O PT-baixo-clero-salva-Cunha que o PT não quer

Se o PT ainda sonha com alguma imagem de altivez, que se retire dessa desfaçatez, dessa patifaria partidária que é ensaiar, feito debutantes alegres de 15 anos, uma valsa mal tocada de defender Eduardo Cunha

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha fala sobre a pauta de votação da casa (Wilson Dias/Agência Brasil)
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha fala sobre a pauta de votação da casa (Wilson Dias/Agência Brasil) (Foto: Jean Menezes de Aguiar)


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Talvez a grande frustração que o Partido dos Trabalhadores tenha causado numa população não originariamente 'trabalhadora', partidariamente falando, tenha sido se envolver em corrupção. Ou pelo menos não ter conseguido resistir a ela.

A comparação entre o moralista e o malandro originário é que do malandro já se esperam certos comportamentos. Mas o moralista, quando escorrega, se torna algo infame, pelo menos para quem acreditava em moralistas. Afinal ele era um moralista. Por todos, o eterno Collor-não-sei-o-quê-marajá e sua degradação política revelada com o tempo, e agora repetida.

A sociedade que pouco observa, pouco estuda, pouco se interessa por política e cidadania fabrica seus heróis muito rapidamente. Esta sociedade também de modo muito fácil 'confia'. Até um deslize. Mas isto é um erro. Nem a 'fabricação' de um herói, um ídolo ou um modelo deveria ser embriagadamente rápida, se é que heróis há, nem a confiança deveria existir como tudo ou nada.

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Cunha, igualzinho a Collor, apareceu do nada e virou rapidamente herói. Para os seus. Esta é uma estrada de vida. A estrada de vida histórica do PT é bem diferente, ainda que não se devam comparar pessoas com instituições, mas são estradas diversas.

O PT não apareceu do nada, experimentou três consecutivas derrotas a eleições presidenciais e por muito tempo representou a pedra da oposição, em relação à vidraça dos governos. Se no início Lula tinha um grau de desconfiança imenso na sociedade pós-ditadurizada, com o tempo conseguiu ganhar a confiança de uma imensa parcela e quando chegou ao poder desfrutou de um período efetivamente espetacular.

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Mas o PT não conseguiu ser mais forte que o sistema. Não mesmo. Tudo bem que esse 'sistema' é um traço cultural da própria sociedade brasileira que está no poder desde sempre. Mas o PT que prometia uma isenção absoluta simplesmente perdeu para a força desse sistema. O sistema de corrupção oficial em comissões milionárias; empreguismo e nepotismo fácil dos 'nossos'; salários de príncipes na administração de todos os Poderes, inchados legalmente por 'benefícios' e arrombando a palhaçada do teto constitucional. O sistema jantou o PT. Ainda que não se imaginasse que um ou dois períodos de governo mudassem o histórico patrimonialismo devasso que sempre foi o Estado brasileiro.

Mas há mais. O cenário pós-Dilma pode ser o caos, ou outro caos. O Ministério Público e a polícia que investigaram livremente nos governos Lula e Dilma – coisa que FHC, Sarney, Itamar e Collor jamais permitiram- podem sofrer reveses severos nas mãos de presidentes conservadores, mesmo com a Constituição razoavelmente inflexível como é, o que é uma garantia.

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Mas todo este pano de fundo, até histórico, chega a um funil da atualidade dos mais interessantes: Eduardo Cunha. De inimigo público número um dos petistas, o malandro carioca terrorista partidário inventor da pauta-bomba portátil contra Dilma, Cunha-60-milhões-na Suíça se torna, quinze dias depois, protegido por um PT baixo clero. Alguém já grita: mas isso é 'política!'.

Triste política essa que esquece suas origens, suas causas, seus ideais e sua 'juventude ideológica'. Ou seja, o mínimo de seu purismo. Triste política essa que quando chega ao poder arromba as éticas, estupra as honestidades financeiras com o dinheiro público e vai para a cama de um motel de beira de estrada com o sistema.

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O PT defender Eduardo Cunha talvez seja a pior vergonha para o PT. E este fato a se manter entrará para a história. A própria Dilma Rousseff deveria implorar para que o PT não fizesse isso, mesmo que tivesse que pagar com um impeachment arranjado, viciado e vagabundo, que ninguém mais acredita.

Nem tudo é ou pode ser 'política', num Poder Legislativo que se 'imagine' (!) pifiamente honesto, perdoe-se a construção absurda, já que honestidade não se gradua. E perdoe-se o sonho de plantão, já que os Poderes brasileiros já mostraram, historicamente, a que vieram. O sonho já se apagou e o que não há aqui é qualquer escatologia interpretatória. Está tudo arrombado, tudo dominado e o sistema venceu.

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Cunha é mais um subproduto disso tudo, não passa disso, mesmo com seus sorridentes 60 milhões de reais na Suíça. Não se salva, e esse sistema brasileiro de assalto aos cofres públicos não se salva. Se o PT ainda sonha com alguma imagem de altivez, mesmo que só ideológica a agradar puristas ou sonhadores, nada mais que isso, que se retire dessa desfaçatez, dessa patifaria partidária que é ensaiar, feito debutantes alegres de 15 anos, uma valsa mal tocada de defender Eduardo Cunha.

Ou se mantenha nesse papelão. E perca a única força que ainda não perdeu. Uma militância que insiste em sonhar e que, no caso de um partido político, é o grande patrimônio.

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Do blog Observatório Geral

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