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Carla Teixeira

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Membro do Conselho Editorial da Revista Temporalidades - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

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8M: combater o racismo, o patriarcado e o capitalismo

"Dar flores e presentes a uma mulher, neste dia, é atitude ofensiva por esvaziar o caráter histórico da luta feminista do 8 de março", escreve Carla Teixeira

(Foto: Mídia NINJA)
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Por Carla Teixeira

“Hoy a las mujeres nos quitan la calma.
Nos sembraron miedo, nos crecieron alas.

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 (…) A cada minuto de cada semana
Nos roban amigas, nos matan hermanas
Destrozan sus cuerpos, los desaparecen
¡No olvide sus nombres, por favor! (...)

 Cantamos sin miedo, pedimos justicia
Gritamos por cada desaparecida
Que resuene fuerte: ¡Nos queremos vivas!
Que caiga con fuerza el feminicida”

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 (Canción sin miedo – Vivir Quintana)

O dia Internacional da Mulher remonta à luta de mulheres feministas e marxistas do início do século XX. Combatendo o patriarcado e o sistema capitalista, foram inúmeras as mobilizações que exigiram direito de voto, melhores salários e condições dignas de vida. O exemplo mais marcante foi a grande greve organizada por mulheres operárias russas, em 8 de março de 1917, que pediam “pão e paz” em meio à Primeira Guerra Mundial. O resultado foi a queda do czar Nicolau II, abrindo espaço para a chegada dos bolcheviques ao poder com a vitória da Revolução Russa. Em 2022, haverá manifestações pelo mundo todo. No Brasil, os atos públicos estão marcados para todas as regiões com o lema “Pela vida das mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome!”.

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É importante lembrar que a condição da mulher no Brasil não foge à regra da opressão geral imposta pelo sistema econômico e social. Temos uma formação histórica marcada pela exploração integral da terra e dos corpos nativos. Escravidão e patriarcado caminharam juntos para compor o Brasil e seus filhos concebidos através dos estupros de mulheres, pretas e indígenas, praticados por europeus colonizadores que também assassinaram homens pretos e indígenas. Tudo isso está no nosso DNA, como mostrou o projeto “DNA Brasil”.

O patriarcado e o machismo, assim como o racismo e misoginia, estruturam e sustentam a sociedade brasileira até hoje. Especificamente, o componente misógino é alimentado pela cultura que coloca a mulher numa posição de inferioridade em relação ao homem. A misoginia afeta, essencialmente, mulheres com algum nível de poder.Daí a construção da grande mídia que retratava a ex-presidente Dilma Rousseff como despreparada para o cargo que ocupava, utilizando adjetivos como “anta” e “incompetente” - endossados por muitos homens de esquerda que argumentavam “A Dilma não ajuda né kkkkk”. Essa reflexão nos permite compreender alguns elementos basilares para Jair Bolsonaro se tornar (e se manter, apesar de TUDO!) presidente da República.

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A Constituição de 1988 garante uma série de direitos formais às mulheres. A Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, aprovadas nos governos Lula e Dilma, foram importantes avanços no combate à violência contra a mulher, mas nem sempre isso se traduz em direitos reais. Seguimos ganhando menos ao desempenhar as mesmas funções que homens, enquanto também somos responsáveis pela maior parte do trabalho não remunerado, principalmente na esfera doméstica. Entre 192 países, o Brasil ocupa o 142º lugar no ranking internacional de participação de mulheres na política. Nossa vizinha, Argentina, ocupa a 20ª posição.

Após o golpe de 2016, especialmente durante a pandemia, as mulheres foram as mais prejudicadas em todos os âmbitos. No Brasil com 19 milhões de pessoas passando fome, a mulher, preta, pobre, desempregada e chefe de família é a que tem seus filhos e dependentes em situação de fome. Foram mulheres que se mantiveram na linha de frente durante o pior momento da pandemia: as enfermeiras, cuidadoras, caixas de supermercado, atendentes de farmácia etc. Em 2021, o Brasil teve 1 estupro de mulher a cada 10 minutos e 1 feminicídio a cada 7 horas.

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Por tudo isso, dar flores e presentes para uma mulher, neste dia, é uma atitude ofensiva por esvaziar o caráter histórico da luta feminista do 8 de março, que então se transforma em uma data simbólica inofensiva às estruturas opressoras da sociedade. Fazer crescer a organização e participação das mulheres na política e nos espaços de decisão institucional é fundamental para romper as práticas violentas seculares que nos oprimem. A luta de classes tem rosto feminino, com as mulheres pretas assumindo a linha de frente no processo de libertação dos corpos e mentes aprisionados pelo patriarcado e pelo capitalismo.

Há uma frase corrente nos grupos feministas que diz: “Somos as netas das bruxas que vocês não conseguiram queimar”. Mas eu reitero: somos também netas daquelas que foram aprisionadas, queimadas, torturadas, estupradas, mortas e violadas de todas as formas. Somos Dandara dos Palmares, Olga Benário, Aleskandra Kolontai, Emma Goldman, Soledad Barret, Ines Etienne, Helenira Resende, Rosa Luxemburgo. Somos Marielle Franco e queremos saber quem é o mandante de seu assassinato.

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Somos Dilma Rousseff e seu exemplo histórico de altivez, dignidade e força moral diante de seus torturadores – que na foto icônica escondem o rosto com as mãos. A mesma lição nos ofereceu de novo, ao enfrentar impávida o fraudulento processo de impeachment aprovado por golpistas, canalhas, machistas, misóginos e traidores do povo brasileiro. Somos todas essas mulheres. Estamos aqui e exigimos justiça!

Num mundo em que a masculinidade normativa propaga guerras, mortes e a iminente destruição de todo o planeta, o feminismo poderá ser a tábua de salvação da humanidade a partir de uma visão de mundo em que sejamos “socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”. Que tremam os machistas, capitalistas, racistas e misóginos diante da iminente revolução feminista em curso no mundo todo, principalmente na América Latina. É só uma questão de tempo: abajo el patriarcado se va a caer, se va acaer. ¡Arriba el feminismo que va a vencer, que va a vencer!

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