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Leonardo Boff

Ecoteólogo, filósofo e escritor. Escreveu Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres, Vozes 1995/2015; em espanhol por Trotta, Madrid 1996, Dabar, México 1996

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A crise política brasileira: nem chorar nem rir, procurar entender

O conflito de raiz é este: os estratos tradicionais e poderosos não aceitam esta inflexão na história do Brasil em favor dos humilhados e ofendidos. Querem-nos como seus serviçais baratos, exército de reserva

Recife - Manifestação em Recife contra a corrupção e pela saída da presidenta Dilma Rousseff (Sumaia Villela/Agência Brasil) (Foto: Leonardo Boff)
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Há uma dilaceração na sociedade brasileira que não pode continuar, pois comprometerá a nossa frágil democracia e a convivência minimamente pacífica. Tal fato se deriva da onda de ódio, de intolerância e de abusos por parte do poder judiciário que perdeu seu centro que é a imparcialidade e que, em alguns, revela traços inegáveis de perseguição e de vontade de destruir o outro e seu partido.

A campanha eleitoral de 2014 deslanchou um processo de rejeição e de inconformismo. Houve erros em ambos os lados: do lado do poder dominante como do lado das oposições. Todos, de alguma forma foram vítimas de marqueteiros, especialistas em inventar metáforas, ocultar erros, exagerar verdades e distorcer a visão do outro. Não deveria haver marqueteiros. Eles fazem aquilo que Henry Kissinger, o discutido secretário de Estado dos USA no tempo da guerra fria, dizia: "nossos embaixadores são pessoas que enviamos aos vários países para mentirem em nosso favor". O marqueteiro é mais ou menos isso: inventa quando não distorce em favor de seu candidato que lhe paga milhões para fazer um trabalho ambíguo e não raro sujo.

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As eleições foram democráticas mas dentro desse quadro maldoso. No entanto, num regime democrático, ganha tem a maioria dos votos válidos. Normalmente, quem perde, mostra elegância: vem a público, até por respeito aos eleitores, felicitar o vencedor e lhe desejar bons votos. Isso não ocorreu. O candidato da oposição não reconheceu a derrota. Não lhe desejou bons votos. Ao contrário: tentou a recontagem dos votos e foi vencido; tentou impedir a diplomação e foi rejeitado; tentou impedir a tomada de posse e não conseguiu; continuou com um processo de impeachment que ainda corre e não é líquido que prospere.

Com isso deu-se início a uma estratégia oposicionista de tornar impossível governar o país. Coincidentemente estourou a corrupção da Petrobrás onde grande parte dos partidos estava comprometida, pois, era tradição, que a empresa e as grandes empreiteiras que trabalham para ela, alimentavam o caixa dois dos partidos. Do PT e também da oposição. Mas aqui entrou a vigorar a politização da justiça. Todo o peso das acusações caíram, praticamente, sobre o PT, com delações premiadas, vazamentos de dados sigilosos para a grande imprensa, empenhada há muito em fazer oposição férrea ao governo do PT por esposar um projeto político elitista e neoliberal.

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Os milhões da corrupção por parte do PT são tão escandalosos que suscitam, com razão, a indignação de qualquer pessoa sensata. Tal fato criou desalento por parte dos membros do PT e revolta e vontade de propor um impeachment contra a presidenta por certos setores da população. De repente todo o PT era e é corrupto, o que não é verdade. Ao arrepio do direito, bastavam suspeitas para o juiz mandar prender os suspeitos, antes mesmo de ouvi-los ou confirmar a objetividade das delações. Assim que assistimos, estarrecidos, o excesso judicial de levar sob vara o ex-presidente Lula ao interrogatório, quando a sensatez aconselhava fazer como se fez com o outro ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso, que foi ouvido em casa. A culminância chegou às raias da evidente insensatez e da falta da percepção das consequências sociais violentas quando um juiz e três jovens procuradores, parcos em experiência e mais ainda de cultura, decretarem a sua prisão preventiva. A reação de líderes mundiais, de renomados juristas nacionais e até do STF denunciou o caráter persecutório da medida.

Nessa atmosfera acirrada, cabe pedir moderação, para salvaguardar a democracia e não favorecer comportamentos fascistas, por parte de políticos e de agentes do judiciário.

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Mas faz-se mister tomar em conta um dado esclarecedor. A oposição, cuja base social é constituída pelas elites econômicas e intelectuais, nunca aceitou que um metalúrgico, sem cultura acadêmica (embora extremamente inteligente e politicamente hábil) assumisse o mais alto cargo da nação. Ouvi pessoalmente de líderes da oposição dizer: "nós é que estamos preparados para gerenciar o país; a presidência é o nosso lugar". Eu retrucava: "gerenciar que país? Aquele que tem como substrato ainda a Casa Grande e a Senzala"? Esse projeto nunca deu centralidade ao povo, óleo gasto da história. Mas com o PT triunfou um outro projeto que conseguiu o que nunca ocorrera antes: incluir milhões na cidadania, permitir-lhes aos milhares chegar à universidade, dar-lhe dignidade e ter sua casinha com luz elétrica.

O conflito de raiz é este: os estratos tradicionais e poderosos não aceitam esta inflexão na história do Brasil em favor dos humilhados e ofendidos. Querem-nos como seus serviçais baratos, exército de reserva.

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Nunca pertenci ao PT. Mas sempre apoiei sua causa. O essencial da teologia da libertação é a opção pelos pobres contra sua pobreza e em favor da justiça social. Por esta razão, apoiei e continuo apoiar o PT porque o vejo como um instrumento para realizar este sonho maior. Os que cometeram crimes devem ser julgados e punidos. Mas seu líder maior, Lula, nunca esqueceu as razões que o elegeram: criar condições mínimas de dignidade e de vida aos oprimidos do país. Até o juízo final vale esta causa sagrada.

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