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Petro propõe ao papa Francisco uma rodada de negociações com a guerrilha ELN no Vaticano

Segundo o presidente colombiano, o Estado do Vaticano "pode ser o cenário de uma rodada de negociações"

Gustavo Petro no Vaticano (Foto: Reprodução/Télam/Vídeo)

Télam - O presidente colombiano, Gustavo Petro, propôs nesta sexta-feira (19) ao papa Francisco realizar "uma rodada" de negociações com a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) no Vaticano, durante uma audiência de mais de meia hora que tiveram no Palácio Apostólico do Vaticano, tendo a paz como um dos temas da agenda.

"Falamos sobre a paz na Colômbia buscando ainda uma posição muito mais ativa, tanto do Estado do Vaticano quanto da Igreja Católica no processo", afirmou o mandatário em um diálogo com meios de comunicação, incluindo a Télam, ao sair da reunião com o pontífice.

"É possível que façamos uma rodada aqui, já se falará com o ELN, e que possamos construir um passo mais profundo em deixar a violência…, seria algo muito sugestivo para toda a sociedade colombiana", disse Petro.

Em dezembro, como parte dos diálogos de paz existentes, o ELN concordou com o governo em suspender os sequestros extorsivos, ao término da quinta rodada de negociações de paz na Cidade do México, em um processo que iniciou em 2022.

"O papa concorda que demos passos mais profundos para os acordos de paz na Colômbia", acrescentou Petro sobre o eventual apoio do pontífice à proposta.

O pontífice e Petro se reuniram durante 35 minutos na Biblioteca Privada do segundo andar do Palácio Apostólico, no segundo encontro entre ambos, o primeiro desde que o mandatário assumiu o cargo em agosto de 2022. Em fevereiro daquele ano, Petro havia visitado Jorge Bergoglio como candidato à presidência.

Sobre a possível incorporação da Santa Sé no diálogo com o ELN, Petro afirmou que, embora a Igreja Católica "já esteja participando do processo de paz", o Estado do Vaticano "pode ser o cenário de uma rodada de negociações".

"Me interessaria muito que a próxima rodada que se possa fazer com o ELN seja feita aqui", desejou.

"Falamos sobre a situação nicaraguense, na qual a Colômbia pode oferecer seus bons ofícios", detalhou depois o mandatário sobre outro dos temas do encontro, após a libertação pelo governo de Daniel Ortega de 19 religiosos no fim de semana passado.

Petro assegurou que se falou "também da crise climática e uma proposta concreta, após a adesão da Colômbia ao tratado de não proliferação de combustíveis fósseis junto às ilhas-nação do Pacífico que estão afundando e devem evacuar sua população, para estabelecer uma aliança com o Estado do Vaticano com o objetivo de conseguir mais apoios para que esse tratado se torne uma realidade".

Após o encontro, Francisco presenteou Petro com uma escultura sobre a imigração e os textos que escreveu durante seu papado, enquanto o mandatário lhe deu um poncho artesanal e café produzido em seu país.

Segundo Petro, o eixo central de sua visita à Santa Sé é "a paz na Colômbia e no mundo".

A reunião ocorre em um contexto em que o governo da Colômbia informou no último domingo que concordou com a organização guerrilheira Estado Maior Central (EMC) a extensão até meados de julho do cessar-fogo bilateral que vigorava desde outubro e ia vencer esta semana.

Delegados do governo e do EMC estão realizando em Bogotá o terceiro ciclo de negociações em busca de um acordo definitivo de paz, com alguns avanços significativos, como o compromisso dos guerrilheiros de abandonar o sequestro extorsivo, em meio a algumas denúncias dos negociadores do grupo armado de violações por parte das Forças Armadas da suspensão de operações em suas zonas de influência.