Pobre Marcão! Pobres racistas!

A nossa sociedade ainda não assimila com naturalidade o preto bem sucedido. É quase uma ofensa pessoal. Os racistas piram. Sempre haverá um, entretanto, um senão, um todavia, um porém. O apresentador Marcão deixou isso bem claro em sua infeliz colocação

A nossa sociedade ainda não assimila com naturalidade o preto bem sucedido. É quase uma ofensa pessoal. Os racistas piram. Sempre haverá um, entretanto, um senão, um todavia, um porém. O apresentador Marcão deixou isso bem claro em sua infeliz colocação
A nossa sociedade ainda não assimila com naturalidade o preto bem sucedido. É quase uma ofensa pessoal. Os racistas piram. Sempre haverá um, entretanto, um senão, um todavia, um porém. O apresentador Marcão deixou isso bem claro em sua infeliz colocação (Foto: Nêggo Tom)


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O debate sobre racismo ainda carece de mais aprofundamento, assim como o ser humano necessita de uma análise mais detalhada. Que o racismo em nossa sociedade é institucionalizado, nós já sabemos. Que a nossa herança cultural é uma fábrica de sentimentos preconceituosos, idem. Também reconhecemos que o racismo é uma patologia hereditária, transmitida de geração em geração, para que se perpetue o estigma da raça inferior. Muitas expressões de cunho pejorativo e degradante eram quase uma condição sine qua non para se referir aos negros e colocá-los no lugar que os senhores de engenho entendia que lhes era o devido. Isso mudou?

Estarrecido, assisto ao vídeo no qual um apresentador da rede Record Brasília, conhecido como Marcão do povo, chama a cantora Ludmilla de "Pobre macaca", tudo isso ao vivo, a cores, sem cortes, sem o menor constrangimento e sem o mínimo de vergonha na cara. O ato falho do apresentador permitiu escapar o seu racismo internalizado e isso não é um privilégio apenas seu. Geralmente o preconceito enrustido se manifesta em momentos de contrariedade, numa discussão, por exemplo, o que pode admitir uma leitura diferente da situação.

 

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O apresentador já emitiu uma nota dizendo que foi mal interpretado, que não teve a intenção de ser racista e que o "pobre macaca" trata-se apenas de uma expressão regional. O problema é que não é possível contrariar a semântica, ainda que os argumentos da hermenêutica pareçam críveis. Se eu chamo alguém de macaca, é claro que não tenho a intenção de fazer uma referência honrosa a pessoa e expressões regionais também podem ter cunho racista e preconceituoso. É a nossa herança cultural enraizada no DNA dos descendentes dos colonizadores.

Há quem sinta saudade do tempo em que se podia chamar um preto de macaco e tudo era levado na brincadeira. Até o humorista Renato Aragão, o eterno Didi mocó, já expressou a sua insatisfação com o politicamente correto. Segundo ele, os pretos levavam as piadas e os apelidos numa boa. O companheiro Mussum era o seu alvo preferido e de quebra todos os pretos do Brasil eram vistos como "Mussunsis". Caricatos, pouco inteligentes, beberrões e objetos de escárnio da elite branca. A estupidez e a falta de empatia com a identidade do outro, não permite enxergar ofensa onda há ofensa, desrespeito onde há desrespeito e racismo onde há racismo.

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Alguns segmentos da mídia se encarregam de perpetuar o racismo e o preconceito social em nossa sociedade. É uma questão de sobrevivência da espécie racista. O criminoso branco, oriundo da classe média ou da elite, é tratado como jovem morador do bairro x. Já o criminoso preto, oriundo da favela, é tratado como manda o tratado de diferenciação das raças. Ninguém sente o desejo de amarrar um bandido branco e rico ao poste e postar nas redes sociais um vídeo exibindo o castigo aplicado a ele. Mas se o bandido for preto, executa-se sem a menor piedade. Da mesma forma as críticas e as ofensas dirigidas a Ludmilla, se potencializam pelo fato dela ser preta e de origem pobre. A tolerância é menor, a agressividade é maior e isso é fato.

A nossa sociedade ainda não assimila com naturalidade o preto bem sucedido. É quase uma ofensa pessoal. Os racistas piram. Sempre haverá um, entretanto, um senão, um todavia, um porém. O apresentador Marcão deixou isso bem claro em sua infeliz colocação. Quando ele enfatiza a antiga condição social de Ludmilla (pobre) e acrescenta o termo macaca para ilustrar o seu ponto de vista, ele reverbera o que boa parte da sociedade pensa, mas não fala. Só faltou dizer que ela saiu da senzala para o sucesso. Se injúria racial não fosse crime, teríamos inúmeros casos por segundo. Quantas vezes você que é preto, já percebeu que o seu chefe, o seu professor ou o atendente da loja, lhe dispensaram um tratamento diferente, diante de uma mesma situação, em comparação com um branco? Não! Não é coisa da sua cabeça. É coisa da cabeça de racista.

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É preciso mudar o tom do mi mi mi, e eu até gosto da postura da Ludmilla nesses casos. Não a vejo chorando pitangas nas redes, nem citando Luther King, nem tentando conquistar o apoio dos neo abolicionistas. A luta é apenas nossa! Os pretos. É legal que brancos se engajem na causa, não por pena, mas por consciência. O certo é que ela e qualquer um que seja vítima de racismo ou outro tipo de preconceito tomem as providências legais. Não pode deixar passar em branco. A nossa dignidade é cara e quem submetê-la ao escracho deve pagar por isso. Reaja da forma que você entende que está defendendo a sua honra. Isso não é uma incitação a violência como resposta ao racismo. É uma recomendação.

O legado da escravidão nos deixou um presente de luta contra o preconceito, e essa luta de hoje moldará o futuro dos pretos em nossa sociedade. Mais do que resistir é preciso agir, se impor, exigir respeito, não aceitar com normalidade as ofensas sofridas. O crime de racismo atenta diretamente contra a honra, a moral e a existência do indivíduo. É um tiro na auto-estima. É uma facada na essência. É inferiorizar o outro baseado em conceitos equivocados e fascistas. É preciso combater de forma certeira esse chauvinismo racial. O apresentador Marcão ainda tentou limpar a caca que fez no tapete da sala da casa grande, se dizendo também um pobre macaco. Com isso, apenas empurrou a titica pra debaixo do tapete. Na verdade, ele e todos os racistas são apenas pobres de espírito. Não passarão!

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