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A banalização do ódio no centro do poder

O jornalista Florestan Fernandes Jr se disse "surpreso" em ver o senador Renan Calheiros (MDB-AL) "fazendo coro com esta triste prática de agredir de maneira torpe um de seus desafetos"; ele se refere ao tuíte de Renan que sugere que foi assediado pela jornalista Dora Kramer; "Renan desceu ao nível mais baixo da deselegância, se comparando aos piores momentos machistas e homofóbicos do ex-deputado Jair Bolsonaro. 

A banalização do ódio no centro do poder (Foto: Jane de Araújo - Agência Senado)
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Por Florestan Fernando Júnior, para o Jornalistas pela Democracia - Fiquei surpreso em ver o senador Renan Calheiros fazendo coro com esta triste prática de agredir de maneira torpe um de seus desafetos. Aqui não falo dos atritos políticos do ex-presidente do Senado, mas da cordialidade que ele sempre teve no trato pessoal com os jornalistas. Ao sugerir que foi assediado pela jornalista Dora Kramer, Renan desceu ao nível mais baixo da deselegância, se comparando aos piores momentos machistas e homofóbicos do ex-deputado Jair Bolsonaro. Em sua conta no Twitter, o ex-presidente do Senado disparou: "A Dora Kramer (Veja) acha que sou arrogante. Não sou. Sou casado e por isso sempre fugi do seu assédio. Ora, seu marido era meu assessor, e preferi encorajar Geddel e Ramez, que chegou a colocar um membro mecânico para namorá-la. Não foi presunção. Foi fidelidade." Ninguém é obrigado a concordar com as posições políticas de Dora Kramer, nem ler o que ela escreve. Mas devemos respeitá-la como mulher, profissional e cidadã.

O processo de impeachment da ex-presidenta Dilma não terminou apenas no afastamento dela. Liberou também os piores sentimentos de alguns homens e mulheres que odeiam os seres mais frágeis ou considerados por eles, "diferentes". O grito de liberação do ódio contido por mais de vinte anos veio na sessão da Câmara Federal quando o deputado Jair Bolsonaro votou pelo impeachment homenageando o torturador de Dilma Rousseff, coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.

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Dois anos antes, ainda no Congresso Nacional, Bolsonaro já tinha escancarado seu machismo quando aos berros tentou intimidar a deputada Maria do Rosário afirmando que ela não merecia ser estuprada porque ele a considerava "muito feia".

Durante e depois da eleição do ano passado a toada foi a mesma, homossexuais, negros, prostitutas e defensores dos direitos humanos sendo ofendidos, agredidos e até mortos. O caso mais impactante foi o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes cujo principal suspeito, o ex-capitão do BOPE Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe da milicia de Rio das Pedras, chegou a ser homenageado por Flávio Bolsonaro. A mulher e a esposa do Gordinho, como é conhecido, eram funcionárias no gabinete do então deputado estadual, Flávio Bolsonaro. Depois de assumir a presidência, o capitão presidente trouxe para linha de frente do seu ministério um grupo seleto de pessoas que reforçam em seus discursos a homofobia, o preconceito e o machismo. As vezes até de forma simplória como fez a ministra Damares ao dizer que meninas devem usar roupa rosa e meninos, azul. Seu líder prefere manifestar seu preconceito de forma mais direta e ofensiva como quando disparou contra o jornalista norte-americano Glen Greenwald a seguinte grosseria: "Você queima a rosca? Não me importo! Seja feliz!"

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O problema desse discurso discriminatório é que ele se retroalimenta. Hoje é comum você entrar num debate na rede social e se deparar com "argumentos" que não passam de ofensas, sem nenhuma base racional. Essa bolha do Facebook, .WhatsApp e Twitter, na qual circulam basicamente ofensas e fake news está cada vez mais dominando a opinião pública. Isto é péssimo para qualquer sociedade que pretenda discutir seus problemas, que no caso do Brasil são inúmeros, de uma maneira aberta e respeitosa.

Renan reforçou com seu rancor e ódio contra Dora Kramer o discurso machista e preconceituoso que domina o país e do qual as mulheres também são vítimas inclusive dentro de suas próprias casas. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cerca de 4.4 milhões de mulheres são agredidas fisicamente todos os anos no Brasil. Só em 2017 mil mulheres foram vítimas do feminicídio, mulheres mortas em crimes de ódio motivados pela questão de gênero. Um numero que deve aumentar ainda mais com o discurso machista no país e com a liberação de armas que estarão à disposição dos agressores a partir de agora.

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