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Ediel Ribeiro

Jornalista, cartunista e escritor

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10 anos sem Millôr

Millôr Fernandes (Foto: Divulgação)
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Rio - O genial Millôr Fernandes faleceu há dez anos, em 27 de março de 2012, deixando um vácuo na imprensa e no humor nacional. 

Foi cartunista, escritor, dramaturgo e tradutor, mas preferia ser chamado de jornalista: "para evitar qualquer pretensão", dizia. 

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Millôr foi um dos cartunista que conheci em 1980, no lançamento do livro “Natureza Morta e Outros Desenhos do Jornal do Brasil” , do Chico Caruso. 

Como tinha gente talentosa, naquela noite, em Ipanema! além do Millôr, estavam lá, Chico, Paulo Caruso, Ziraldo, Nani, Nássara, Jaguar e Lan, entre outros. Hoje, não se reúnem mais tantos artistas talentosos, num evento como aquele. 

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Millôr era meio fechado. Tinha uma personalidade discreta e fama de mau humorado. Raramente dava entrevistas e sua vida pessoal era guardada a sete chaves. Mas era doce com os amigos. Já com os inimigos, era impiedoso. 

A fama cresceu depois de uma briga entre ele e Chico Buarque: Millôr não se dava com Tarso de Castro, por conta de  uma rixa da época do “Pasquim”. E Chico, que era amigo do Tarso, por isso, virou inimigo do Millôr.

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O humorista, que era impiedoso até com si mesmo, com humor ferino, escreveu em sua coluna que jamais daria o seu cãozinho para passear com o compositor de “Construção”. 

Nunca mais se falaram.

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Um dia, se encontraram num bar no Leblon. Millôr bebia numa mesa com amigos e Chico foi tirar satisfação, perguntou: “O que você tem contra mim?” Millôr ignorou. Com raiva, Chico deu uma cusparada nele. O tempo fechou. Millôr atirou tudo o que tinha na mesa nos cornos do Chico.

Mas nem todas as histórias contadas pelo humorista eram verdadeiras. O escritor Ruy Castro - amigo e admirador do Millôr - conta que nos anos 60, Millôr escreveu uma peça de teatro sobre a Lapa. Numa passagem, Madame Satã, um homossexual valentão que vivia no bairro boêmio, enfrenta a polícia de Getúlio Vargas. Bate em vinte soldados e vira uma patrulhinha. Essa história nunca aconteceu e a peça não foi encenada. Mas Satã ficou sabendo da história e gostou. Anos depois, quando foi entrevistado pelo ‘Pasquim”, o próprio Satã contou a história como se fosse verdade. Millôr nunca desmentiu e a história virou lenda.

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Naquela noite, em Ipanema, deixei minha timidez de lado, me aproximei e consegui um autógrafo do mestre - outro tesouro que perdi nas mudanças da vida. 

Nascido no Méier, zona norte do Rio de Janeiro, em 16 de agosto de 1924, se chamaria Milton, mas graças a forma enfeitada e rebuscada de um escrivão com letra de médico, cujo traço não completou o “t” e deixou o “n” incompleto, virou Millôr. 

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Durante um tempo, assinou, também, na revista “A Cigarra”, a seção “Poste Escrito”, como Vão Gogo, numa referência ao pintor holandês Vincent Van Gogh. 

Multimídia, bem antes da palavra existir, Millôr se definia como jornalista, mas a definição parece insuficiente para um artista que foi, além de jornalista, desenhista, cartunista, artista plástico, humorista, poeta, escritor, dramaturgo, pensador e tradutor.

Inteligente, criativo, irônico, e, sobretudo independente, era também um grande frasista. 

Aprendi a escrever e gostar de frases lendo sua pérolas: 

'Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.'

'Sou tão antigo que nunca conheci ninguém famoso.'

'Gastronomia é comer olhando para o céu.'

'Cidadão, num país em que não há nem sombra de cidadania, significa apenas cidade grande.'

'Quem mata o tempo não é assassino. É um suícida.'

'O jornalista deve ser cético para que o leitor não se torne cético com relação ao jornalista.'

'De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência.'

'Roube ainda hoje. Amanhã pode ser ilegal.'

Ficou orfão muito cedo, mas contornou as adversidades da vida. Autodidata, aprendeu línguas e desenvolveu - apesar da inegável e escancarada admiração pelo cartunista americano Saul Steinberg - um traço e texto de extraordinária originalidade.

Millôr iniciou no jornalismo pelas tiras de quadrinhos de jornal. Começou aos 13 anos no ”O Guri”, publicação dos Diários Associados”. Foi ilustrador da revista “O Cruzeiro”  e de lá para cá, passou por tudo quanto é revista e jornal, entre eles a “Veja”, e “Jornal do Brasil”.

Fez parte da primeira patota do “O Pasquim”. Mas, antes do semanário satírico de Ipanema cair nas graças dos leitores, nos anos 60, ele criou o “Pif- Paf”, espécie de embrião inconsciente do revolucionário jornal por onde passou a nata da intelligentsia brasileira.

No currículo, ostenta mais de 50 livros publicados, 100 traduções de obras-primas do teatro e 22 peças de sua autoria.

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