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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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É a política, estúpidos!

'O quadro nos aponta para uma dura realidade: a mídia tradicional aposta em Bolsonaro e, enquanto isso, a direita cresce', analisa a colunista Denise Assis

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Três páginas em horário nobre, do seu governador preferido (ainda é, mesmo se aproximando de Alexandre de Moraes?), tratamento naturalizado na principal coluna da casa e comparações com Lula, como se fossem equivalentes, como se nada houvesse contra a pessoa, nas referências políticas feitas a ele. Sem contar menções aos seus planos quanto às perspectivas para as eleições municipais, espécie de treino para 2026.

O quadro nos aponta para uma dura realidade: a mídia aposta em Bolsonaro como cabo eleitoral para fazer frente a Lula e seus escolhidos, nas eleições vindouras, tal como fizeram com o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, poupado até viabilizar o impeachment de Dilma Rousseff. Logo após ter viabilizado a queda da presidente, foi descartado e preso. Agora, também as andanças do inelegível ganham incentivos. A ideia parece ser deixá-lo montar chapas e apadrinhar candidatos Brasil afora, até o último minuto do segundo tempo. Nada de prisão antes de usar a sua influência no pleito.

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Enquanto isso, a direita cresce – mero sentimento, embora pesquisas apontem que nada muda no reduto dos bolsominions -, e a esquerda arrefece, sem conseguir mobilizar a militância ou ter uma palavra de ordem para puxar o cordão.

Não é de se estranhar. O pouco apetite para a mobilização pode-se atribuir a muitos fatores, inclusive internacionais, como vêm nos apontando cientistas políticos e analistas. Porém, no que diz respeito àquela turma sempre aguerrida, chegada a uma manifestação, bateu fundo o desacelerar – em nome do devido processo legal -, das investigações que apontam Bolsonaro como o mentor das sucessivas tentativas de golpes ao longo do seu governo.

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O arrastar de “reunião de provas” flagrantes, diga-se de passagem, joga água na fervura. E, a julgar pelo tom natural - como se parte do jogo político fizesse -, com que o colunista do jornalão fala das suas manobras para promover o candidato A ao candidato B, o que se depreende é que há mesmo a intenção de deixar que ele monte as peças do tabuleiro eleitoral, antes de ser retirado de cena.

Acontece que sua presença circulando daqui para ali, juntamente com a análise feita de forma que beira o desrespeito, quando o equipara a Lula, tenciona o ambiente político e leva desânimo aos que não querem nem ouvir falar de anistia. Enquanto isso, Bolsonaro que, sabemos, não perdeu os direitos políticos, vai sendo digerido, como dito antes, “naturalizado”, como alguém que ainda conta. E não deveria contar. Não porque não tenha força, mas porque é peça imprestável para a política. Não sabe brincar, a não ser de ditador. Não deveria estar no playground.

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Sobre os que o cercaram para tramar a sucessão de atentados e golpes, nem se ouve mais falar. Alguém sabe por onde andam os generais: Augusto Heleno, Paulo Sérgio, Marcos Freire Gomes, Henrique Dutra e Walter Braga Netto? Sabem a quantas andam as investigações sobre a participação nos eventos que visavam manter o inelegível no poder? Sabem da vida do brigadeiro Carlos Baptista Júnior, ou do almirante Garnier?

A notícia que se tem é que o tenente-coronel Mauro Cid está preso, prestando sucessivos depoimentos sobre os quais ninguém sabe lhufas, a não ser o que já vazou. Anderson Torres? O guardião da “minuta”? Cumpre domiciliar, com tornozeleira. O coronel Lawand, que trocava incendiários zaps com Mauro Cid, implorando pelo golpe, sumiu do noticiário, como num passe de mágica. Está no exterior, cumprindo missão militar. Daqui a pouco estaremos nos perguntando: golpe? Que golpe?

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O que costuma mover a população rumo às ruas é o sentimento de indignação, a revolta por se sentir ultrajado em seu voto, em sua vontade. O noticiário esfregando na cara de todos, imagens de um mesão onde senhores poderosos emitem opiniões do tipo: “se tivermos que virar a mesa, temos de fazer isso antes, porque depois não adianta”. Do lado de cá, trêmulo de horror, surpresa e perplexidade o povo exclama: “não pode ficar assim!”. Pode, sim. De acordo em acordo, de perdão em perdão, de passapanismo em passapanismo, vamos empurrando com a barriga as crises, os crimes e adquirindo uma espécie de anemia, desânimo, sonolência. Vamos virando um bando de cornos mansos. É a política, estúpidos.

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