Perversidade contra blogueiro enojou o país que pensa

Não foi o cidadão, o homem, o pai, o esposo, o avô, o jornalista, o comerciante, o brasileiro Eduardo Guimarães que uniu até adversários políticos e entidades representativas tão diversas. O que uniu a todos foi o instinto de preservação

Não foi o cidadão, o homem, o pai, o esposo, o avô, o jornalista, o comerciante, o brasileiro Eduardo Guimarães que uniu até adversários políticos e entidades representativas tão diversas. O que uniu a todos foi o instinto de preservação
Não foi o cidadão, o homem, o pai, o esposo, o avô, o jornalista, o comerciante, o brasileiro Eduardo Guimarães que uniu até adversários políticos e entidades representativas tão diversas. O que uniu a todos foi o instinto de preservação (Foto: Eduardo Guimarães)


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Precisei tirar o fim de semana para me recuperar de uma violência tão colossal que jamais pensei que me atingiria. Todos podemos ser vítimas de todo tipo de violência – urbana, vingativa, criminosa –, mas o tipo que me atingiu parecia erradicado, retornou nos últimos anos, mas achei que jamais me atingiria: a violência policial…

Ou melhor, violência policialesca.

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É um tipo de violência que pode ser moral, mental e até física. Fui vítima das duas primeiras – moral e mental.

A perversidade do ato contra mim vem sendo empregada em larga escala, contra inocentes e culpados. Na verdade, trata-se de tortura.

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Não estão usando pau-de-arara, cadeira-do-dragão ou afogamentos, entre outras técnicas desumanas de quebrar espíritos de quem diverge ou de quem se recusa a revelar o que a meganhagem possa querer saber. Usam a tortura psicológica. Talvez o tipo mais eficiente  de sevícia.

Mas por que a devassa da minha vida, da minha mente o do meu espírito uniu aliados improváveis, à direita e à esquerda.

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Comecemos pelas entidades representativas do jornalismo.

No exterior, a entidade Repórteres Sem Fronteiras, vista como aliada dos grandes grupos de mídia mundiais, deu dimensão internacional à minha prisão ao criticá-la duramente. À Repórteres Sem Fronteiras uniu-se à Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a OEA.

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No Brasil, Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) criticaram minha prisão arbitrária.

Entre os profissionais da imprensa, pela direita Reinaldo Azevedo, Ricardo Noblat, Demétrio Magnoli e tantos outros colunistas insuspeitos de simpatia em relação a mim criticaram minha prisão ilegal.

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Claro que tiraram uma casquinha de nossas diferenças políticas e ideológicas, mas discordaram veementemente do que fizeram comigo.

Pela esquerda, só não houve unanimidade total porque o ódio de alguns é maior do que a razão – e o ódio, como se sabe, não tem ideologia.

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Não é preciso gostar de mim para ficar chocado com a perversidade que me atingiu. É uma perversidade tão visceral, tão desumana que não teve compaixão nem da dor da família de dona Marisa Letícia Lula da Silva, a quem foi negada a absolvição in totum simplesmente por estar morta. Perversidade que exigiu depoimento de seu esposo no dia de sua missa de sétimo dia.

À luz de perversidade tão completa, tão colossal, tão sobrenatural, o que fizeram comigo não foi nada.

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No jornalismo, apenas os descerebrados e medíocres tiraram uma casquinha do meu momento de fragilidade. Chacais e abutres não podem ver algum ser indefeso que atacam com sofreguidão.

Até o ex-ministro de FHC Nelson Jobim, insuspeito de “esquerdismo”, criticou o ato de  arbítrio que me vitimou.

Não foi o cidadão, o homem, o pai, o esposo, o avô, o jornalista, o comerciante, o brasileiro Eduardo Guimarães que uniu até adversários políticos e entidades representativas tão diversas. O que uniu a todos foi o instinto de preservação.

Para explicar o que uniu a tantos atores distintos, recorro ao surrado – porém extremamente verdadeiro – poema do pastor luterano alemão Martin Niemöller sobre o nazismo.

Quando os nazistas levaram os comunistas, calei-me porque, afinal, eu não era comunista.

Quando prenderam os sociais-democratas, calei-me porque, afinal, eu não era social-democrata.

Quando levaram os sindicalistas eu não protestei porque, afinal, eu não era sindicalista.

Quando levaram os judeus eu não protestei porque, afinal, eu não era judeu.

Quando me levaram, não havia mais quem protestasse

Você se regozijou com minha prisão arbitrária porque não gosta de mim ou porque de mim diverge? Você é um idiota. Não sabe que o arbítrio não se contenta. Não conhece a história da humanidade e nem a do Brasil.

Carlos Lacerda foi um dos mais ferrenhos inimigos do socialismo. Ajudou a implantar o golpe de 1964 e acabou preso pela ditadura. Porque ditaduras só são boas para os ditadores. E para mais ninguém. Você só desfruta de ditaduras enquanto não discordar. E, como todos sabem, é impossível concordar com tudo que qualquer regime faça.

 

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