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América Latina

Resultado do 1º turno no Chile evidencia polarização política vivida na América Latina, diz analista

As eleições presidenciais do Chile, realizadas no domingo (21), apresentaram uma disputa acirrada entre dois cadidatos com ideologias bastante distintas. A Sputnik Brasil entrevistou analista para saber o que esperar do resultado final das urnas chilenas

(Foto: Reprodução)
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Sputnik - As eleições de primeiro turno chilenas contaram, de um lado, com o candidato de esquerda, Gabriel Boric (Convergencia Social), o qual levou 25,80% dos votos. Do outro, o candidato de extrema direita, José Antonio Kast (Partido Republicano), levou a maior fatia do bolo: 27,92%, de acordo com o G1.

O segundo turno acontecerá no dia 19 de dezembro, entretanto, no país, o voto não é obrigatório, e sim facultativo, ou seja, quem for votar é a parcela da população que, ou está desejosa por mudança sociais ou quer se assegurar em políticas conservadoras e liberais.

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Essa foi a primeira eleição, em 16 anos, sem o atual presidente, Sebastián Piñera nem Michelle Bachelet, ex-presidente, concorrendo como candidatos.

A Sputnik Brasil entrevistou Regiane Nitsch Bressan, professora de relações internacionais da UNIFESP e coordenadora do Observatório do Regionalismo, para entender o que significou essa disputa bastante apertada nas urnas chilenas entre candidatos tão distintos e se a não presença de lideranças tradicionais pode estar demonstrando uma renovação política no país.

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Bressan diz que o resultado das eleições no Chile representa a forte polarização da população do país, a qual se encontra dividida entre esquerda e direita.

Na representatividade do lado esquerdo, com o candidato Gabriel Boric, estão as manifestações de 2019, as políticas sociais, maior interferência do Estado e a reformulação da Carta Magna do país.

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"No começo deste ano, foi realizada uma eleição para escolher uma comissão que já está redigindo essa carta. A comissão é constituída não apenas por políticos de partidos tradicionais, mas também foi reservado um espaço para indígenas, lideranças populares, portanto, essa carta já prevê a incorporação de demandas heterogêneas da sociedade chilena."

Já do outro lado, há o candidato de extrema direita, José Antonio Kast, o qual saiu com vantagem no primeiro turno, e que "de fato denota essa onda conservadora que já passou pelos países desenvolvidos e agora está alocada na América do Sul".

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"Vimos no Brasil a eleição do atual presidente Jair Bolsonaro, estamos assistindo na Argentina mudanças muito significativas no Parlamento [...] e no Chile nós vemos também esse tipo de situação", analisa a coordenadora.

A especialista destaca que dentro do discurso dessas lideranças de extrema direita, as palavras-chave são sempre as mesmas e que ajudam a caracterizar a onda conservadora como "falar de Deus, da família, do liberalismo, a defesa da retração do Estado".

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 "Esses jargões ajudam a denotar essa ala, a qual, também coloca a esquerda em um hall de depreciação, acusando o lado oposto de serem comunistas, ou de apoiarem governos da Venezuela e de Cuba, esse tipo de abordagem não acontece só no Brasil, mas nos países da região também".

Bressan também relembra que "o Chile, na América Latina, foi o país que adotou o liberalismo econômico de forma mais rigorosa", e sendo assim, mesmo que Gabriel Boric vença, ele terá "dificuldades para instalar as mudanças desejadas e vai ter que negociar, possivelmente tendo que sacrificar o potencial político dessa transformação social a qual ele defende".

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No entanto, diante das manifestações de 2019, Bressan relata que ficou muito claro o desejo de uma parte da populção por "transformações sociais mais robustas, a qual uma ala de centro-esquerda não poderia garantir" e que, com esse cenário, Boric abarcaria essa parte do eleitorado que aspira por mudanças.

"É importante lembrar que embora o Chile tenha voltado à democracia após o fim do regime de Pinochet [1973-1990], o país não adotou mudanças significativas no plano econômico, social e político."

Entretanto, apesar da polarização e do resultado acirrado entre os dois candidatos, foi constatado baixo comparecimento de eleitores nas urnas, e para a especialista "a descrença na democracia é um fator que está preponderando em toda região".

"O fato de termos uma democracia com diversas incongruências, desafios, faz muitas vezes parte da população desacreditar em partidos, na própria política e democracia o que acaba gerando um grande desestímulo para as pessoas irem votar, principalmente em um país que o voto é facultativo."

Na visão de Bressan, cabe aos candidatos pedirem apoio para que as pessoas se dirijam às urnas, principalmente aos "descrentes".

Renovação da classe política

Após 16 anos, a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet e o atual presidente, Sebastián Piñera, não formaram o quadro de candidatos presidenciáveis, fato que indica uma renovação no cenário político chileno.

Bressan explica que a população desejosa por transformação social não enxerga nesses candidatos esse potencial de mudança, uma vez que já "tiveram a chance e não tiveram", e que é justamente a "estagnação desses políticos mais alocados ao centro que está levando à polarização da política chilena".

 Se Bachelet e Piñera podem divulgar apoio a Boric ou Kast, a especialista acredita que uma análise diferente é necessária, ou seja, saber se os atuais candidatos vão querer suas imagens atreladas à ex-presidente e ao atual.

"Temos que ver até que ponto essas lideranças que estão disputando o segundo turno querem se ver atreladas a políticos que foram ultrapassados. Por exemplo, o Kast em alguns momentos evocou o nome de Bolsonaro, no entanto, a população começou a relacionar o presidente brasileiro e sua má gestão na pandemia ao nome de Kast, então o candidato chileno aos poucos preferiu afastar o nome de Bolsonaro da sua candidatura."

Independente do resultado, Bressan diz que o candidato que vencer as eleições terá que "fazer coalizões, arranjos políticos, para ter condições de governabilidade".

"Se Boric ganhar, como mencionado, por mais que tenha apoio de uma população carente por transformações, dificilmente ele vai conseguir uma reforma tão revolucionária, e da mesma forma o candidato da extrema direita terá desafios, pois estamos caminhando para um Chile que defende uma maior intervenção do Estado, que considera as minorias."

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