A insustentável leveza do ser preconceituoso

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Após mais um domingo de caminhada a beira mar, a qual eles chamam de manifestação, alguns membros do high society nacional comprovam a tese cantada há anos por Elis Regina. Estão cada vez mais down. E nem adianta a gente ligar para um marciano se queixando da loucura que está rolando aqui na terra, porque eles não atendem mais as ligações dos terráqueos. Ainda mais se for do Brasil. Segundo nosso enviado especial em Marte, os Marcianos ficaram tão chocados ao saberem que o ator Alexandre Frota sobe no palanque da oposição, como o paladino da moral, da ética e dos bons costumes, que mudaram de cor. De verde ficaram roxos de tão confusos. Pobres Marcianos!

Mas como sempre ocorre nessas novas modalidades de manifestações, algum fato acaba se destacando mais do que os tantos outros, quase todos sem noção, e nos convida a uma reflexão. Domingo, 13 de dezembro de 2015. Pela orla de Copacabana, no Rio de janeiro, desfila um grupo de Brasileiros indignados com o governo atual. Com a licença poética que o mestre Lulu Santos me permite, posso até dizer que só tinha gente fina, elegante, sincera e com habilidade pra dizer mais “Não” do que “Sim”. Até porque, segundo dizem, saber dizer não aumenta a autoestima. E se tem uma coisa que alguns da elite possuem em alto grau, é estima a si próprio.  Ainda que o caráter não valha um real. E os outros que não pertencem à mesma “casta” que sofram as consequências.

Um grupo de adolescentes e jovens skatistas, em sua grande maioria composto por negros, resolveu dar um rolé bem no meio da confraternização “coxinha” e como já se podia esperar, a massa desandou. A turminha do skate foi acusada de ser uma tropa de choque petista, designada para atrapalhar os protestos dos reacionários. A Polícia militar foi acionada e teve início um pequeno confronto. Aliás, não houve confronto porque os jovens não estavam ali para isso. Houve, sim, uma quase agressão aos rapazes, por parte dos Policiais. Alguns jovens disseram que foram alvejados com balas de borracha e intimidados para que se retirassem do local. Muitos exibindo um semblante assustado relatavam que não sabiam até mesmo se estava havendo uma manifestação política por ali.

As opiniões se dividiam entre os próprios manifestantes. Alguns acusavam os rapazes de pertencerem a uma suposta juventude comunista e de terem recebido um sanduiche e um copo de suco para estarem ali poluindo o visual “clean” da manifestação. Outros manifestantes defendiam os jovens, dizendo que o espaço é público e eles não estavam ali para atrapalhar. Mas alguns depoimentos registrados nesse vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=zvQuzgO1m6Q) me chamaram a atenção. Ou melhor, me fizeram embrulhar o estômago. Sério mesmo! Sem piada! Logo no início do vídeo, um cidadão tenta explicar a repórter o que havia acontecido e solta a seguinte pérola: ”Olha! Veio uma galera com skate....muita gente vindo de skate. A polícia se assustou porque eles eram de cor.... e realmente assusta a imagem”. Essa frase estúpida, infeliz e racista me inspirou o título do artigo.

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