Psicologia médica. Doutores: o conhecimento apenas técnico não é suficiente

Saber ouvir o sofrimento, dizer às vezes o pior sem ferir, estes são os desafios para os quais os médicos estão muitas vezes despreparados. Muitos estudantes simplesmente desprezam as lições de psicologia médica.

Psicologia médica. Doutores: o conhecimento apenas técnico não é suficiente
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Fonte: Le Figaro Santé

 

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«Obrigado, o senhor me fez sentir bem, doutor.» Eis uma frase que Dominique Delfieu, médico de bairro em Montmartre, ouve várias vezes por semana e que, no entanto, não deixa de surpreendê-lo. «Mais e mais pessoas, especialmente idosas, marcam uma consulta apenas para falar, desabafar e contar sua vida, ele observa. Estas “consultas sem assunto” estão se tornando cada vez mais frequentes. Elas me deixam desconcertado: nós que supostamente devemos prescrever, agir, eis que estamos sendo usados como psicólogos, para ouvir!»

Seu espanto, revestido de solidão e desamparo, ele relata em suas “Chroniques d'un médecin généraliste” (Editora Lavoisier), testemunho delicioso sobre a realidade do seu ofício cada vez mais «carregado», entre dores de cabeça administrativas (13 quilos de cartas por mês!) e o confronto com o sofrimento mental.

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Tudo é relatado, do viciado fanfarrão ao paciente que ele visita pouco antes de seu último suspiro, do executivo que esconde uma neurose com suas dores nas costas ao casal que se mata. Um mergulho no desconforto que leva o médico ao seu limite. «Devemos fornecer um discurso científico específico e ao mesmo tempo devo ser enfático. Nosso ofício é muito parecido ao de um equilibrista!» E quando Dominique Delfieu não «entende realmente o que um paciente conta », ele o direciona para um colega «psicólogo».

A formação médica peca muito em matéria de psicologia: apenas algumas horas disseminadas durante anos de estudos dominados pela biologia, a anatomia, as estatísticas, os QME… Por muito tempo, isso foi conveniente para os futuros médicos. Um filme de 1996 apresentado aos estudantes do segundo ano de medicina na Universidade Jules-Verne, da Picardia, mostrou a que ponto eles perdiam o interesse ou rejeitavam qualquer ensinamento em «psicologia médica» destinado a ajudá-los a pensar sobre sua relação com o paciente e o impacto desse atendimento diário sobre sua própria psique.

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As dúvidas sob o jaleco

Hoje em dia, a profissão se tornou muito técnica e muitos reivindicam a dimensão mais humana de sua prática. Isso se parece muito com uma epidemia: do oncologista do interior testado por diagnósticos difíceis de serem anunciados (ler: “Cancer du sein. Un médecin à l'épreuve de l'annonce, de Laurent Puyuelo, Editora Érès) ao chefe mandarim de um excelente serviço parisiense, eles são cada vez mais numerosos em sentir a necessidade de contar sua vida emocional, suas dúvidas, como se o jaleco branco não fosse suficiente para selar os males da alma que eles suportam. Não só os males de seus pacientes, mas também os seus próprios males.

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De fato, a partir de 1945, um médico psiquiatra e psicanalista inglês, Michael Balint, ao observar a solidão que seus colegas podiam suportar, teve a ideia de oferecer um treinamento nesse sentido. Qualquer médico que queira melhorar a qualidade de seu relacionamento com seus pacientes e que é confrontado com a insatisfação de uma medicina técnica, ainda hoje pode aderir a ele.

No formato de grupos de discussão (não psicoterapêuticos, embora animados por dois psicanalistas), oito a doze praticantes podem se reunir regularmente para pensar sobre a apresentação de um caso clínico no qual o relacionamento médico-paciente é questionado.

Falar para ficar mais leve

«Geralmente, o colega diz “Vou falar 2 minutos sobre um caso ”, e isso dura uma hora », observa, descontraído, o Dr. Jean Maclouf, médico clínico geral, em Limoges e presidente da sociedade médica Balint. Ele fica surpreso pela falta do aumento das matrículas. «Um dos paradoxos é que os médicos na beira do burn-out (lembre-se que a taxa de suicídio dos médicos é o dobro do que a da população em geral) têm dificuldades em cuidar de si próprios e, portanto, em separar algumas horas para se aliviarem do peso afetivo da relação médico-paciente.»

Muitos não se deixam enganar. «O que entra em jogo quando eu recebo esse paciente? Em que os momentos de luto pelos quais ele está passando se referem aos momentos de luto que experimentei? O que faz ressoar em mim o seu sofrimento, seu sentimento de impotência?» são perguntas que alguns médicos levam para o seu grupo no Balint. «Expressar todas essas emoções em um grupo no qual, finalmente, não somos julgados, nos permite se proteger sem ter que nos fechar », testemunha Jean Maclouf.

Um verdadeiro recurso para se tornar um auto observador, em uma profissão que pode resultar em uma vertente profissional apontado pelo médico: «Apenas a aplicação técnica de conhecimentos, sem deixar de aflorar  a parte de humanismo que deveria, no entanto, permanecer sempre como a base de nosso exercício.»

 

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