EUA, 2016: How I met Bernie Sanders

Se Obama foi uma espécie de Lula a embalar o renascimento do Sonho Americano em 2008, a ascensão de Sanders, em 2016, assemelha-se às expectativas com a presidenta Dilma em 2014, de mais mudanças e mais futuro

Se Obama foi uma espécie de Lula a embalar o renascimento do Sonho Americano em 2008, a ascensão de Sanders, em 2016, assemelha-se às expectativas com a presidenta Dilma em 2014, de mais mudanças e mais futuro
Se Obama foi uma espécie de Lula a embalar o renascimento do Sonho Americano em 2008, a ascensão de Sanders, em 2016, assemelha-se às expectativas com a presidenta Dilma em 2014, de mais mudanças e mais futuro (Foto: Leopoldo Vieira)


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"A cada vez [que a América passou por mudanças profundas no passado] houve aqueles que nos aconselharam a temer o futuro; que afirmaram que podíamos pisar nos freios das transformações, prometendo restaurar a glória passada, bastando para isso controlar algum grupo ou ideia que ameaçava a América. E, cada vez, superamos esses medos" (Barack Obama em seu último Discurso sobre o Estado da União)

As eleições presidenciais dos Estados Unidos começam a esquentar após as primárias de Iowa e New Hampshire, em que os senadores Bernie Sanders e Hillary Clinton consolidaram a polarização no Partido Democrata, acabando com o favoritismo da ex-primeira-dama.

Iowa, que registrou um empate, é considerado um marco da largada da disputa desde que, em 2008, o então desconhecido senador Barack Obama derrotou a esposa do ex-presidente Bill Clinton para ser o primeiro afroamericano comandante-em-chefe, após uma inédita participação militante e da juventude.

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Sanders virou uma sensação na esquerda brasileira, sobretudo por suas propostas sobre um sistema público universal de saúde e educação financiado pela regulação de Wall Street.

Seria o candidato dos autênticos progressistas americanos, do sindicalismo, da juventude - os Millennials (ou Geração Y) - para quem socialismo não é um bug mas valores relacionados ao bem-estar da humanidade e do planeta.

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Mas o que poucos sabem é que para ter sido o primeiro socialista declarado eleito senador em 2006, ele contou com o apoio de Barack Obama, o presidente que entrega o governo com os EUA a 0,4% do pleno emprego, gerou 14 milhões de postos de trabalho entre 2008 e 2015, registra o maior índice de empregabilidade desde os anos 90, a economia cresce a 2,5% e, recentemente, a cidadania americana passou a contar com o Obamacare e a população LGBT com direito ao casamento.

Logo, ao contrário do que muitos pensam, Sanders não cresce porque os EUA estão imersos numa crise econômica e política.

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Em seu último "Discurso sobre o Estado da União", Obama anunciou que "proteger nossos jovens contra a violência das armas de fogo. Salários iguais para trabalho igual, licenças pagas, a elevação do salário mínimo. Todas essas coisas ainda são importantes para as famílias trabalhadoras; ainda são a coisa certa a fazer". Defendeu que oportunidade real "requer que todo americano receba a educação e formação profissional de que precisa para obter um emprego que pague bem", propôs "levar esses avanços adiante, oferecendo pré-escola universal para crianças de até 5 anos", "tornar a universidade economicamente acessível a todos os americanos", e "benefícios e proteções que forneçam uma medida básica de segurança".

Obama defendeu uma reforma política, causa pela qual prometeu se engajar em seu último ano de governo: "Precisamos acabar com a prática de delimitar nossos distritos congressionais de modo que os políticos possam escolher seus eleitores, e não vice-versa. Precisamos reduzir a influência do dinheiro sobre a política, para que um punhado de famílias e interesses ocultos não possam financiar nossas eleições —e, se nossa abordagem atual ao financiamento de campanhas não for aprovado nos tribunais, precisamos colaborar para encontrar uma solução real. Precisamos facilitar o voto, não dificultá-lo, e modernizá-lo para adequá-lo ao modo como vivemos hoje. Ao longo deste ano, pretendo percorrer o país para fazer campanha por reformas nesse sentido".

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A crítica local especializada em política externa comemorou que Obama, ao contrário dos ex-presidentes, não lançou nenhuma doutrina, mas foi um erro de cobertura, pois o presidente lançou algo muito mais transcendente: um projeto político a ser levado a cabo pelas novas gerações.

Esta pelo menos foi a interpretação de Louis Elrod, presidente recém-eleito da Juventude do Partido Democrata, que não tomou posição nas primárias deste ano, mas é onde se organiza a base responsável pela vitória de Obama sobre Hillary em Iowa, em 2008, com 46% dos votos, e de Sanders sobre ela, no mesmo estado, em 2016, com 84%.

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Trata-se da disputa prolongada pela hegemonia de uma agenda progressista em torno de problemas reais dos EUA e do planeta, que diz muito à América Latina.

Foi por esta fenda que passou Bernie Sanders: a do projeto de Barack Obama e seu legado. Se Obama foi uma espécie de Lula a embalar o renascimento do Sonho Americano em 2008, a ascensão de Sanders, em 2016, assemelha-se às expectativas com a presidenta Dilma em 2014, de mais mudanças e mais futuro. Pelo menos (e até agora) nas fileiras do Partido Democrata.

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Referências

AXEROLD, David. Believer: My Forty Years in Politics. Penguin Press, 2015. 528 páginas.
 
HALPERIN, Mark / HEILEMANN, John. Virada no Jogo: Como Obama Chegou à Casa Branca. Intrínseca, 2012. 464 páginas.
 
KRUGMAN, Paul. Who hates Obamacare?. The New York Times, fev./2016. Disponível em http://mobile.nytimes.com/2016/02/05/opinion/who-hates-obamacare.html?smid=tw-share&_r=1&referer=https%3A%2F%2Ft.co%2F3DjAmsBqIb. Acesso em 05 fev. 2016. 
 
RAMPELL, Catherine. The sexist double standard behind why millennials love Bernie Sanders. The Washington Post, fev./2016. Disponível em 
 
KRUGMAN, Paul. Bernie, Hillary, Barack and change. The New York Times, jan./2016. Disponível em http://mobile.nytimes.com/blogs/krugman/2016/01/25/bernie-hillary-barack-and-change/?smid=tw-nytimeskrugman&smtyp=cur&_r=0&referer=https%3A%2F%2Ft.co%2FYXAmDAJIcw. Acesso em 25 jan.2016
 
Folha de São Paulo. Leia a íntegra do último Discurso do Estado da União de Obama, 13/01/2016. Disponível emhttp://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/01/1729011-leia-a-integra-do-ultimo-discurso-do-estado-da-uniao-de-obama.shtml. Acessado em 14 jan. 2016.
 
DANFORTH , Nick. Thank Goodness There’s No Obama Doctrine. Foreign Policy, jan./2016. Disponível em http://foreignpolicy.com/2016/01/12/thank-goodness-theres-no-obama-doctrine/. Acesso em 12 jan. 2016. 

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