, que começa oficialmente nesta terça-feira (17), Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, anunciou que o banco projeta um crescimento de 2,3% do PIB (Produto Interno Bruto) em julho de 2018 em relação a julho deste ano.

Conversa fiada. Isso faz parte da estratégia dos banqueiros e da mídia de começarem a interromper o medo generalizado quanto à economia sobretudo nessa questão das dívidas que as empreiteiras alvos da Lava Jato têm com os bancos porque esse medo pode gerar um processo chamado “risco sistêmica”.

Em finanças, risco sistêmico refere-se ao risco de colapso de todo um sistema financeiro ou mercado, com forte impacto sobre as taxas de juros, câmbio e os preços dos ativos em geral, e afetando amplamente a economia – em contraste com o risco associado a uma entidade individual, um grupo ou componente de um sistema.

Assim, pode ser definido como uma instabilidade potencialmente catastrófica do sistema financeiro, causada ou exacerbada por eventos ou condições peculiares que afetem os intermediários financeiros.

Riscos sistêmicos são decorrentes das interligações e da interdependência entre os agentes de um sistema ou mercado, no qual a insolvência ou falência de uma única entidade ou grupo de entidades pode provocar falências em cadeia, o que poderia levar o sistema inteiro ou o mercado como um todo à bancarrota.

A Lei de Murphy é uma premissa filosófica de que tudo que possa acontecer fatalmente acontecerá, cedo ou tarde. Essa lei sugere que não se deve, portanto, brincar com o fogo.

Sabe como se faz para quebrar um banco? Você diz que ele vai quebrar e espalha sua previsão. As pessoas começam a avisar umas às outras deque o banco xis irá quebrar. Quem tiver dinheiro naquele banco, assustado, vai tratar de tirar para não correr riscos desnecessários.

Se muitos ficarem assustados, o banco quebra.

Resumo da ópera

Um amigo jornalista produziu um excelente resumo da situação em que nos encontramos.

Segundo ele, a receita conservadora está clara. Querem inabilitar o Lula para a eleição de 2018, prendendo-o ou tornando-o inelegível. O setor de centro esquerda ficaria sem canal institucional de atuação, quadro político parecido com o da Colômbia, onde a esquerda A acabou na clandestinidade.

A direita sabe que o passo seguinte da inabilitação do Lula seria os movimentos sociais e populares radicalizarem, de modo que a PM paulista já se reequipou – equipamentos usados em recente ação de reintegração de posse na zona Leste de São Paulo parecia os das tropas Israel na Faixa de Gaza.

A prisão do líder do MTST paulistano Guilherme Boulos mostrou que o caminho dos golpistas será prender lideranças de oposição para criar medo de divergir do regime – Boulos foi acusado de protestar anteriormente contra Michel Temer, como se fosse proibido protestar contra presidentes da República.

Mas o país vai explodir de qualquer jeito porque há outro fato grave, a economia. A crise das empreiteiras ja bateu nos bancos. Ninguém está pagando empréstimos. Vamos ver um quadro louco de banco pedindo para baixar juros porque a economia parou.

Segundo o amigo que produziu a análise, é como se o senhor de engenho dissesse ao capataz: “Não bate tanto nos escravos porque se não eles não aguentam colher a cana”.

Fora isso, há o cenário externo. Com protecionismo (Trump, Brexit etc.) não haverá como recorrer à poupança externa.

Quatro motores poderiam alavancar economia brasileira:

1 – Consumo das famílias, mas elas estão quebradas;

2 – Investimento externo, mas ele está parado; perspectiva de que o FED (Banco Central norte-americano) suba juros nos EUA vai manter capital especulativo por lá;

3 – O capital nacional, que poderia atuar para tirar a economia da depressão, está na cadeia;

4 – Sobra o investimento público, mas está estrangulado pela PEC 55, o famigerado teto de gastos públicos que fará o investimento público ser cada vez menor nos próximos 20 anos, levando o Brasil à estagnação.

Trabuco, do Bradesco, veio a público tentar injetar otimismo e afastar o risco sistêmico imanente, mas pode ser tarde demais. Os bancos estão preocupadíssimos com 2017. Não é com 2018, é com este ano mesmo (!).

Quadro é trágico: Estado policial impedindo o líder da oposição de disputar eleições, economia em frangalhos, caminho aberto para o fascismo, que está bem vivo. Recentemente, o diário inglês Financial Times associou o deputado de extrema-direita Jair Bolsonaro ao nazifascismo.

Eis no que deu o esforço desumano (literalmente) para tirar o PT do poder. Em benefício do preconceito, da ignorância, do autoritarismo, da ganância, os golpistas supracitados atiraram o país em um abismo do qual levará décadas para sair. Talvez nenhum de nós esteja mais vivo quando isso acontecer.

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