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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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600 mil mortos ou pra frente o pior

As 600 mil mortes abriram um rombo não apenas no peito do povo brasileiro, como também soterraram qualquer vestígio de ética, respeito e empatia que ainda pudesse haver por aqui em relação ao que de humano ainda restava entre nós

(Foto: Reuters/Bruno Kelly)
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A chegada de outubro confirmou o que já se esperava, com o Brasil registrando a triste marca de 600.077 mortos pela Covid-19, conforme divulgação feita pela imprensa na tarde da sexta-feira, dia 08. É sabido que de todas essas mortes, pelo menos 480 mil poderiam ter sido evitadas se tivesse havido um compromisso do Estado com a população, que foi abandonada à própria sorte, tendo sido usada em inúmeros casos, inclusive, como cobaia em experimentos com uso de medicamentos cientificamente considerados inúteis para o tratamento da Covid-19. Lá do último círculo do inferno, Josef Mengele gargalha!

As 600 mil mortes abriram um rombo não apenas no peito do povo brasileiro, como também soterraram qualquer vestígio de ética, respeito e empatia que ainda pudesse haver por aqui em relação ao que de humano ainda restava entre nós. O sangue dos nossos entes queridos pinga de cada matéria da mídia corporativa, que trabalhou dia e noite pela destruição do Estado Democrático de Direito, transformando o país nesse ambiente de terra devastada irrigada com o sangue da sua gente. 

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As marcas de sangue, os gritos de dor e o inimaginável sofrimento pelo qual passaram nossos parentes e amigos assassinados estão agora nas tintas e nas luzes estampadas nas propagandas das empresas que os obrigaram a trabalhar expostos aos vírus. O sangue dessas 600 mil pessoas está nas mãos do empresariado cruel, corrupto e tacanho que corrói esse país com sua mesquinharia e seu egoísmo. Esse mesmo sangue, ainda quente nas nossas narinas, também escorre dos dedos dos donos das contas em paraísos fiscais, assim como desce dos olhos daqueles que receberam propinas, compraram mansões e destruíram reputações na calada da noite, enquanto nós, de uma forma ou outra, enviados aos matadouros disfarçados de hospitais, morríamos. 

Há uma poça de sangue no dia-a-dia de todos que se omitiram perante aquilo que poderia ter sido evitado, pois não havia nenhuma escolha difícil. Sabemos que é possível tirar manchas de sangue dos móveis, das roupas e do chão. Mas é impossível removê-las das lembranças, das memórias e da alma. A omissão daqueles que elegeram a barbárie que aí está resultou na morte de 600 mil pessoas. O flagelo continua. Chorar e se dizer arrependido de nada adianta. Os gritos de “ladrão” e “assassino” ecoam, mas não conseguem parar o genocídio que continua a avançar. São 600 mil mortos por falta de uma vacina que já existia. Mas nem todas as famílias saberão que foram mortos, disseram.

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Para onde se olha, há sangue escorrendo. Escorre o sangue dos negros exterminados pela polícia, dos indígenas massacrados por garimpeiros, das mulheres assassinadas por serem mulheres, dos sem-teto e dos sem-terra. Há o sangue dos LGBTQIA+ diariamente perseguidos e mortos. Há um país em tormento, assombrado pela ganância, o mau caratismo, a roubalheira, o caos e a morte. Há um país que já nem consegue mais respirar, pois o sangue lhe brota aos borbotões pelos ouvidos, boca e nariz. Há um país abandonado nas bermas da estrada da vida e da decência. Há ainda um país, senhoras e senhores?

Enquanto contamos cadáveres, aqueles e aquelas cujas digitais estão em cada uma dessas 600 mil mortes já discutem como farão para manter as coisas como estão, pois assim se ganha mais dinheiro. E assim o fazem os jornalistas de cativeiro, os médicos nazifascistas, empresários, banqueiros, estúpidos artistas e demais mercadores da morte. Sem possibilidade de esperanças a curto e médio prazos, lembramos Samuel Beckett, quando diz: “pra frente o pior”. 

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No momento, a única certeza que se tem é que o odor dos 600 mil corpos putrefatos, assassinados pelas mãos do Estado brasileiro, estará para sempre entranhado no corpo e na alma de todos que trocaram livros por “arminhas”, assim como nos idiotas que riem com os cortes de 92% das verbas para ciência e tecnologia. Esse odor também estará simbioticamente amalgamado naqueles que, enfim, contribuíram na construção do abismo no qual estamos socados. Não há nada além no horizonte. Calma! O que é aquilo que se vê adiante? Nada. A não ser os abutres que sobrevoam as ruínas de um país e se deleitam com as carcaças do seu povo, bicando-lhes o fígado, mordiscando o que ainda resta de suas carnes flácidas e roubando-lhes o que antigamente já foram seus sonhos.

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