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Weiller Diniz

Jornalista especializado em cobertura política, ganhador do prêmio Esso de informação Econômica (2004) com passagens pelas redações de Isto É, Jornal do Brasil, TV Manchete, SBT. Também foi diretor de Comunicação do Senado Federal e vice-presidente da Radiobrás, atual EBC.

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​​​​A asfixia da 3ª via

"A renitente tese da 3ª via talvez seja o maior unicórnio no Brasil dos últimos anos. Não passou de devaneio", escreve Weiller Diniz

Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: REUTERS)
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(Publicado originalmente em Os Divergentes

A renitente tese da 3ª via talvez seja o maior unicórnio no Brasil dos últimos anos. Muitos falam, especulam, apostam em um fenômeno miraculoso capaz de furar a cristalização dos favoritos de votos na maratona presidencial, liderada hoje com folga pelo ex-presidente Lula e seguido por Jair Bolsonaro, com muitas sondagens prevendo definição já em 1 turno. Embora a fantasia ocupe generosos e assimétricos espaços, além de tempo do noticiário da TV, ela nunca foi vista como possibilidade concreta para 2022.

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Não passou de devaneio de alguns poucos torcedores nas arquibancadas que, dessa forma, acabam se somando a Bolsonaro na tentativa de desconexão da realidade. A partir do tiro inicial abrindo a corrida sucessória, em meados de 2021, a dita terceira via nunca apresentou competividade mínima em que pese a enxurrada de inscritos e de nomes testados nos últimos meses. Eles vão desde artistas, deputados, ex-ministros, justiceiros, anônimos e até governadores. Todos eles, atletas despreparados para provas longas e com fôlego reduzido em grandes distâncias. Queimaram muita energia na largada e tombaram, lesionados ou com cãibras, pelas pistas eleitorais já nos metros iniciais.

A perda de oxigênio foi constatada logo na partida da corrida presidencial, uma prova longa de muitos obstáculos que exige altíssima resistência cardíaca, preparo físico e força psicológica. Em abril de 2021, sete postulantes ao pódio de representante da terceira via entraram na corrida lançando o “Manifesto pela Consciência Democrática”. O roteiro, pretensamente aglutinador, pecava por omissões de temas, como a defesa da vida em plena pandemia, bem como por evitar o impeachment que encurtaria a prova presidencial de Bolsonaro face às reiteradas sabotagens no combate à Covid-19 e, ainda, padecia de uma inexplicável exclusão de uma legião de outros democratas que desafiavam e continuaram a enfrentar a índole golpista de Jair Bolsonaro.

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Participaram daquele pré-aquecimento fracassado Ciro Gomes, João Dória, Eduardo Leite, João Amoedo, Luciano Huck, Luiz Henrique Mandetta. Nomes ainda mais resfolegantes se apresentaram nas sessões de treinos, mas apresentaram estiramentos incapacitantes, tais como Arthur Virgílio, Rodrigo Pacheco, José Luiz Datena, Alessandro Vieira e Luciano Bivar. Nesse revezamento de fôlego curto foram testados exatos 13 nomes, com a recente inscrição da senadora Simone Tebet.

Sérgio Moro participou ativamente de todos os treinos da 3ª via. No início do aquecimento preferiu a discrição dos bastidores já que ainda mantinha vínculos contratuais com um patrocínio imoral de R$ 3,5 mi com a marca Alvarez & Marsal por menos de 1 ano de pouco suor, uma fábula de premiação. Os mecenas de Moro faturaram muito alto com os clientes atingidos pelo ex-juiz Moro na Lava Jato. O escritório de advocacia recebeu R$ 65 milhões (77% do faturamento total da firma) com empresas detonadas por Moro quando ainda atuava em Curitiba. As provas classificatórias foram alertas sonoros – desprezado por todos – da inviabilidade da equipe da 3ª via. Moro foi o nome mais anabolizado pela imprensa engajada para assumir a liderança do pelotão de centro, inclusive com projeções inconsistentes de que ultrapassaria Bolsonaro e encostaria em Lula.

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O péssimo fair play do marreco de Maringá foi revelado pelo criterioso ‘fotochart’ da Vaza Jato, com comprovações de várias condutas desonestas, uso de substâncias ilegais e violação das regras do jogo com objeto de eliminar o líder da corrida em 2018, abrindo a pista para a vitória usurpada de Jair Bolsonaro. O doping antidemocrático rebaixou Moro que foi banido de partidos, de estados e até de provas eleitorais: trôpego, saiu da pista presidencial e cambaleou para todos os lados. Se apresentou para governo, depois Senado e, agora, se puder, competirá entre os deputados e no Paraná. Até o domicílio eleitoral dele era fraudulento.

As temporadas passadas explicam em parte o esmaecimento e o insucesso dessas estrelas. Dois foram atletas do fiasco da equipe ministerial de Bolsonaro: Sérgio Moro, na raia da Justiça e Luiz Henrique Mandetta, na pista da Saúde. As duas revelações tucanas, que ensaiaram apagar os treinos com Bolsonaro, foram coadjuvantes em vídeos eleitorais e bordões de campanha (“BolsoDoria”e “BolsoLeite”) com o capitão.

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Outros dois cavalos paraguaios, João Amoedo e Luciano, embora figurantes nos revezamentos políticos, sempre foram da arquibancada de Bolsonaro. Luciano Bivar foi o presidente do partido que elegeu o capitão, o antigo PSL, agora rebatizado de União Brasil, uma cornucópia reluzente pelos recursos eleitorais que administra. Apenas Ciro Gomes é uma oposição original, embora na corrida eleitoral que elegeu o malfeitor, o cearense tenha optado pela omissão ao acompanhar as competições internacionais. Ele preferiu passar a temporada do 2º turno em Paris. Ciro Gomes apresenta a metade da torcida de 2018, capricha nas grosserias e ameaça repetir a saída à francesa. Uma estratégia comprovadamente desastrada. A maioria, diante de contusões, já saiu de fininho da competição. A última esperança na bolsa de apostas é Simone Tebet. Uma senadora que vem recebendo um gás no sprint final.

Muitos dos que estiveram perfilados nas raias do bolsonarismo em 2018 querem simplesmente deletar os rastros das sapatilhas encardidas em pistas tão autoritárias, sepulcrais e fracassadas. A baixa aderência eleitoral a eles mostra que o público não esqueceu que passaram o bastão para Bolsonaro e os responsabiliza pelo flagelo brasileiro, seja institucional, político ou socioeconômico, com a maior inflação em 27 anos (quarta maior do planeta), explosão da miséria, a insegurança alimentar afetando mais de 40 milhões de brasileiros, desemprego, achatamento salarial, fechamento de fábricas, a maior desvalorização do real entre as moedas mundiais, um tombo vertiginoso no ranking das economias mundiais e o desprezo planetário.

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Do outro lado, nos privilegiados camarotes do poder, militares têm aumento acima do teto salarial, ereções bancadas pelo contribuinte, a corrupção grassou no MEC e na compra de vacinas, o centrão se refestela com o orçamento secreto, a milícia deita e rola e a família Bolsonaro vê seus negócios prosperam em um cenário czarista. Tudo acobertado por uma olimpíada de segredos seculares, tolerados por um MP que, em parte, se comporta como espectador parcial e se mantem em uma torcida silente e cúmplice.

Muitos que queimaram a largada preferem esquecer as temporadas anteriores, mas são sócios fundadores do terror instalado a partir de 2018. Nos 27 anos de quase absoluta vadiagem pelas baias políticas, o capitão ficou famoso por falas e enredos inequivocamente autoritários, convictamente fascistas. Foi cortado do exército por ameaças de explodir quartéis. Concedeu entrevistas admitindo golpes, pregou o “fuzilamento” de adversários e faz da apologia a ditaduras e carniceiros uma corrida do terror: “Eu louvo o AI-5”; “O erro da ditadura foi torturar e não matar”; “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim”; “Desaparecidos do Araguaia? Quem procura osso é cachorro”; “No período da ditadura, deviam ter fuzilado uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique”; “Pinochet devia ter matado mais gente.” Todos da 3ª via ouviram e silenciaram diante desses estampidos fascistas.

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​As pesquisas eleitorais têm metodologias distintas, são realizadas em cenários que podem mudar o humor da sociedade e com nomes diferentes, por isso são incomparáveis até mesmo entre si. Mas a média numérica das mais de 100 pesquisas eleitorais já realizadas até aqui, atesta a falta de fôlego dos competidores alinhados na faixa da terceira via e desenha uma tendência praticamente irreversível. Somados, os candidatos ali posicionados, nunca ultrapassaram o segundo colocado. O que já era um fracasso aritmético, ainda levou um grande tombo nas intenções de votos a partir de março deste ano. Naquele mês todos os candidatos somados nessa pista alternativa pontuavam 21%. Caíram para 13% em abril e 12% em maio. O melhor desempenho desse grupo foi registrado em outubro de 2021, quando a totalização de votos para esse grupo somou 23% contra 29% do capitão Jair Bolsonaro. É uma distensão coletiva.

Os coelhos da 3ª via têm influência reduzida em suas legendas. Os tucanos, com dois governadores desclassificados precocemente por entorse eleitoral, se bicam o tempo todo e, praticamente, implodiram o ninho tucano. João Dória, poderoso governador paulista e um dos poucos com chances de subir alguns pontos durante a campanha, saiu de fininho quando detectou um bom pretexto político. Ele perdeu dois duelos pela expulsão de Aécio Neves e amargou a recondução de Bruno Araújo ao comando do PSDB. O DEM, do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, teve ministros no governo.

O presidente da sigla, ACM Neto, fortaleceu Bolsonaro ao enfraquecer o deputado apoiado por Rodrigo Maia na Câmara, impondo uma derrota a Baleia Rossi, candidato anti Arthur Lira, o engavetador de impeachment e dono do orçamento secreto. Amoedo envelheceu no Novo, um partido de posturas reacionárias. Huck preferiu as maratonas dos estúdios televisivos, onde a plateia é dócil e previsível. Ciro Gomes não mostrou competitividade e Simone Tebet tem que apresentar fôlego de fundista para, em poucos dias, reverter a resistência do MDB, que em boa parte já exibe as flâmulas de Lula, principalmente no Nordeste.

A retrospectiva das mesmas legendas que incensaram a 3ª via em votações de interesse do governo no Congresso Nacional desde 2019 até dezembro de 2021 mostra frames inquietantes. Além da claque que se alimenta do orçamento secreto, os campeões de fidelidade a Bolsonaro estão entre os partidos governistas, mas também há percentuais superlativos de governismo no PSD (91%), DEM (90%), MDB (87%), PSDB (83%) e Cidadania (79%). Os índices referem-se aos votos convergentes com a orientação do líder do governo nestes 3 anos. Exceto o PDT, com apenas 43% de governismo, as legendas que respiram a 3ª via apresentaram altas taxas de lealdade ao governo nas votações analisadas pelo “Radar do Congresso”, do site jornalístico “Congresso em foco” e divulgadas no começo de 2022.

Há um grande fosso separando os idealizadores da terceira via e a base legislativa, onde mais de 2/3 votaram em Bolsonaro no Parlamento. Entre os campeões de emendas do orçamento secreto há vários parlamentares dessas legendas. A reta final vai se tornando mais próxima e na corrida presidencial, como se sabe, só há uma medalha. Prata e bronze para 2ª e 3ª vias inexistem.

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