Os vendilhões da Pátria

Ninguém mais tem dúvidas de que a privatização da Petrobrás, um dos maiores símbolos da soberania nacional, é o objetivo oculto da Operação Lava Jato

Operário checa amostra de óleo na plataforma de petróleo Cidade Angra dos Reis, no campo de Lula, Rio de Janeiro. A produção da Petrobras no Brasil e exterior somou 2,55 milhões de barris/dia de óleo equivalente em março, alta de 0,63 por cento ante o mês
Operário checa amostra de óleo na plataforma de petróleo Cidade Angra dos Reis, no campo de Lula, Rio de Janeiro. A produção da Petrobras no Brasil e exterior somou 2,55 milhões de barris/dia de óleo equivalente em março, alta de 0,63 por cento ante o mês (Foto: Ribamar Fonseca)


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Ninguém mais tem dúvidas de que a privatização da Petrobrás, um dos maiores símbolos da soberania nacional, é o objetivo oculto da Operação Lava-Jato, o que faz do juiz Sergio Moro, atualmente, uma das mais importantes peças da engrenagem da máquina montada há tempos para entregar nosso petróleo ao capital estrangeiro. As outras peças dessa engrenagem são as organizações Globo; os tucanos, em especial o ex-presidente FHC e os senadores Aécio Neves, José Serra e Tasso Jereissati; e integrantes do Poder Judiciário e do Ministério Público. Em editorial no último domingo o jornal "O Globo" escancarou de vez a sua posição favorável à entrega da nossa estatal petrolífera aos poderosos grupos econômicos internacionais do petróleo.

As Organizações Globo, na verdade, dona da quarta maior rede de televisão do mundo e que emprega 12 mil funcionários, tem um histórico intrinsecamente ligado ao capital estrangeiro, inclusive à Standard Oil, e ao petróleo. Para montar a TV Globo, que começou a funcionar um ano após o golpe militar de março de 1964, o seu proprietário, Roberto Marinho, associou-se ao grupo de comunicação norte-americano Time-Life, que injetou na empresa, em quatro anos, recursos da ordem de 6 milhões de dólares, o equivalente, de acordo com o câmbio da época, a 10 bilhões de cruzeiros. Com isso ele infringiu dispositivo constitucional que proíbe a participação de capital estrangeiro no setor de comunicação e provocou a ira, entre outros empresários do ramo, dos deputados Carlos Lacerda e João Calmon.

Marinho negou a interferência do grupo americano nas decisões da Globo e no conteúdo do seu noticiário, alegando que o seu contrato com o Time-Life era de assistência técnica, mas havia um poderoso chefão do grupo dando ordens dentro da empresa. E a Wordmark Encycloof The Nations classificou a Globo como "um órgão conservador subsidiado pelos Estados Unidos". Diante da ação de Lacerda e Calmon em defesa dos veículos nacionais e, inclusive, pela sua participação na CPI criada no Congresso para investigar a sociedade, o general Peri Bevilácqua, então ministro do Superior Tribunal Militar, declarou: "É fora de dúvida que essa intromissão e consequente influência alienígena sobre a opinião pública brasileira compromete a segurança nacional". Essas informações constam do livro "A História Secreta da TV Globo", tese de mestrado de Daniel Heiz, em 1983, na Universidade de Brasília.

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A sociedade entre a Globo e o Time-Life também foi alvo de um manifesto dos proprietários de 13 jornais e do presidente da Abert (Associação Brasileira de Radio e Televisão) e de uma denúncia ao então presidente Castelo Branco, mas todas as tentativas para impedir a presença americana nas comunicações brasileiras resultaram em nada. E até hoje continua obscuro o processo pelo qual Marinho assumiu o controle integral da empresa, ressarcindo o grupo de comunicação norte-americano. Oficialmente ele pagou o Time-Life com empréstimos conseguidos junto a bancos nacionais, mas extra-oficialmente circula a história de que ele teria ressarcido os americanos mediante um artifício: teria publicado a falsa notícia de que a Petrobrás descobrira petróleo na Amazônia, as ações da estatal subiram de forma extraordinária e, então, ele teria pago o grupo com suas ações, através da Roma, sua empresa de títulos e valores. Se essa história é verdadeira ou não só Deus e os Marinho sabem.

O fato é que depois disso tudo Roberto Marinho se tornou o homem mais poderoso do país, a quem os governos submetiam nomes para compor ministérios. Tancredo Neves comemorou a sua eleição, pelo colégio eleitoral, num almoço íntimo, no mesmo dia, com o dono da Globo, a quem prometeu nomear Antonio Carlos Magalhães ministro das Comunicações, promessa cumprida pelo presidente José Sarney, que o substituiu. O economista Mailson da Nóbrega só foi nomeado ministro da Fazenda do governo Sarney depois de aprovado por Roberto Marinho. E Fernando Henrique Cardoso não tomava nenhuma medida sem antes consultá-lo. O metalúrgico Lula interrompeu esse processo de beija-mão e hoje paga um preço muito alto pela ousadia de eleger-se Presidente da República e de ignorá-lo. A caçada a ele, através dos mastins da Lava-Jato, já atinge as raias do absurdo.

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Ninguém sabe que tipo de ligação os Marinho ainda mantém com grupos econômicos norte-americanos, mas a verdade é que a sua posição favorável à entrega das nossas riquezas naturais, em especial o petróleo, ao capital estrangeiro é antiga. Daí, provavelmente, a sua afinidade com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, apesar do esforço, só não conseguiu privatizar a Petrobrás porque não houve tempo: seu segundo mandato expirou e ele foi substituído por Lula, que interrompeu todos os processos de privatização. Ainda assim conseguiu quebrar o monopólio do petróleo, conquista do povo brasileiro no governo Vargas, e dividir a empresa em 40 subsidiárias para privatizá-la por partes, estratégia destinada a driblar a reação popular no caso de vendê-la por inteiro. Além disso, tentou mudar o nome da estatal para Petrobrax, de modo a torná-la mais palatável internacionalmente.

O mais grave, porém, foram as manobras para enfraquecê-la, inclusive com suspeitas de sabotagem, para justificar a privatização. Em apenas dois anos, durante o governo FHC, houve 62 acidentes, inclusive o naufrágio da plataforma P-36. O presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet) à época, Fernando Leite, Siqueira, disse em entrevista ao jornalista Palmério Dória, autor do livro "O Príncipe da Privataria", que suspeitava de sabotagem. Hoje o pretexto para privatizar a estatal é a corrupção, como se a empresa tivesse alguma culpa da ação criminosa de alguns dos seus diretores. O "Globo", em seu editorial no qual escancara todo o seu entreguismo, diz a certa altura que "sanear a Petrobras e desobrigá-la de estar à frente da exploração do pré-sal são movimentos evidentes para fazer a estatal sair da catalepsia empresarial". Catalepsia? Que catalepsia? A Petrobrás acaba de bater todos os seus recordes na produção de petróleo.

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Os Marinho, na verdade, não conseguem mais enganar ninguém sobre as suas "boas intenções" ao defender a entrega do nosso petróleo ao capital estrangeiro, em apoio ao projeto de outro entreguista, o senador tucano José Serra. Em carta aberta aos donos da Globo, a petroleira Michelle Daher Vieira, que teve sua foto usada numa reportagem danosa à estatal, disse que "a Petrobras é um patrimônio brasileiro, maior que tudo isto que está acontecendo, que não pode ser destruída por bandidos confessos que posam neste jornal como heróis, por juízes que agem por vaidade e estrelismos apoiados pelo estardalhaço e holofotes que vocês dão a eles, pelo mercado que só quer lucrar com especulação e nunca constrói nada de concreto e por um jornal repulsivo como O Globo que não tem compromisso com a verdade nem com o Brasil". Ela não falou em nome dos petroleiros, mas com certeza manifestou o pensamento da grande maioria do povo brasileiro.

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