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Milton Alves

Jornalista e sociólogo

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A Comuna de Capitol Hill abala ‘sistema nervoso’ de Trump

"O debate em torno de Capitol Hill expressa as profundas contradições de classe da sociedade norte-americana", diz o colunista Milton Alves sobre a zona autônoma dos EUA. "Um efeito imediato de Capitol Hill foi o abalo no sistema nervoso de Trump e de seu 'estado maior de campanha' e também foi uma semana em que a política doméstica tirou o sono da extrema-direita"

(Foto: Reuters)
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A Comuna de Capitol Hill, em pleno coração da cidade Seattle, completa uma semana e virou uma incômoda espinha entalada na garganta do presidente Donald Trump, que vociferou no Twitter ordenando a prefeita democrata Jenny Durkan e ao governador a retomada imediata da área.

Ativistas do movimento Black Lives Matter, coletivos autonomistas e anarquistas, entre outros grupos, criaram a “zona autônoma de Capitol Hill”, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos. A área autônoma, cercada por barricadas, se estende por cerca de dez quarteirões no bairro de Capitol Hill, incluindo um dos distritos policiais da cidade. A região, na área central de Seattle, foi palco de protestos e de confrontos com a polícia após o assassinato de George Floyd em Minneapolis, Minessota, no último dia 25 de maio.

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Trump reiniciou a campanha pela reeleição sob o signo das vigorosas revoltas da população negra em todo o país e da simbólica Comuna de Capitol Hill. Setores da extrema direita pedem uma ação de força contra os “terroristas”, expressão também usada pelo presidente norte-americano contra os novos “communards” da era das redes sociais globalizadas.

As imagens de Capitol Hill, nestes dias, nos remete esteticamente aos acampamentos autogestionários de hippies dos anos 60′ e segundo o jornal New York Times trata-se de uma mistura de “festival de rua com comuna politizada”. Já para a trumpista Fox News, o local se tornou um perigoso ninho de terroristas e malfeitores, que promovem o caos, a extorsão de empresários na área ocupada e ameaçam incendiar o país.

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O debate nacional em torno de Capitol Hill expressa as profundas contradições de classe da sociedade norte-americana. A onda de protestos antirracistas e contra a violência policial surgida no bojo do assassinato de George Floyd, é uma das pontas do esgarçamento social no país -, com cerca de 40 milhões de desempregados e assolado pela pandemia do coronavírus.

Uma olhada na pauta de reivindicações do movimento retrata com exatidão as agruras e percalços da maioria da população negra e branca pobre dos Estados Unidos. As 30 demandas apresentadas pela Comuna de Capitol Hill são as mesmas apresentadas pelos diversos movimentos e coalizões de luta por direitos nos EUA.

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As demandas abordam questões econômicas e sociais como mais investimentos na Saúde, criação de um sistema acesso à moradia, financiamento público para as universidades, mais proteção social do Estado. Além disso, há as reivindicações que deram origem aos protestos: fim da repressão policial sistemática e brutalizada contra a população negra, mudança dos protocolos policiais e desmilitarização, implantação de uma segurança comunitária, com patrulhas formada por moradores e a retirada de todas as acusações contra os participantes dos protestos antirracistas.

Diversos analistas políticos enxergam o movimento como parte de uma trama para favorecer o Partido Democrata nas eleições de novembro, que tem como candidato um “picolé de xuxu”, o desbotado Joe Biden. Analistas vinculados ao pensamento conspirativo de Steve Bannon acreditam em uma grande armação do “estado profundo” [o deep state], com transferências de fabulosas somas de dinheiro e aportes tecnológicos ao Black Lives Matter, que seria controlado pelo casal Obama. As duas avaliações integram narrativas envolvidas na disputa política imediata já pautada pelas eleições presidenciais.

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Os protestos e a própria comuna de Seattle são inseparáveis da luta por mais democracia e inclusão na sociedade norte-americana, revelando a fraqueza e a decadência em curso do establishment imperialista. As forças progressistas e de esquerda devem apoiar e manifestar simpatia pelo levante no coração do império – sem recorrer a modelos mentais e receitas ideológicas pré-estabelecidas.

Um efeito imediato de Capitol Hill foi o abalo no sistema nervoso de Trump e de seu “estado maior de campanha” e também foi uma semana em que a política doméstica tirou o sono da extrema-direita trumpista, aliviando a carga de maquinações contra a Venezuela e Cuba – pelo menos por alguns dias e horas. E tudo isso graças aos jovens e conectados “communards” de Capitol Hill. É pouco, não vai dar em nada, diriam alguns, mas é muito…

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