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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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A dificuldade (real) entre Dilma e os empresários

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Passei seis horas na CNI, na semana passada, ouvindo o debate entre os três principais candidatos a presidente e as lideranças do empresariado industrial do país. Aécio Neves foi vitorioso no palmômetro e teve direito a aplausos de pé. Eduardo Campos também foi bastante aplaudido, ainda que, no fim do encontro, seus assessores demonstrassem um certo incômodo porque Aécio gerou mais empolgação. A razão não tem a ver com possíveis diferenças programáticas, que são irrelevantes. A diferença está no Ibope, onde Aécio chega ao triplo das intenções de voto de Eduardo Campos. Capaz de ir além de Aécio na corte ao mercado financeiro, chegando a propor a independência do Banco Central, não havia razão para Campos animar uma platéia de industriais.

Dilma foi recebida com uma boa educação que não serviu para encobrir a frieza dos anfitriões. Se você já ouviu críticas ao temperamento da presidente, a um estilo centralizador e nem sempre afável, convém desconfiar do caráter do argumento.
A causa é acima de tudo política: os empresários receberam os candidatos com 42 propostas de governo e, quando se faz um exame frio de todas elas, descobre-se aquilo que se poderia imaginar. Há propostas de racionalizar a máquina pública, medida que sem dúvida interessa o conjunto da sociedade. Também se fala em ampliar exportações, conquistar mercados, ampliar a oferta de energia – projetos que, sem dúvida alguma, pode trazer vantagens para assalariados e empresários. O tom geral é de fortalecer a industria – preocupação corretíssima. Como lembrou um dos oradores presentes, ela cumpre um papel essencial no progresso de países num patamar de desenvolvimento semelhante ao nosso.

[adrotate banner="4"]Mas, quando o documento vai para o campo das decisões menos genéricas e mais específicas que envolvem os assalariados, a perspectiva é outra. Por caminhos diversos, e linguagem que nem sempre se repete, o que se questiona são ganhos e conquistas obtidas. São propostas que atingem diretamente o bem-estar relativo da base eleitoral de Dilma.

Alguns exemplos. A proposta número 1 fala em “governança para a competitividade”, ideia que será mais esclarecida no item número 6, que fala que a “competitividade de uma economia está fortemente ligada ao custo do trabalho e à produtividade dos trabalhadores” e acrescenta, num tom que serve como advertência: “no Brasil, os custos de mão de obra subiram 58% entre 1996 e 2012.”

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No mesmo ítem, fala-se na “desburocratização da legislação trabalhista” decisão que, como se esclarece no item 7, envolve “regras modernas para melhorar o ambiente de negócios, reduzir os custos das empresas.” Embora o texto acrescente que se quer, também, garantir a “segurança e a saúde dos trabalhadores”, a leitura do ítem 8 se explica pelo título: “terceirização: o imperativo das mudanças.”

No item 9, chamado “negociações coletivas: valorizar para modernizar”, o que se pretende é fortalecer acordos entre empresas e sindicatos, em decisões que podem trazer benefícios para categorais mais organizadas, com entidades mais fortes, mas que acabam prejudicando assalariados com menor poder de barganha. No ítem 12 (título: “Previdência Social: mudara para garantir a sustentabilidade”) alinha-se um conjunto de argumentos para construir a visão de que os gastos com pensões e aposentadorias atingiram um padrão elevado, impedindo projetos “que poderiam elevar a competitividade do país”.

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Ninguém deve cometer o erro de imaginar que o debate de propostas de uma campanha é um retrato fiel daquilo que deve ser feito no governo. Há nuances, mudanças, reformas e negociação de propostas. Mas a campanha serve para colocar uma perspectiva.

A proposta da CNI mostra que a conjuntura política mudou e em 2014 a maioria dos empresários apresenta uma postura oposicionista e levantou a cabeça.
Verdade que eles nunca foram lulistas nem dilmistas – nem em 2002, 2006 ou 2010. Mas o desempenho dos candidatos do PT naqueles pleitos logo deixou claro que os adversários não tinham a menor chance de vitória, estimulando uma postura mais discreta e comedida por parte de quem logo percebeu que seria obrigado, no dia seguinte a contagem dos votos, a discutir assuntos de seu interesse com o governo.

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Em 2014, com 50% dos votos válidos, salários em alta e desemprego no menor patamar, Dilma tem chances pelo menos matemáticas de levar o pleito até no primeiro turno. Se a vida estivesse tão ruim como dizem os jornais, a oposição não estaria com seu pior desempenho em qualquer eleição depois de 2002.

[adrotate banner="4"]Mas a situação política é outra. Os protestos de junho de 2013 mostraram um descontentamento profundo no país. Se é verdade que nenhum governo seria capaz de responder aos grandes dramas nacionais nos meses que faltavam até o pleito, isso não significa que o mau-humor ficará menor depois que se reconhece isso. É preciso dialogar com o descontentamento, responder, explicar.

Boa parte dos fatores que estavam presentes em 2010 – como o crescimento econômico a 5,7%, o Minha Casa Minha Vida a toda velocidade, o consumo de massa no auge – não se repetem quatro anos depois.

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O encontro na CNI mostrou uma oposição inteiramente afável diante dos empresários, muito à vontade nas críticas ao governo. A questão é saber qual postura será capaz de manter na campanha, quando disputa o voto de mais de 100 milhões de eleitores.

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