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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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A culpa é das chuvas?

"Os ricos ocupam e mantém seus lugares se defendendo das manifestações da natureza. Os pobres recebem toda a fúria das chuvas", escreve o cartunista Miguel Paiva

(Foto: Miguel Paiva)
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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia 

Enchentes acontecem em qualquer lugar do mundo. É a natureza se manifestando e causando maiores ou menores danos ao ser humano. Enchentes com esses estragos, essas mortes, essas degradações que se repetem todos os anos tem só um causa: A pobreza. Colocar a culpa nas chuvas é quase cinismo. Todo ano é a mesma coisa e não dá mais para dizer que foi uma surpresa. 

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Desde que as primeiras favelas começaram a se formar no Rio de Janeiro que o Estado fechou os olhos para o que se estabelecia. Populações foram trazidas para o Rio para ajudar a grande e desastrosa transformação da cidade e essa gente toda, largada ao destino, acabou ocupando os morros perto do trabalho. Por aí foi. Organizar as cidades, criar regras para a ocupação delas e estabelecer políticas sociais que absorvam essa população são coisas que surgem com o desenvolvimento democrático dos países. 

Hoje na Europa você vê chuvas e enchentes mas as populações vivem em condições de sobreviver a essas intempéries. Nos países pobres da Ásia ou da América, sem falar na África, a chuva acaba castigando somente essa parcela da população. Os mais ricos na pior das hipóteses perdem seus carros.

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A ocupação irregular na margem dos rios, nas encostas, nas áreas de risco sempre foram permitidas pelas autoridades. Proibir com regras e destinar essas pessoas a áreas e programas habitacionais custa caro e não dá visibilidade. Dizer que o pobre escolhe onde morar é no mínimo de uma desfaçatez sem tamanho. Pobre mora onde dá. Perto do trabalho, de preferência, para não ter que gastar todo o seu salário se locomovendo. Sobretudo, quando os patrões não querem relevar a falta do empregado em caso de chuvas ou enchentes. Achar que isso é civilização é um absurdo. Isso é o ser humano se manifestando da forma que lhe é mais comum. Quem não age assim é exceção. As cidades crescem dentro desta ótica. 

Os ricos ocupam e mantém seus lugares se defendendo das manifestações da natureza. Os pobres recebem toda a fúria das chuvas. As comunidades não têm atendimento do governo, não têm coleta de lixo e quando tem os lixeiros não vão por causa da violência. Não têm escola que ensinam como viver coletivamente porque não interessa que o povo aprenda. Se aprender vai querer mudar alguma coisa e isso não é bom para eles. Não têm transporte público que atenda aos deslocamentos o que os obriga ou a gastar dinheiro e tempo para chegar em casa ou a mudar para algum lugar perto do trabalho mesmo que seja uma área de risco.

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Fazer o quê, então?

Não tem muito jeito. Só uma verdadeira transformação social e econômica vai conseguir reverter esse quadro. Só uma política voltada para as classes mais pobres é que vai conseguir estabelecer algum movimento de melhoria nessas condições. A política atual, o neoliberalismo a meritocracia e a economia de mercado vai sempre olhar para essa população a caminho do aeroporto indo para Paris ou Nova York. 

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É isso. Não vai ter jeito. Verbas destinadas a essas obras não trazem votos a curto prazo. São decisões e obras políticas, que visam a melhoria de fato das condições de vida, sem efeito espetacular ou votos conseguidos a curto prazo. Mas, a longo prazo pelo menos podem trazer algum progresso e alguma tranquilidade em relação às intempéries. 

Essa é a única solução. O resto é conversa fiada. Prepare sua boia e aguarde a próxima tempestade. 

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