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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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A coragem e o medo de ir pra rua

"O brasileiro com ou sem histórico de militância, vacinado ou não, resume seus temores nessa síntese: não sei se tenho forças para derrubar Bolsonaro e talvez não tenha proteção suficiente para enfrentar o coronavírus", afirma o jornalista Moisés Mendes

(Foto: Elineudo Meira / @fotografia.75)
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia

Repete-se nas redes sociais uma confissão exposta quase como pedido de desculpas. Tem muita gente dizendo que não se sente corajosa o suficiente para ir às ruas neste sábado (29) contra Bolsonaro, pela vacina, pela saúde, pela educação e pelas liberdades.

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É compreensível e era esperado. O brasileiro está enferrujado e vacilante. Perdeu o treino e não sabe direito qual é a sua capacidade de enfrentamento do fascismo e do genocídio.

O brasileiro com ou sem histórico de militância, vacinado ou não, resume seus temores nessa síntese: não sei se tenho forças para derrubar Bolsonaro e talvez não tenha proteção suficiente para enfrentar o coronavírus.  

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Era bem mais fácil ser corajoso em grandes turmas que se mobilizavam moralmente muito antes da mobilização física. Uma passeata começava a andar muito cedo em ensaios dentro da cabeça de cada um. E não havia uma peste.

O brasileiro está travado e até a ideia de uma caminhada tem ficado cansativa. Descobrimos, diante do desafio de um ato público, que ainda dependemos da presença ostensiva do nosso corpo para dizer o que desejamos nos momentos graves.

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Já sabemos há muito tempo que não basta brincar de militante virtual vigoroso, destemido, mas apenas virtual. Sem rua, não há resistência, no Chile, na Colômbia, no Equador, na Bielorrúsia. Mas ficamos um ano só olhando o que eles faziam e fazem nas ruas.

Não temos mais no Brasil e em quase toda parte as mobilizações acionadas por convocações de organizações historicamente poderosas. O que se chamava de consciência coletiva nas ruas não tem mais o suporte inspirador de partidos, sindicatos, federações, associações, coletivos.

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Não temos mais as vozes potentes que nos induzam a desafiar a peste e o genocida com destemor. É dureza depender de sinais de comunicações em rede, tantas vezes dispersas e pouco assertivas.

Carrega-se desde o início da semana a dúvida de ir ou não ir como um fardo que, depois das manifestações, pode pesar ainda mais. Pode pesar se os atos forem fracos e pode também se forem fortes.

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Os atos foram minguados porque não estávamos lá, ou foram grandiosos e vibrantes mesmo sem a nossa presença. Nunca antes o ir ou não ir foi uma decisão tão pessoal e única, em meio à gritaria das solidões do Instagram, do Facebook, do Twitter, do WhatsApp.

Poucas vezes os veteranos de outras guerras, contra a ditadura, pelas Diretas e com as caras pintadas contra Collor, estiveram tão distantes dos jovens como agora.

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Na média, o brasileiro maduro não sabe nem como (e quando e onde) iniciar uma conversa com um jovem sobre a possibilidade de ambos se encontrarem nas ruas neste sábado, mesmo que mantendo distância.

O golpe de agosto de 2016 esculhambou com quase tudo na política e nas relações humanas, encarcerou Lula e gerou Bolsonaro. E a pandemia completou o serviço fortalecendo grupos, bolhas e sub-bolhas.

O que acontecer nesse sábado pode romper esse estranhamento ou aprofundá-lo por mais algum tempo, até que aconteça alguma coisa. Só descobriremos se algo maior pode acontecer se estivermos lá. Eu decidi que estarei.

Quem não for neste sábado, poderá ir mais adiante, sem culpas. Vamos desenferrujar aos poucos. Coragem é algo que se fortalece com treino.

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